Lei 3

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"Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ou a Segunda Lei."


— Será que você dirigia tão cautelosamente assim antes do acidente ou é algum mecanismo? — O olhar do jovem era muito mais humano do que qualquer pessoa completamente humana.

— Eu não tenho a menor ideia. E se você também não, como podemos sair disso? — Era incrível a forma com a qual Perth havia se desenvolvido. Suas capacidades eram exatamente iguais a de qualquer pessoa.

O passar dos meses fez com que o garoto enviasse para o mundo externo as mesmas ações que anteriormente fazia. Seus movimentos corporais, fala, tato, visão e audição eram completamente comuns. Mesmo que ainda fosse possível identificar algumas divergências.

— Deixe isso para lá. Sempre será uma incógnita. — Palavras que ele não reconheceria antes do acidente também não eram criadas magicamente em sua memória depois do mesmo.

— O que é isso? — A repreensão por meio dos olhos foi dada para o que dirigia. Mas obviamente, isso não faria diferença, um motorista não poderia ver e um androide não poderia entender.

— Isso o quê? A palavra? — O mais novo só assentiu, com seus olhos que vibravam na rua movimentada. — Mistério. Algo que você não sabe, mas gostaria de saber.

— Algo como a real origem do universo? — O raciocínio chocou o outro, que pensava em algo muito mais próximo à realidade, como a razão de ele ter cedido tão fácil aos encantos do jovem. Não podia ser só pela comida.

— É. Isso também, Nong. — O coração do mais velho batia em um ritmo desconhecido, mas interessante. — Esqueça esse assunto. O que realmente te fez ir até minha casa hoje?

— Minha mãe, eu já disse. —Em um engarrafamento, o mínimo que Saint esperava era o olhar fascinante do mais novo. Porém, seu desvio ao olhar pela janela foi mais do que o suficiente para que o homem notasse que o dono do carro estava mentindo.

Mais um avanço, ele pensava. Porém, diferente do que se poderia pensar, não era a mentira que o deixou com essa sensação e sim o disfarce. A forma com que Perth virou seu rosto rapidamente no carro escuro que apenas refletia as luzes exteriores foi o que realmente lhe chamou a atenção.

— Você não está falando a verdade. — Apesar de ele pensar que esse sentimento jamais iria atingir o outro, o constrangimento chegou como se arrombasse uma porta.

— Claro que estou. Por Buda, como eu mentiria? Eu nem sequer sou capaz disso. — Ele poderia enganar qualquer pessoa, mas não a pessoa que havia construído o cérebro que ele tinha recebido.

— Eu estou vendo que não é. — Sem nenhum som de ironia, a voz do mais velho soava como seda. — Se fosse, não estaria fugindo do meu olhar. Você é um péssimo mentiroso, Nong.

— Ok, ok. Pare de me pressionar. — Saint esticou seu pescoço, ainda buscando uma resposta no olhar de Perth que pudesse satisfazer seus profundos desejos brincalhões.

— Então me diga. Você tem apenas cinco segundos antes que eu exploda seu cérebro com palavras difíceis. — Todas aquelas que o inventor já havia ensinado pareciam ser irrisórias para o mais novo, que sempre se perdia no vasto conhecimento gramatical do primeiro.

— Certo, certo. Não pegue tão pesado. — Era medo que exalava do jovem. Não só pela suposta explosão de seu mecanismo, mas também pela reação que seu exímio companheiro poderia ter. — Eu apenas... não sei... senti sua falta.

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