Capítulo I: Dondoca burra

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Paris, França - 8:30 AM.

O irritante toque do IPhone XR em cima do criado−mudo obriga a moça adormecida a despertar. Ela aperta várias na parte da tela onde deveria estar o botão "soneca".

Estaria correta, se fosse o despertador que estivesse tocando.

Ainda sonolenta e vendo tudo dobrado, a jovem aproxima o celular do rosto e então consegue ver que, na verdade é uma ligação que está empatando o seu sono de beleza.

"Juan" - ela lê em pensamento o nome que aparece na tela.

"Oque esse doido tá fazendo?!" - pensa.

Que pasa cabrón?! (Que diabos está acontecendo?!) - atende, já sem paciência.

Tranquila, hermanita! (Calma, irmãzinha!) - a voz do outro lado da linha tenta apaziguar. - Bom dia pra você também.

− Bom dia irmão. - ela soa mais amena dessa vez. - O que você quer?

A voz ri. De repente, as portas do quarto se abrem de uma só vez e um rapaz alto moreno e muito elegante passa por entre elas.

− Sempre mal-humorada logo de manhã. - Juan termina a ligação. - Como está minha mana favorita?

Juan se aproxima e beija a testa de Júlia, que sorri.

− Eu sou sua única irmã. - ela ri, e ele também. - E estou bem, estava muito melhor antes de você me acordar.

− Maria me disse que você extrapolou na casa noturna. - Juan olha sério para a irmã.

− Sua assistente está vendo e falando demais. - ela se senta na cama. − Eu só curti a noite como qualquer um.

Júlia pega um elástico debaixo do travesseiro e prende as longas madeixas num rabo de cavalo fajuto. Juan observa a irmã em silêncio.

Ele a olha de cima à baixo, e algo nos pés dela chama a sua atenção. Ele se abaixa e pega um pequeno rolinho e leva à altura dos olhos.

− Qualquer um que estivesse chapado. - Juan usa sarcasmo com a moça, que se rende.

− Ops! - Júlia dá um sorriso amarelo. - Foi só um baseado, eu juro! Eu nem terminei ele, ó. - ela aponta pra metade não queimada do cigarro de maconha.

Juan respira fundo.

− Mana, eu não me importo de você ficar chapada uma vez ou outra, eu mesmo faço isso. - ele guarda o baseado na gaveta do criado-mudo. - Mas se o papai souber que você só pegou em alguma droga...

− Eu sei, eu sei! - Júlia interrompe o rapaz. - Ele vai me castigar, eu sei. Tranquilo hermano, papai nem sonha que eu faço isso. Aos olhos do Dom Gutiérrez, eu sou a santa filha perfeita. - ela brinca.

Juan olha desconfiado para a irmã.

− Relaxa, eu levo o velho no bico, fácil. Eu sei me comportar. - ela faz uma carinha de sonsa, e Juan cai no riso.

Júlia faz piada da situação, mas no fundo ela tem um certo medo do pai. Dom Gutiérrez não é um homem com quem se deve brincar. Ele pode ser extremamente bondoso com alguém, enquanto esse alguém o obedecer e for leal à ele.

Na frente do pai e dos outros irmãos, Júlia se mostra um anjo de candura, doce, ingênua e inocente. Mas quando está longe de olhos atentos, ela mostra sua verdadeira face, festeira, arteira e ousada. Com uma lábia que só ela tem, Júlia sempre consegue levar o pai no bico, fora que, por ser a única moça de cinco filhos, ela sempre foi mais mimada e protegida pelos pais. E isso meio que a ajuda na hora de enganá−los, especialmente o pai, pois Selena sua mãe, sempre foi mais liberal.

− De qualquer forma. - Juan se antecipa. - Vamos dar um jeito nessa cara de acabada.

Ele aponta pro rosto da irmã, que lhe mostra o dedo do meio.

{...}

Juan e Júlia caminham pela Champs−Élysées. Ele carrega algumas sacolas com a logo de várias lojas de grife, enquanto ela retoca seu batom.

− Tome, Pierre. - Juan entrega as sacolas ao motorista e se vira para a irmã. - Você não cansa de fazer compras?

− Não.

− Como vai fazer na hora de voltar para o México com todas essas coisas?

Júlia esfrega os lábios uns nos outros e fecha o espelho de mão, produzindo um estalo.

− As vantagens de ter um jato particular, maninho. - ela joga um beijo pro irmão, que revira os olhos.

− Além do mais, é o meu último dia na cidade−luz. Eu mal risquei a tintura do meu cartão. - ela passa o dedo por cima do cartão black sem limite.

− Da última vez que veio me visitar, você usou tanto seu cartão, que ele acabou quebrando dentro da máquina. Você infernizou o papai para que ele mandasse um novo o mais rápido possível.

− Não tive culpa dessa vez. - Júlia encolhe os ombros. - O papai esqueceu de trocar o cartão.

Juan encara a irmã. Em seguida, ele começa a rir e a puxa para um abraço.

− Minha maninha, não existe ninguém como você.

− Eu também te amo. - ela diz entre os dentes.

{...}

O Mercedes preto entra na pista de pouso e para em frente à um tapete vermelho que dá acesso a escada do jatinho de luxo. O motorista desce e abre a porta de trás.

Um Loubotin nude calçado por um pé delicado, é firmado no asfalto da pista de pouso.

− Faça uma boa viagem senhorita Gutiérrez. - o motorista cumprimenta Júlia.

− Obrigada, Pierre. - ela sorri para o funcionário do irmão.

Júlia caminha com altivez e elegância até o jato.

− Bom dia senhorita Gutiérrez, sua bagagem já foi acomodada, o clima está perfeito. Chegaremos em Cullíacan sem nenhum transtorno.

− Ótimo José, obrigada. - ela entra na aeronave e tira seu celular.

" Estou voltando amor. Me encontre na mansão Gutiérrez, vamos matar a saudade.

Beijos, Júlia."

Ela aperta o botão "enviar" e guarda o celular. Em seguida, fecha os olhos e recosta a cabeça no encosto da cadeira.

Isso é um ritual. Ela está se preparando para fazer uma boa encenação de santinha inocente quando voltar para casa.

Realmente, Júlia Gutiérrez. Ao contrário do que a maioria dos homens de sua vida pensam é muito mais do que uma dondoca burra.


Capítulo um postado! Apesar de estar atolada em trabalhos na faculdade, eu consegui finalizar esse capítulo. Eu queria ter feito algo mais empolgante, mas pra o primeiro capítulo, até que dá pro gasto. rsrs

Por favor, por favor não esqueçam de votar e comentar. significa muito pra mim e ajuda demais o livro.

Um abraço,

Lu

CARTEL - Jogo de poderOnde histórias criam vida. Descubra agora