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— Aline, pelo amor de Deus! — a mulher de voz aguda gritou e jogou os braços para cima. — Dá pra alguém desligar essa droga dessa música?

Estranhei e peguei o controle, obedecendo o pedido raivoso. Aline, com as mãos de cada lado do meu quadril, bufou, frustrada.

— Você precisa parar de acabar com a minha diversão, irmãzinha. Sério. Já está chato.

Olhei de uma para a outra, procurando qualquer semelhança, mas não encontrei nada. A mulher sentada debaixo de mim tinha o cabelo curto, loiro, liso, rosto arredondado e nariz arrebitado. A que estava de pé perto da porta tinha longos cabelos negros ondulados e, quando finalmente achou o interruptor perto da porta, consegui ver que seu rosto não era exatamente o de uma modelo fotográfica como o irmã. Seus olhos eram um pouco separados demais, os lábios finos, rosto ovalado e maçãs proeminentes. Ela era bonita, sem desse jeito modelete que estava acostumado.

— Aline, você vai casar em dois dias, tira a mão desse cara! — gritou, e comecei a me afastar.

Eu que não ia ficar no meio de briga de irmãs.

— Exatamente! — Aline respondeu, esticando as sílabas como se estivesse falando com uma criança idiota. Mordi a boca para segurar a risada pela cara de irritação da outra. — Eu vou ver o mesmo pau na minha frente para o resto da vida, mereço me divertir um pouco, vai. Júlia, por favor.

A morena — Júlia — passou a mão no rosto e suspirou.

— O Thiago não vai te perdoar de outra traição, Aline — falou, baixo, olhando para a outra. — Não é possível que eu esteja mais preocupada com o seu relacionamento que você. Só me espera no carro, Aline. Seu noivo já me ligou não sei quantas vezes e não quero mais mentir para ele.

Dei mais alguns passos para trás. Era isso. Isso aqui. Exatamente esse tipo de coisa que me tirava do sério. Odiava me sentir sujo. Odiava quando reduziam o que eu faço a uma justificativa para traição.

Aline obedeceu, emburrada, dando-me uma última olhada e murmurando um "me liga" antes de sair do quarto. Demorei alguns segundos para processar que a irmã continuava ali.

— Posso te ajudar em alguma coisa? — perguntei, irritado. — Ou você só vai ficar aí apreciando minha beleza?

Não sei o que esperava que ela me desse de resposta, mas definitivamente não esperava a explosão que veio a seguir.

— Você não me irrita não — rosna. — Meu dia já foi um inferno na Terra e eu estou a ponto de dar na cara de alguém. Não me tenta!

Inclinei a cabeça e deixei um sorriso crescer no meu rosto. Quanto fogo. Ergui as mãos, declarando derrota, e ela passou a mão no cabelo, nervosa.

— Desculpa, é só... Aline me tira do sério às vezes. Deus, eu amo minha irmã, mas ela faz cada cagada. Você acredita que...

— Olha, Júlia, se você quiser que eu dê uma rebolada na sua frente, isso eu posso fazer. Mas o que vocês contrataram aqui realmente não inclui serviço de psicólogo.

A mulher ergueu a sobrancelha e inclinou a cabeça.

— A cuequinha de couro está apertada? — perguntou, apontando na minha direção. O celular dela tocou e a mulher levou a mão até o bolso do short curtinho, bufando e enfiando-o de volta no bolso. Não acho que tenha notado o sorriso deliciado que cresceu no meu rosto, porque recostou na parede e fechou os olhos. — Será que dá para você ficar quietinho por dois minutos, só para eu me esconder aqui por um tempo?

Comecei a andar na sua direção, meio hipnotizado, sem saber direito pelo que.

— Está fugindo da sua irmã? — perguntei, tomando meu tempo para analisar seu corpo pela primeira vez. Definitivamente ela e Aline não se pareciam em nada. A loira parecia saída de um catálogo de academia, enquanto a mulher na minha frente exibia um corpo nada extraordinário.

MATHEUSOnde histórias criam vida. Descubra agora