Capítulo 01 - Serenata de um Romeu Apaixonado

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César é um vaqueiro apaixonado
Namora há exatos dois anos com a "Moreninha" após ler o romance de Joaquim de Manoel de Macêdo, pela primeira vez, debaixo de um pé de umbuzeiro, atribuía as qualidades de Carolina a personagem, em sua namorada.
Astuta, e muito bela. Sempre andava com o cabelo em uma trança, onde sorri de forma maravilhosa e César se deleitava com tamanha graça.
Mas Inocência Maria da Cruz, a namorada de César, precisou se mudar da cidadezinha onde moravam para estudar em São Paulo, ganhou uma bolsa de estudos, e não podia deixar essa oportunidade passar, e César, apoiava Inocência em tudo que fosse possível.
Eu os conhecia bem, eram um casal que se combinavam, havia amor em ambas as partes e estavam muito felizes com a data do noivado que se aproximava, as famílias eram próximas.
Lembro-me como hoje, do dia em que um vaqueiro com apenas o ensino médio, lia romances que furtava da estante da namorada, e gostava de cantar comprou um piano. Um instrumento musical caro, e muito distante da realidade de César, mas como um menino teimoso que sempre foi, conseguiu arrebatar um usado em um leilão de móveis clássicos, que ocorria duas vezes ao ano em sua cidade.
Só eu e Dona Crispina sabemos o quanto César economizou para comprar o instrumento, fazia horas extras durante a noite, se privou da cerveja com os amigos e o churrasquinho aos domingos para conseguir comprar o piano. Enquanto isso Inocência dividia o aluguel com uma prima, e sempre conversava com César via Whatsapp.

Certa vez o questionei em relação ao piano.

- César, pra que você comprou um piano se nem sabe tocar? - me olhou de relance com um sorrisinho, e respondeu.

- Sei mermo não, mas aprendo com o yutube, se aprende tudo lá.

Apesar de ser um leitor voraz, e escrever muitíssimo bem, César não abandonou alguns vícios de linguagem, não gosta de "falar difícil" igual nos livros para segundo ele não acabar confundindo a cabeça de sua mãe. Ele é uma daquelas pessoas boas e puras que ainda se pode contar aos dedos. Sua rotina é bem típica, leva o gado pra pastar todas as manhãs cuida de cavalos e até conversa com eles.

- Sabe essa mocinha aqui? A Florbella? - disse César apontando pra uma égua prenha. - Todas as vezes que chego, a bichinha relincha três vezes.

- Ela só faz isso com você?

- Sim.

Numa manhã fria de julho, César acordou mais cedo que o comum, pegou sua caminhonete e caiu na estrada. Atrás de Inocência, que faria aniversário e ele queria fazer uma surpresa para ela, por isso comprou o piano. Sua amada amava música clássica, ouvia Mozart, Beethoven. Levou duas semanas sem dormir assistindo aulas no YouTube para aprender a tocar, e finalmente quando viu que já estava preparado, partiu pra São Paulo.
Com o piano na caminhonete sabia que teria três dias de viagem pela frente. Fazia muitos planos, até de tentar um trabalho lá, para assim ficar mais próximo de Inocência. Os dois sofriam com a distância, pois namoravam desde que estudavam no Colégio, e esses foram os seis meses mais longos e sofridos para César. Por isso que a decisão de mudança, já estava certa em seus pensamentos. Quando os dois conversavam via chamada de vídeo, ele via uma janela ao lado do guarda-roupa dela, a partir daí teve a ideia de comprar o piano ensaiar uma música e tocar para ela no dia do seu aniversário, o primeiro dia de viagem foi tranquilo, dirigiu parou só pra comer e dormir, mas no dia seguinte houve um problema com motor da caminhonete, o que o impossibilitava de alcançar seu objetivo. Ficou tentando arrumar seu automóvel, mas foi em vão. Decidiu que teria que seguir em frente, afinal a meta seria chegar em São Paulo no dia do aniversário de Inocência.
Ficou horas na estrada, com o piano. Carros passavam, crianças e adolescentes e César estava lá num ponto distante de uma estrada de pedra com uma caminhonete sem vida, e um piano ao lado. Era no mínimo curioso e interessante a cena vista de longe, mas ninguém se aproximava para questiona-lo ou ajuda-lo. Só depois de muitas horas, depois que sol já havia transformado a pele clara de César em um vermelhidão horrível, um caminhoneiro já idoso, que viajava com uma neta, se aproximou do jovem rapaz com a intenção de ajuda-lo.

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