tempestade e bonança

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O vento circulava suavemente, assobiando entre as árvores,  a lua resplendia dentre as nuvens. A sua luz pairava sobre um belo jardim que transbordava serenidade e vitalidade, sobre a iluminação da lua estavam bancos dispersos pelo jardim.

—Você não acho que tem algo estranho acontecendo? — Sentada sobre um dos bancos uma mulher de cabelos longos e olhar profundo falou enquanto olhava para os peixes nadando dentro de uma fonte. — Recentemente o número de óbitos aqui está aumentando à um ritmo alarmante, e o pior é que até mesmo os pacientes que estavam recuperando a um bom ritmo acabaram morrendo repentinamente.

—Então você acha que tem alguém um assassino em série por aqui? — No mesmo banco estava um outra mulher usando o uniforme de enfermeira, ela olhava para Clarice com as sobrancelhas levemente arqueadas, claramente achando que a mesma estava sendo paranóica. — Você e as suas paranóias novamente.

—guarde o seu desdém, porque eu acho que sei quem pode ser a pessoa. — Clarice tinha as duas mãos entrelaçadas de forma firme, podia se notar o nervosismo somente pelo fato dela batucando o chão com a ponta dos pés. —Um dos pacientes que eu estava acompanhando morreu na semana passada, mas se fores ler os relatórios dele verás que não tinha como ele ter um morrido por causas naturais.

—Então só por isso você já encontrou o culpado? — A sobrancelhas da estavam ainda mais arqueadas, o seu cabelo deslizava levemente sobre o vento que massageava levemente o seu rosto desprotegido. —Se não for isso você pode ser processada, será uma acusação muito séria.

—Você acha que eu sou estúpida? Num momento como esse a última coisa que eu preciso é uma pessoa que me critique. — O seu rosto refletia várias emoções mas frustração era aquela que ela mais sentia no momento. —Estou indo para casa.

—Espera! — A enfermeira segurou o braço de Clarice enquanto olhava um pouco perturbada. —Pode falar, desculpa ter sido insensível.

—Já não estou com a mentalidade certa para isso. —Os olhos de Clarice estavam prestes a transbordar, ela fazia o possível para segurar as lágrimas enquanto olhava para a lua. —Estou cansada, adeus.

—Clarice, Eu... — Ela só conseguia ver a Clarice se distanciando a cada minuto enquanto passava a mão no rosto, tentando enxugar as suas lágrimas. Se Azazel estivesse presenciando a cena ele teria reconhecido a pessoa, pois foi a primeira pessoa que ele viu quando acordou. — Deixa que eu te levo para casa.

A enfermeira Coelho levantou apressada e segui a Clarice que já ia em direção ao estacionamento, no caminho estavam vários grupos alguns choravam pela perda de um ente querido, outros olhavam para a lua pensativos pois esse seria o último dia entre os vivos. O lindo jardim era irrigado por lágrimas e sofrimento, a lua brilhava insensatamente mas a sua luz não alcançava aqueles que só conseguiam encher a escuridão que é o abismo da morte.

Clarice estava num turbilhão de emoções, a sua visão não estava clara devido as lágrimas que se formavam em seus olhos. Ela chorava não por tristeza mas sim por frustração, pois até mesmo a sua melhor amiga não acreditou nas suas palavras nem sequer por um instante. Mas Clarice recordava vívidamente quando ela viu algo estranho numa noite quando ia despedir um dos seus pacientes, pois ela estava um dos médicos mais renomados do hospital porém a sua aparência estava absurdamente transformada isso devido ao facto da pele dele estar totalmente pálida, parecendo um vulto e os seus olhos totalmente brancos. Clarice ainda sonhava com aquela aparência pois até mesmo os cabelos negros dele estavam grisalhos, mas isso foi só o começo da noite mais aterrado na vida da Clarice pois a ação do médico lhe deixou pasmada pois ele parecia ter sugado a energia do paciente como se estivesse aspirando. Naquela noite ela sabia que se fizesse qualquer barulho poderia significar a sua morte, por isso ela trancou-se silenciosamente dentro de uma sala enquanto chorava abraçado os joelhos.

—Ei, Clarice espera aí! — A enfermeira chamava a amiga que ainda estava em devaneios, lembrando a noite que seria o começo de uma vida nada convencional. A enfermeira Coelho chamava aumentando a voz mas de nada resultava, pois a Clarice percebia que ela não sabia mais o que era a realidade pois ela presenciou algo que deveria ser nada mais que um mito. —Porquê você está fugindo de mim? —A Coelho finalmente alcançara a Clarice que mesmo tendo o braço puxado ainda murmurava em transe.

—Ah, que foi?— Clarice olhava para a Coelho que estava ofegante e olhando para ela como se fosse uma louca. Pela primeira vez na vida Clarice sentiu um calafrio devido ao toque da Coelho que sempre foi sua amiga, fazendo com que ela soltasse o braço rapidamente e tocasse-o subconscientemente. —Eu disse que estou cansada e que tenho que descansar.

—Ouve Clarice, desculpa eu sei que fui insensível. —Coelho olhava para Clarice com cautela e falava com restrição. —Será que eu posso te acompanhar, você não está em condições de conduzir.

—Não precisa, você ainda tem que terminar o turno. — Clarice falou enquanto procurava as chaves do carro na sua bolsa.

—Deixa disso, como é que eu posso te abandonar assim. — Ela contou insistindo até que a Clarice cedesse as suas sugestões, e assim elas foram juntas para casa da Clarice que era ficava a algumas avenidas do hospital. —Você pode me dizer o que aconteceu? Para você dizer que deve ter alguém matando os pacientes?

—Deixa para lá, você não iria acreditar. — Clarice falou de forma seria enquanto olhava pela janela do carro, e via varias pessoas seguindo vários destinos. Ela seria tristemente pensando que se ela não tivesse vontade de despedir o paciente nada disso teria sido dessa maneira, ela ainda teria ido ao seu encontrou e mais importante não teria começado a ter os pesadelos que impediam o seu sono. Nesse momento vendo as pessoas sorrindo nas ruas e conversando ela percebeu que a ignorância é realmente uma benção.

—Clarice Alice Percy, para com o melodrama e me diz o que aconteceu, eu estou realmente preocupada contigo. — A sua amiga olhava para o volante enquanto falava, mas a Clarice sabia que ela estava claramente preocupada com ela. Mas ela não entendia o porquê de ter sentido aquele calafrio quando a Coelho segurou o seu braço. —Talvez tenha sido imaginação. —Ela murmurou entre os dentes.

—Você promete que não vai contar para ninguém? — Ela hesitava enquanto falava pois se alguém ouvisse a sua estória poderia claramente dizer que não se passava de uma alucinação devido ao desgaste psicológico, mas ela sabia que o que aconteceu era a maior realidade que ela presenciou na vida. —Eu também acho que você vai me colocar no manicômio por isso. —Novamente Clarice sorria tristemente enquanto murmurava olhando ainda para a janela do carro, que estava embaçada pelo sua respiração.

—Pode me contar, mesmo se tu dizeres que saiu um demônio do inferno ou a morte em pessoa eu vou acreditar em ti. —Clarice sorriu alegremente pela primeira vez desde o incidente, os seus olhos verdes finalmente transmitiam alguns traços de luz. Ela olhou novamente para a sua amiga, que falou de forma orgulhosa e encorajadora. —Então fique a vontade, pode falar.

—Está bem, mas a estória é descomunal. —Clarice começou contando primeiramente sobre o estado do paciente, até os mínimos detalhes não deixaram de ser incluídos na sua narração. Ela inconscientemente narrou a estória sem deixar nada de lado pois não tinha confiança em sua amiga, pois qualquer um teria dificuldades em acreditar nisso. Mas antes dela terminar a estória eles chegaram na casa da Clarice que interrompeu a estória para que elas pudessem entrar e se acomodar, mas Clarice percebeu que a mancha no vidro havia desaparecido porém não deu importação pois era algo normal. Mas a realidade era que todos os vidros do carro estavam embarcados pois até mesmo uma gota de água deslizando sobre o retrovisor desenhava uma linha sobre o vidro.
—Então deixa eu trazer um vinho para eu terminar sobre o assunto.

—Não precisa terminar, parece que você sabe mais do que devia. —A voz da enfermeira Coelho estava mais agressiva e assustadora, devido a essa mudança Clarice virou para olhar para a sua amiga e percebeu que não era só a voz mas até a aparência dela estava mudando lentamente. —Parece que a sua história acaba aqui, querida amiga. —Um sorriso sinistro e aterrador apareceu pela primeira vez no rosto da Coelho.

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⏰ Última atualização: Jul 07, 2022 ⏰

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