Pedaço de mim

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  Desci as escadas e me aproximei da cozinha.
Vejo Heranta cantarolando enquanto lavava alguns pratos.
Ela com certeza era a pessoa mais gentil que eu conhecera.
Sua alegria me contagiava todos os dias.
Heranta era uma mãe pra mim.
Era um remédio de amor, que eu precisava "tomar" todos os dias.
— Bom dia. — Falo enquanto entro na cozinha.
— Olá Zoe, já acordou? — Falava enquanto secava as mãos em um guardanapo e se aproximava da geladeira.
  Ela sempre teve esse costume de fazer perguntas sabendo das respostas.
E eu sempre respondia, não ligava muito.
Heranta parecia jovem, mesmo tendo uns 50 anos de idade.
Me lembro do ano passado em que eu fiz uma surpresa de aniversário para ela.
Ela amou, chorou muito e disse:
— Você sempre será minha filha.
Eu também chorei, admito.
Admito pois existe 3 coisas raramente faço:

• Chorar;
• Ser gentil com todo mundo;
• Se oferecer pra alguma coisa.

Eu raramente faço isso.
Ra-ra-men-te.
Heranta era a única a qual me fazia rasgar essa lista.
— Eu só queria ter acordado tarde Hera, apenas isso. — Falei enquanto puxava uma cadeira do balcão.
— Fiquei impressionada. — Heranta afirmou e completou com uma risadinha, em seguida caminhou até o fogão.
Quando me sentei, apoiei os cotovelos sobre o balcão de vidro.
  Comecei a observar os olhos de Heranta, eram tão azuis e repletos de brilho.
Só perdia para Joaquim
Os olhos dele era tão azuis que pareciam superfícies aquáticas quase transbordando.
Me sentia molhada ao lado dele.
E não era literalmente, infelizmente.
Um típico defeito de Joaquim que eu precisa concertar.
Heranta interrompe meus pensamentos com um cheiro incrivelmente gostoso de um bolo enorme de morango.
— Fiz uma coisa que você adora! — Falou segurando a forma que tinha acabado de tirar do forno.
As luvas que ela usara pra pegar na forma foi eu que escolhi.
Eu amava aquela cozinha, pois foi eu que a decorei.
  O piso era tão branco como os sorrisos de propagandas de creme dental.
Possuía detalhes de pequenos losangos azuis-turquesa no centro e nas laterais do mesmo.
As 2 janelas combinavam com o piso e suas cortinas azuladas e finas dançavam com os raios solares que chegara até elas.
Era uma perfeita harmonia.
Talheres hierarquicamente ilustrativos.
A louça era lustrosa, magnífica.
A pia era tão limpa que parecia que nunca usara antes.
Era agradável estar ali.
Ponho as mãos sobre o balcão de mármore-branco.
O aliso.
— Amo esse lugar. — Falei encostando a bochecha no mesmo, ficando com o rosto grudado nele.
Era gelado.
— De Nova York? — Heranta já trazia um pedaço de bolo pra mim enquanto questionava.
— Não, também. Falo da cozinha, da casa. — Expliquei enquanto retirava o resto do balcão e arrumava a postura.
Heranta adicionou a ele o bolo e afirmou:
— Também gosto muito desse lugar. — Um belo sorriso brotou em seu rosto.
E então eu comi meu bolo.
Saboreei cada camada daquela fatia.
Um bolo de 8 camadas.
Que coincidência eu gostar tanto dele.

OlharesOnde histórias criam vida. Descubra agora