4

5 2 0
                                    

Naquele momento, decidi afrontar Henrique.
Ele estava me analisando, de alguma forma que me senti intimidado e impressionado. Então respirei fundo, controlando meu nervosismo e
então disse:
-- Henrique, quando você decidiu ser professor? Como você faz seu nome diariamente? Como
sua família reagiu quando você anunciou que seria O Professor Henrique? Como sua bolha foi
soprada desde então? Henrique de 10 anos, sentiria orgulho de você hoje? Quem é Henrique?
Naquela hora, Henrique paralisou, ficou pensativo e por um momento acho que ele
estava começando a compreender a tese, depois
de alguns momentos de reflexão ele finalmente respondeu.

- Théo, essas perguntas são realmente
necessárias? Estou começando a achar que você não fez o trabalho.

-- Henrique, confie em mim, é necessário sim. Tem 15 minutos que restou tentando desenvolver o trabalho e você fica desconfiado e duvidando. Você só vai compreender se me acompanhar e tentar. - Respondi chateado -

- Tudo bem Théo, desculpe-me.
Bom, Théo, não me lembro ao certo quando escolhi ser professor, para te ser sincero essa pergunta é intrigante. Creio que foi a profissão que me escolheu. Quando eu tinha sua idade, meu sonho era outro, nunca passou na minha
cabeça ser docente. Mas tudo mudou quando entrei na faculdade de direito, realmente não me adaptei, não me via sendo advogado ou algo
da área. Porém, sempre fui questionador, então
resolvi visitar o Campus de filosofia, sinceramente ali me apaixonei, tranquei o
direito e comecei a cursar filosofia. Minha criação foi bem padronizada, meus pais
queriam um filho advogado, médico ou engenheiro, mas não era o que eu queria, acabei por causar revoltas quando falei que queria ser professor. Lembro bem que meu pai falou:
"Henrique virou vagabundo, não sabe o que quer da vida, será um fracassado"
Essas palavras entraram em minha mente e sinceramente vivo com o peso de não orgulhar eles em minha vida profissional.
Para falar a verdade, não sei muito sobre mim, sou apenas um professor de filosofia que se acha falho profissionalmente, não acho que Henrique
de 10 anos sentiria orgulho, aquele menino queria mudar o mundo e hoje – ele suspirou-
Bom, Professor Henrique é um homem que eu desconheço. Esse status de Professor é pesado,
parece que vocês apenas me suportam, prefiro que se refiram a mim por meu nome, ele é
único, e é tudo que tenho. Não sei ao certo o que dizer, não sei como minha bolha foi soprada, mas é complicado manter ela voando, temo que ela estoure rápido, temo que o meu nome caia no esquecimento. Eu entro na sala, dou aula e saio.
Mal olho pra vocês e me sinto
culpado por não inspirar ou apenas ser uma referência. Tenho dois cargos: cada um, são mais ou menos 16 turmas, 35 estudantes por aula, 1 aula por semana. E a cada aula aprendo um pouco mais, mas não consigo simplesmente me entregar ou vestir a camisa de PROFESSOR, esse status, parece não me
pertencer.
Após dizer isso, Henrique ficou com um semblante triste, respirou fundo e pediu para
que eu prosseguisse com a explicação, então atendi a seu pedido.

- Pois bem, durante nossa jornada, nossa bolha
vai se juntar com outras, isso forma nossa
sociedade, nossas ideologias, nossos posicionamentos. Quando você diz que aprende conosco, significa que sua bolha se choca com a nossa. trazendo para um meio artístico, se no início nossa bolha é soprada em branco, ou em azul; hoje nossa bolha esta completamente
pintada, colorida.
Pois tudo que temos e que somos em todos os âmbitos, são resultados de experiencias
que tivemos durante nossa vida, e isso, só foi possível, quando começamos a nos socializar,
conviver e nos permitir aprender com o próximo. A vida também é arte, mas neste quadro, nós somos os artistas, neste sentido
podemos dizer que a sociedade, o mundo, o universo; não passam de uma enorme galeria de arte.

- Percebi que Henrique estava me fitando, assim como o resto da turma, pela primeira vez
naquele semestre, a sala inteira estava atenta.
Me senti responsável por cada palavra e comecei a sentir o peso de cada uma delas, em um sentido, de que agora, eu era o transmissor de conhecimento. Então, senti o gostinho do que é
ser um professor e confesso, fiquei apavorado, mas ao mesmo tempo apaixonado e fascinado -

- Théo, então quer dizer que a definição de vida
é relativa? – disse Beatriz. Bia era uma mulher muito inteligente, uma de minhas melhores
amigas. Seus olhos escondiam segredos e transmitiam uma mistura de sentimentos
distintos. Seu questionamento me fez hesitar, mas já tinha a resposta.

- Talvez. Entre o talvez podemos matar e morrer.
A vida não tem uma definição certa – ELA É O QUE É - parece obvio, e realmente é. Mas o
obvio é sempre questionado pela humanidade.
Mas creio que não seja a resposta que você esteja esperando. Mas calma, durante a realização desta tese, cheguei à definição exata
do que é a vida. A VIDA É UMA PEQUENA DISTRAÇÃO DA MORTE.
- ãn? Como assim? – murmurou a turma.

- Calma gente. Não estou ficando louco (eu estava completamente louco), a vida é breve
como a infância, frágil como uma bolha de sabão e momentânea como a arte. Mas não importa o
tempo você viva, pode ser 18, 19, 66, 90, 110 anos. O final é o mesmo, a morte. A única coisa que realmente vai mudar é a maneira com que você irá alcançar a felicidade; a maneira com que você irá passar e marcar a vida de outras
pessoas e como você vai se distrair do evento inevitável que é a morte.
Quando vivemos conscientes de que vamos morrer, vivemos melhor. E quando nos
prendemos a este fato, apenas sobrevivemos. Por isso afirmo que a vida, é uma pequena
distração da morte. E como você tem se distraído?
Vi que o final da aula se aproximava, e ali, me
atentei a um detalhe que já havia me esquecido, acho que todos haviam, afinal, Joice se despediu com “até segunda”. Mas aquela era a última aula, de uma sexta. Mas não era só isso, aquela
era a última aula do primeiro semestre. – Voltei
a realidade após me lembrar deste detalhe.
Então resolvi dar as últimas considerações.

Henrique ainda estava, pensativo e estranho.
Mas a verdade era que Henrique finalmente havia me dado uma chance, finalmente tinha se entregado. Eu estava feliz, assustado e orgulhoso de mim. Mas eu tinha que dar as
considerações finais.
Faltam apenas 15 minutos
para o fim do horário.
- Gente, isso é a vida e a loucura de um jovem de 17 anos. A vida, o mundo o universo... tudo se
resume em bolhas de sabão. Em tintas e em música; em distrações, em aproveitar seu
pequeno espaço de tempo e uma imensidão de oportunidades. Tudo se resume em ser você
mesmo. Em fazer as escolhas certas, em escolher ser feliz. O hoje você viveu, e então reflita: como você viveu hoje? O ontem foi um dia a menos e ao mesmo tempo um dia a mais.
O amanhã, pode ser planejado, pois temos a esperança de que o sol vai se levantar e um novo
dia vai raiar. Mas, e se o amanhã não vier?
E mesmo se vir, como vive-lo? E mesmo se o amanha chegar para você, você já parou para
pensar como será um dia, dois, três, um mês depois de amanhã? Este é o ponto. Se esse mês
não chegar, se essa noite não se levantar, como você se distraiu e distraiu outras pessoas? Quem
é você? este é o sentindo de vivermos. Pois no final, tudo se resolve em como seremos
lembrados. Tudo se resume em bolhas de sabão.

Depois de amanhã Onde histórias criam vida. Descubra agora