Capítulo Cinco

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Dormir não era tão fácil como esperava, três míseros dias tendo o mesmo sonho ou pesadelo, afinal olhos azuis me perseguiam por todos os lados, a silhueta daquela mulher misteriosa me acompanhava cada hora dos meus malditos dias desde o momento que a vi, mas estava decidido, de hoje não passava, é sexta, quase fim de expediente, posso me permitir algum divertimento como mérito pelos êxitos que a empresa vem tendo nesses dias, sorri quando  Cristóvão bateu em minha sala já entrando sorridente como sempre.

- A que devo a honra de ser recebido com um sorriso desse?- O idiota brincou intimidade demais da nisso.

- Não estava sorrindo, não faço essas coisas idiotas você sabe muito bem.

- Diferente do que você acha isso faz tão bem.- Me olhou pensativo.

- O que você quer? Já te pago muito bem, não estou devendo nenhum honorário pra você e muito menos estou precisando de sua ajuda para algo.

- Não é nada disso.- Sorriu tímido.- Queria te pedir uma coisa emprestada e aliás já estou acostumado com seu tratamento vip para com a minha pessoa, não vives sem mim.- Sorriu me olhando ainda desconfiado.

- Minhas gravatas você sabe que eu tenho ciúme, já te dei algumas de presente pelo que me lembre, parecidas demais com as que tenho.

- Eu sei, mas não é isso, é algo que realmente deveria, mas não vai fazer diferença pra você.

- Fala logo, já está acabando o dia e preciso sair urgente tenho coisas pra resolver.

- Eu queria que você permitisse eu sair com a Dulce, ela gosta tanto da Fátima..- O interrompi.

- Já disse que pode buscar a menina quando quiser, não me importo. Afinal, ela interage mais com vocês do que comigo que sou seu próprio pai.

— Mas você parou pra pensar que é você que não dá esse espaço para ela? Crianças precisam de interação Gustavo.

— Não estamos falando de mim. Certo! — fui rude. Não suporto as pessoas jogarem em minha cara a forma que tenho tratado a minha filha. Eu sei o que faço.

— Já não está mais aqui quem falou. Só espero que quando você perceber não seja tarde.

— Sem sermão agora. Quando quiserem podem ir buscar a Dulce. Agora saia e me deixe trabalhar.

- Eu devolvo ela no domingo a noite.

- Se quiser pode ficar com ela até semana que vem.- Disse com desdém.

- Como eu queria que você enxergasse o que tem perdido, a filha maravilhosa que tem.- Disse e saiu.

Cristóvão me deixou a sós com meus pensamentos. "Como eu queria que você a enxergasse" essa é a frase que eu mais ouço durante esses anos. Na verdade a frase campeã é "a menina não tem culpa". Só que de uma coisa eles não entendem. Eu não consigo controlar o que sinto. É raiva, angústia. Toda vez que olho para essa menina ela me lembra quem me fez sofrer. Sei que deveria ser mais fácil e eu jamais deveria fazer isso com ela, a pessoa que tanto me ama, mas esse sou eu e acredito que nada mude isso.
Fiquei com meus trabalhos por mais um tempo, até perceber que a escuridão iria começar a tomar conta, não era mais dia o fim de semana chegou e estava satisfeito por isso, liguei mais cedo para a Priscila informando que a Dulce seria pega pelo Cristóvão, mesmo ela achando minha atitude de deixar a Dulce de lado, nunca fui irresponsável ao ponto de deixar ela a toa, ligava para saber como estava, mesmo que a mesma me respondesse meio que seco, nada de julgamentos, eu também a trato igual, nada de beijos ou abraços, despedidas ou orações antes de dormir, repudio tudo o que a Cecília fazia.
E hoje terei mais uma oportunidade de ver aquela mulher. E eu não vou sossegar enquanto não à ter para mim.
Cheguei na boate e a mesma já estava cheia. O movimento era intenso parecia que algo de especial estava prestes a acontecer. O clima estava diferente e bem festivo.

— Olha só o carinha aqui de novo — o rapaz dá noite anterior se aproximou de mim. — veio prestigiar a incrível performance?

- Que performance?- Perguntei curioso.- Dia de festa?

- Hoje é sexta cara, é dia dela arrasar.

- Não estou entendendo..- Não tive tempo de terminar, porque as luzes se apagaram, focando apenas no palco e no pole dance ainda vazio, uma música suave começou a tocar as outras meninas dançavam na parte de baixo atraindo a atenção de alguns, acredito que na metade da música ela surgiu, todos pararam para ver a graciosidade dela.

— Ela é a melhor cara! Não importa quanto tentem imitar-lá— o rapaz ao meu lado olhava para ela com luxúria. — E essa fantasia coladinha a deixa ainda mais sexy.

Não só era ele que falava essas coisas "que gostosa!" "Maravilhosa" "que perfeição" essas eram as palavras proferidas por todo o salão. Eles não estavam mentindo. Mas ouvir tudo aquilo dá boca deles me causavam desconforto. Eu não conseguia entender o porquê. Talvez seja o motivo de querer ter ela em meus braços essa noite e saber que todos eles querem o mesmo que eu a concorrência se torna bem maior.
A mascarada e o pole dance pareciam um só. Ela dominava aquele palco com sua presença e desenvoltura. A sua sensualidade causava ainda mais alvoroço nos homens, muitos tentavam passar a mão em seu corpo. Eu também não poderia perder essa oportunidade. Me aproximei um pouco mais do palco foi quando o meu olhar se encontrou ao dela.

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