"Um robô não pode, em hipótese alguma, criar sentimentos afetivos por humanos, pois isso comprometeria a segurança de ambos, indo contra todas as três primeiras leis."
Não havia palavras para que o inventor expressasse o que estava em seu peito. A preocupação e o desconhecimento fizeram questão de bater em sua porta, pronto para incomodar veementemente. No final, o garoto sonolento estava bem atento, olhando para o seu salvador.
— Está tudo bem, Pi? — O mais velho parecia juntar algumas peças em sua cabeça, mas ele não queria acreditar que estava certo.
— Perth, me responda algo agora e eu preciso que você seja sincero. — Os olhos pequenos do mais novo foram se erguendo, juntamente com a cabeça confusa.
— Diga, P'Saint. — A voz era doce e levemente rouca. Talvez algo que despertaria os batimentos mais fortes no mais velho, sendo isso uma coisa que ele desejava ouvir. Mas naquele momento...
— Nong, o que aconteceu com a sua mãe? — Ele havia se lembrado de algumas coisas. Como a mulher poderia saber sobre a situação em que a invenção estava? Como ela poderia saber tanto sobre ele se sua faculdade jamais havia sido divulgada nos jornais? Por qual razão a mulher confiava cegamente nos feitos dele?
— Pi, eu... — Era difícil arrancar qualquer coisa do menino que no momento, se sentou, ficando cara a cara com o inventor.
— Por favor... — A voz mélica de Saint era quase impossível de ser vista. Se alguém além de seus pais e sua cachorrinha haviam visto, era um fato raro na humanidade. Como um eclipse solar. Raramente ocorre, mas quando acontece, definitivamente é lindo e atraente.
10 anos atrás
— Tivemos um óbito recente, em que todos os órgãos estão em ótimas condições. Finalmente, sua mulher vai poder receber o transplante de coração compatível. — O homem que conversava com Phalat apresentava uma voz calma e bondosa. — Mas precisamos que ela se apresente pela manhã para o teste de compatibilidade final e a cirurgia.
Após o telefone com o número do hospital em seu identificador ser desligado, o pai de família sentia seu corpo vibrar como uma cadeira de massagem. Todos os seus músculos estavam se tensionando lentamente, ao contrário do esperado relaxamento. Mas isso não era problema para alguém que havia esperado por tanto tempo.
A felicidade do marido era mais do que um simples momento. Já fazia alguns meses desde que a insuficiência cardíaca de Tui havia a derrubado de uma forma avassaladora. Sua respiração era cada vez mais comprometida e nada poderia ser realizado sem o auxílio do oxigênio.
Eles já se preparavam para o pior e a morte da mulher tinha se tornado como um destino difícil de aceitar. Com um filho de apenas nove anos, saber que estava prestes a partir não era o pior dos sentimentos. Mas para quem iria continuar a vida e fingir que tudo estava bem, isso era dilacerador.
Não demorou até que o homem chegasse em casa e se deparasse com sua esposa e filho na cama do casal. O garoto conversava pacientemente com a mulher, enquanto alguns super-heróis voavam acima de ambos com os pequenos braços escuros do mesmo. A visão de sua mãe tão debilitada e sem condições físicas o assustava.
Desde muito novo, ele havia convivido com a doença da mulher. Porém, a esperança de que herói salvaria a vida da sua mãe, que estava se tornando cada vez mais insustentável, era o que movia todos da família a continuar lutando. Nem sequer um deles aceitaria desistir.
— Tenho uma notícia para vocês. — O mais velho falou, enquanto se sentava na ponta da colcha cinza. Seu sorriso de orelha a orelha denunciava que seus sentimentos eram os melhores.

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Think It's Possible
FanfictionSaint é um estudante de robótica motivado por eventos passados que transformaram sua vida em uma completa confusão. Por alguma razão, ele se vê confrontado em um dilema de ajudar ou não alguém que está exposto à uma situação semelhante a dele. O qua...