Lei 1

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"Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal."


Depois que a mulher se dispôs a aceitar todas as condições, o jovem aceitou fazer o teste. Era muito arriscado e poderia colocar a vida do garoto em perigo e, por isso, havia uma série de exigências. Nenhum dos dois pareciam estar pensando corretamente e isso transformava a relação comercial em total instabilidade.

— Você mesma sabe que não está pronto. — Ela assentiu fervorosamente. — Então precisa entender que há riscos.

— Eu entendo. Mas não me importa, só preciso tentar e não deixar que ele parta assim. — Todo o corpo de Saint se quebrou em pedaços ao lembrar da forma que ele deixou sua família partir.

— É, mas não funciona assim. Há uma série de coisas... — Ele suspirou com o olhar frenético da jovem senhora. Entendia que ela não conseguia pensar direito, que seu coração devia estar prestes a sair pela boca e seu raciocínio era falho. E ele estava certo. — Preciso de você calma para poder lhe explicar tudo.

— Eu estou tentando tanto. — O jovem sabia que era verdade, dava pra ver que ela se controlava. Suas mãos apertando uma a outra, suas pernas inquietas e os braços trêmulos provavam isso. Suspirando mais uma vez, Saint puxou uma cadeira e sentou na frente dela.

Nessa hora, ele sentiu o desejo extremo de segurá-la novamente. E foi o que ele fez. Puxando-a pelo seu pulso, ele manteve suas mãos no ar com uma, enquanto as cobriu com a outra. No final, quatro mãos estavam emitindo trocas. A mulher suava frio enquanto o toque de seus dedos aquecia o coração do rapaz, que deixava isso ser expedido pela sua pele.

Fazia anos que o inventor não se sentia tão aconchegado em meio ao corpo de outra pessoa como estava naquele momento. Talvez por ser uma mãe demonstrando o claro amor ao seu filho que o deixava assim, trazendo a falta que ele sentia da dele. Mas ao mesmo tempo, não tinha certeza disso. Algo o deixava confortável e confuso, porém era quase impossível entender.

Naquela mulher, ele via seu próprio desespero, sua adolescência solitária. Esse medo da jovem senhora havia sido dele há alguns anos. Mesmo o passado tendo se perdido em novas memórias e esforços que Saint precisou colocar em sua vida, ele era fácil de ser encontrado. E, envolvendo as mãos daquela mulher enquanto as batidas do seu coração ecoavam na sala vazia, era uma forma de fazer isso.

— Eu vou te ajudar. Só preciso que preste atenção em tudo que eu lhe disser. Ok? — Era a esperança de um sopro de vida que ele estava dando para o garoto, mas para ele havia muito mais do que isso.

— Eu entendo. Vou tentar me acalmar. — Ele sorriu fracamente. A pressão em sua mente envolvia coisas demais para que ele pudesse dar o seu melhor sorriso.

— Primeiro, eu preciso que entenda que isso é um procedimento de alto risco. O protótipo ainda apresenta falhas e não é estável. — A mulher parecia não prestar atenção em nada que ele falava. Mas mesmo assim, ele precisava que tudo ficasse esclarecido. — Segundo, se acontecer qualquer coisa com ele durante o transplante... eu definitivamente não posso me responsabilizar.

— Eu tomo todas as responsabilidades, sobre qualquer assunto. Até com seus professores, eu cuido de tudo. — Desespero saía dos poros dela. Não era por vontade própria, porém era nítido.

— E... terceiro. — Saint quase ignorou a fala da mulher. Ele sabia que ela diria qualquer coisa para agilizar o processo. Até uma pessoa que conhecia muito pouco sobre os seres humanos era capaz de entender isso. — Eu vou precisar aperfeiçoar e fazer a manutenção do modelo com frequência. Ou seja, grande parte dos dias dele precisarão ser comigo e você precisa ser extremamente pontual com todas as datas e horários. Até porque, ele será meu objeto de estudo. Mas lembre-se, ele nunca mais será o mesmo.

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