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E o sinal tocou-
todos saíram da sala em silencio, fui o último a sair, Henrique se dirigiu a mim:
-- Théo, parabéns pelo trabalho, realmente muito reflexivo. -disse com voz serena, enquanto
olhava em meus olhos-
-- obrigado Henrique, mas faltou responder uma de suas perguntas, infelizmente não deu tempo.
- Sério? Qual? – ele perguntou intrigado.
- Para onde a humanidade está indo. -Respondi
enquanto pegava minhas coisas para ir embora.
- E você chegou a uma resposta? - Ele estava
tentando puxar assunto, de alguma forma ele queria conversar.

- Sim. Cheguei a uma conclusão. Respondi
enquanto me retirava da sala.
- Me diz sua conclusão. Ele pediu enquanto desligava os ventiladores e apagava as luzes.
Então ele fechou a porta e nos dirigimos a saída.
Respirei, olhei ele de cima a baixo e fitei no fundo de seus olhos, aquele olhar transmitia
uma solidão e uma curiosidade. Era como se fosse olhos de crianças e idosos ao mesmo
tempo.
- Henrique, a humanidade está caminhando para
o fim. É obvio, mas é a verdade. Somos poetas,
pois somos solitários, vivemos em um mundo de
instantes, um mundo momentâneo, cheio de
pessoas vazias, cheio de pessoas boas e ruins.
Claramente temos chance de salvar a humanidade, mas para isso, temos que ter
coragem. Creio que os únicos que podem salvar a humanidade são os professores. O futuro da
nação, do mudo, do universo está em suas mãos.

- Theo, porque o mundo está nas mãos dos professores? Como nos podemos mudar o mundo? – ele perguntou com pesar na voz-
- Creio que vocês não podem mudar, mas já mudam o mundo. Sem vocês o mundo não teria
médicos, bombeiros, presidentes, gênios... sem vocês não teríamos civilizações. E quando você,
Henrique, entra na sala e compartilha conosco o
pouco que tem, você está inspirando vidas e salvando vidas. Joice, Marcos, Cristiane, cada um de vocês, só vocês. A vida é uma bolha de sabão,
o universo e o mundo, são galerias de arte. E além de vocês serem arte e bolhas, vocês
também não criadores, vocês são tintas, tela, água e sabão. Sem vocês não existiria mundo,
não existiria prédios, casas, escolas, livros. Não existiria nada. A humanidade só vai se salvar quando compreenderem quem vocês são e para
isso, vocês têm que vestir a camisa e descobrirem seu próprio valor.
Desculpe Henrique tenho que ir. Bom recesso.
Até daqui duas semanas. – Dizendo isso, apertei a mão dele, joguei o skate no chão, subi e fui para casa. Deixando-o refletir, deixando-o frente a escola. Vi que ele entrou em seu carro e
foi pra casa.
Quando cheguei em casa, disse oi para minha mãe, falei sobre o trabalho, almoçamos juntos e
fui para meu quarto na intenção de jogar vídeo game. Mas antes, organizei aquela bagunça.
Minha cama fica no canto direito perto da janela, bem abaixo da janela fica um pequeno
móvel que uso para desenhar, neste móvel,
deixo meus materiais de desenho. No canto
oposto à minha cama, fica meus guardas roupas e acima de minha cama, minhas prateleiras com meus livros, perto dos guarda roupas fica meu
computador, onde escrevo e jogo. Nos cantos da parede deixo meu violão e guitarra. E bem ao
centro do quarto, tem um tapete redondo.
Joguei a tarde quase toda. No restante do recesso li alguns livros, escrevi, desenhei e
compus músicas. Fora isso, sai com meus amigos, aproveitei meus pais e os pequenos
momentos que passei com quem amo, afinal é isso que importa. Mas havia uma coisa que eu não consegui fazer:
tirar aquela apresentação da cabeça. E aquele olhar de Henrique, mas não tinha muito a fazer.

O recesso acabou rápido.

Não dormi mais em nenhuma aula, nem tive sonhos loucos com os deuses, afinal, agora eu
havia conseguido todas as respostas.
Quando a sexta chegou, ansiava pela ultima aula. Então quando Henrique entrou na sala,
pude ver que ele estava diferente, parecia mais
feliz, ele fez algo que eu não esperava:
-Bom dia turma. Disse com uma voz animada,
que transmitia segurança e satisfação
- Bom dia! -respondemos com reciprocidade-
- Como foi o recesso de vocês? -alguns
responderam outros apenas acenaram com a cabeça, dando a compreender que havia sido bom. - Henrique pegou o pincel atômico, e escreveu na lousa “O QUE É UMA BOLHA DE
SABÃO” fazendo trocadilho com meu trabalho, então ele me olhou e piscou com o olho direito,
dando um sorriso raso.
Acho que mesmo sem querer acabei mudando a
vida de alguém, pelo simples fato de ter me permitido olhar pela janela do ônibus. O que
vocês não sabem, é que naquele dia eu vi muito mais que bolhas de sabão, vi pessoas sorrindo, vi o por do sol, vi o cair da noite, vi estrelas, vi a vida na simplicidade de uma bolha de sabão e no sorriso de uma criança. Isso me trouxe
respostas. Me trouxe a certeza da resposta mais difícil e mais simples do mundo: O QUE É A
VIDA?
Uma pergunta retórica cheia de respostas distintas, vi colegas comparando a vida com
várias coisas: músicas infantis, viagens, jogos de azar, jogos de futebol, livros, sonhos, matrizes, projeções..., mas no final, todos tinham o mesmo intuito; a morte. A cada resposta chegava à conclusão de que eu estava louco, talvez eu estivesse. Mas vou contar um segredo para vocês. A loucura e a genialidade são faces da mesma moeda. E isso me fez descobrir que a vida é uma bolha de sabão, uma pequena metáfora para dizer que; a vida é uma distração do evento inevitável que é a morte. Isso me trouxe muitas outas respostas, e tudo que eu precisei fazer foi olhar pela janela do ônibus e
observar crianças na praça.
Quanto a outra pergunta: o que você sabe sobre você, além daquilo que está no sistema? Bom, ela só você poderá responder. Não estou tão
louco assim.

-e o sinal tocou- ...

Depois de amanhã Onde histórias criam vida. Descubra agora