15 - d o n 't j u m p

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Capítulo Quinze.

                                                                                                                                                   The eyes of the city
Are counting the tears falling down
Each one a promise
Of everything you never found
Tokio Hotel – Don't Jump

O meu corpo encontrava-se completamente gelado. Os meus pés, descobertos e molhados devidos às poças de água criadas pelas chuvas torrenciais, encontravam-se também enregelados. Os meus braços nus tremiam, abraçando-me a mim própria para tentar resistir ao frio. A única peça de roupa que usava naquele momento era apenas uma camisa de dormir... a mesma que usara na noite anterior. Tentei mover-me, porém, sem sucesso. Talvez fosse o receio de eu não me encontrar num sonho, talvez isto fosse real e eu subi para o telhado da casa durante o meu sono. Abanando a cabeça afastei esses pensamentos. Teria de ser um sonho. Removendo o meu olhar dos meus pés, foquei-me no manto breu que se estendia à minha frente. As estrelas não brilhavam nesta noite gelada, apenas nuvens tão escuras como o céu permaneciam, ameaçando libertar mais chuva de novo. Relâmpagos foram ouvidos na distância, mas não os testemunhara. Movendo o meu olhar em torno do meu corpo, a cidade encontrava-se silenciosa. Porque me encontrava aqui? Porque não estava na minha cama a descansar?

Um suspiro tremido libertou também o dióxido de carbono para o ar gelado que me rodeava, criando uma pequena nuvem de calor que desvaneceu em segundos. Não existia nada para além do silêncio e o meu respirar pesado que também se tornava parte da pequena cidade de Bradford. Conseguia sentir o meu corpo a estremecer com frio, mas não me conseguia mexer. Ou talvez não quisesse? Fosse qual a situação, neste momento senti mais paz do que alguma vez senti desde que Zayn me abandonara.

Se cerrasse os meus olhos, conseguia ver os momentos que passamos juntos e que talvez eles não foram tão especiais como eu deduzi ser. Momentos de perigo, amigos perto da morte, ente-queridos perdidos em desastres... talvez este fosse o meu destino e eu tivesse de o aceitar. Mas aqui, no telhado e tão perto da borda, eu apenas conseguia pensar que conseguia perdoar Zayn por tudo o que sucedeu. Talvez ele não me quisesse mais, talvez nunca quisera e decidiu então que me abandonar seria o melhor ato. Talvez o grupo saiba da sua localização e o escondam porque ele lhes pediu. Talvez ele deseja que eu pense que ele teve um destino miserável e quanto mais rápido o aceitar, mais brevemente conseguirei seguir em frente.

Quando abri os meus olhos, o meu coração encontrava-se bastante apertado assim como o meu peito, impedindo-me de respirar propriamente. Este pensamento e a paz que me trouxe por segundos agora assombrava-me e apercebi-me apenas que me encontrava a chorar quando saboreei as lágrimas salgadas. Abraçando o meu próprio corpo com mais força, tentando afastar os pensamentos aterradores e as memórias que agora se tornavam em momentos horríveis, mesmo que não vividos, causavam um sabor detestável no meu paladar, o meu corpo reagindo aos pensamentos de dor que deveria estar enterrada há bastante tempo. Sabia que eventualmente teria de seguir em frente, encontrar outro motivo para voltar a sorrir e encontrar a felicidade que eu merecia. Talvez o merecesse, talvez não. A minha mente gritava mil palavras, tantas vozes indistintas, oferecendo conforto apenas na solidão, porém, se desviasse o meu olhar para as luzes que afastam a escuridão conseguia ver todas as pessoas que me eram queridas. Lyn, que quase sacrificou a sua vida para o meu bem-estar, Rachel que infelizmente não escapou a um destino terrível, Evan com o seu olhar brilhante e o seu sorriso honesto, Scarlet com Ryan e Harry ao seu lado juntamente com o resto do grupo. porém o rosto que eu queria encontrar não permanecia com o grupo. Apenas me recordava das suas expressões faciais com mais detalhes quando olhava para as poucas fotografias que tinha. Pequenas memórias que eram apenas o que restava dele. Roupas abandonadas no chão do quarto, o seu cheiro desvanecendo completamente e adotando o meu invés do dele.

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