Prólogo

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− Fernando, espera!

A moça grita antes de ter a maçã do rosto arranhada por um galho.

− Ai! – ela sente o machucado arder.

Júlia está ofegante, já está correndo à alguns minutos. O ar seco e o calor fazem sua garganta secar, os machucados minam suas forças, mas ela precisa continuar. Precisa alcançar ele antes que seja tarde demais.

− FERNANDOOO! – ela grita novamente.

Ela está tão focada em encontra−lo, que não olha por onde está pisando, e acaba por tropeçar em uma pedra e indo com tudo para o chão.

Hijo de puta! (filho da puta!) – ela pragueja ao ver a palma da mão vermelha pelo impacto.

Mas a mão ralada ainda é mais suportável do que a dor aguda que surge nos joelhos quando ela tenta levantar.

− Droga! – ela faz uma careta e fica de pé com dificuldade.

Subitamente, algo prende sua atenção.

Silêncio.

Um completo silêncio.

Onde antes Júlia podia ouvir as folhas quebrando com o pisar dele, agora pairava o puro silêncio, sendo cortado apenas pelo som do vento entre as árvores.

Ele não estava mais correndo, havia parado de fugir. Ou talvez nunca tenha fugido, e toda aquele circo armado fora apenas para atraí−la para uma armadilha.

Júlia xingou−se mentalmente. Ela já deveria saber:

Ele nunca fugiria. Fernando não teme ninguém.

Nem mesmo a morte. Talvez seja ela quem o tema.

"Creck!".

Um barulho próximo aos ouvidos da moça a arranca de seus devaneios. Ela esquece todas as dores dos machucados, saca a pistola da cintura e se vira, apontando a arma para a origem do barulho.

− Eu já devia saber. – ela sacode a cabeça em negativo, desapontada.

De trás de uma das árvores, surge um homem. Bonito, alto e musculoso. Ele está ofegante e tem alguns machucados no rosto, ele está mancando, a manga da camisa branca está machada devido ao sangramento no braço direito, mas isso não o impede de erguer a pistola calibre 22 na altura da cabeça de Júlia.

− Abaixa essa arma Fernando. – ela tenta soar o mais suave possível.

Fernando ri com escárnio.

− Engraçado, eu já ia te falar a mesma coisa! – ele ergue uma sobrancelha.

Júlia respira fundo.

− Você armou pra mim? – ele é direto.

− Sim. – ela não faz rodeios.

− Você mentiu pra mim?

− Sim.

− Você disse que me amava.

− E eu amo.

Fernando vacila por um segundo.

− Eu amo você, Fernando.

Júlia abaixa a arma em sinal de paz, e começa a se aproximar.

− Não chega perto de mim! − É possível ver a tensão tomando conta do corpo dele ao ver sua querida Julita se aproximar. – Mais um passo, e eu juro por Malverde, eu vou atirar!

Mesmo com uma arma apontada para sua cabeça, ela não recua. Como sempre, Júlia não obedece à homem nenhum.

− Se você vai me matar, então faz logo de uma vez. − Júlia pega a arma pelo cano e a encosta no centro da testa.

– Atira. – ela diz encarando o rapaz.

Em outros tempos, Fernando teria puxado o gatilho antes que ela desse o primeiro passo. Para ele, matar pessoas era tão normal quanto respirar. Mas aquela não era uma pessoa qualquer, aquela era única.

Ela era sua paz, seu tormento.

Sua alegria, sua tristeza.

A calmaria, a tempestade.

Ela era amor e ódio, a personificação do caos.

Era a sua doce Julita.

− Você sabe que eu nunca te machucaria. – ele suspira, enquanto deixa que ela tire a arma de sua mão.

− Eu sei. – a pequena pousa sua mão no rosto dele e acaricia devagar.

Y-y... yo te amo tanto Julita. – Fernando não consegue segurar as lágrimas.

− Eu sei mi amor, eu sei. – ela enxuga suas lágrimas delicadamente, e o beija. – Eu também amo você.

Eles se abraçam forte.

− Me perdoa por não ter acreditado em você. – agora é Júlia, que não consegue conter as lágrimas. – Me perdoa por ter te traído. – ela tenta conter os soluços. – Eu sei que você jamais faria algo que me magoasse.

Olvida todo esto. – Fernando toma o rosto de Júlia entre as mãos. – Só me promete que você nunca mais vai embora.

Yo prometo mi amor. – ela acaricia os pulsos dele. – Nunca mais.

Ela o olha nos olhos e ele devolve o olhar terno e carinhoso, seguido de um beijo ardente e apaixonado.

Um novo abraço sela a paz entre os dois. Alguns instantes atrás, eles estavam a ponto de matar um ao outro. Agora morreriam, um pelo outro. A relação deles nunca foi normal, assim como suas vidas.

A palavra "normal" nunca existiu em seus vocabulários. Assim era a vida dos filhos do cartel.

TE ENCONTRÉ! PERRA MALDITA! (Te encontrei! Sua vadia maldita!)

Uma voz ameaçadora rasga o silêncio e interrompe o momento sentimental.

− Acharam mesmo que conseguiriam escapar de mim?!




Oie!

Finalmente! Publiquei o prólogo. kkk

Sinto muito por fazer vocês esperarem tanto, mas é que a faculdade tá consumindo todo o meu tempo. Eu tô me virando nos 30 pra conciliar todas as minhas atividades.

Em breve postarei o capítulo I. ( Já está na metade, pretendo concluir nesse fim de semana.)

Um abraço, 

Lu.

CARTEL - Jogo de poderOnde histórias criam vida. Descubra agora