*** 1994. O DOG ALeMãO. ***

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*** 1994. SeTeMBRO. SeXTA. O DOG ALeMãO. ***


Ao longo do caminho até a casa de Aline, nenhum dos ocupantes da kombi falou uma palavra sequer. Ainda era cedo e o sol brincava sobre o rio Guaíba na preguiçosa tarde de inverno. Era sexta-feira e diversos grupos lagarteavam ao sol, bebendo o chimarrão, descascando e comendo bergamotas, enquanto outros andavam de skate ou bicicleta. O automóvel oficial da banda sempre chamava a atenção dos transeuntes ao passar pelas ruas com as cores e identificação da Mistery Machine. O pessoal da downtown da capital conhecia bem a Mistery Machine Band dali da cidade baixa. Mas desta vez, o grupo não externava a costumeira e contagiante alegria. Talvez porque apenas Freddie e Darlene estivessem com outra garota acompanhando Link ao volante. Não era comum ver a máquina sem Barbicha e Zelda... mas sem o dog alemão: era uma verdadeira afronta.

Entretanto, os ocupantes pareciam saber porque estavam tão calados... com uma única exceção... o jogo estava por começar.

O tio do Pereba concordou que era interessante a ideia de utilizar a referência dos desenhos animados para a banda. Entretanto, os orientou para que não utilizassem os nomes dos personagens da forma como eram grafados no original. Talvez pudessem manter o nome do cachorro e de um ou outro, mas não de todos. O tio do Pê já tinha passado por problemas com direitos autoais e não queria que eles passassem por aquilo também. Como o quinteto superava o número de personagens humanos do desenho, a formação da banda que contava com uma Zelda passou a contar com um Link, como nos games.

Da cidade baixa para a casa de Aline, subiram a Azenha e passaram diante do cemitério no alto do morro. Havia uma multidão de pessoas entrando no cemitério em direção às capelas. O trio continuou em silencio, apenas observando o movimento enquanto a kombi deslizava não tão silenciosa quanto os seus passageiros.

Aline morava em uma casa grande, próximo ao cemitério. No verão, a família reclamava do cheiro que costumava predominar no ar naquela época do ano. No inverno, não chegava a ser um problema.

O silêncio no veículo foi substituído pelas buzinadas de Pereba, que não pretendia descer do carro. Quanto antes chegassem na casa do tio, melhor.

Kennedy saiu da casa apressado e trazia o dog alemão pela coleira. Abriu a porta lateral e o fez entrar junto a Zora. Quando fechou a porta, o canzarrão não fez a costumeira festa para Caim e Maribel. Cheirou as mãos de Zora com desdém e deitou a cabeça no colo de Maria Izabel. E assim permaneceu o restante da viagem. Exceto naquele minuto quando passaram pelo cemitério novamente ao retornarem ladeira abaixo.


Aline sentou na frente ao lado de Kennedy, que se posicionou no meio do banco dianteiro, ficando entre a cantora e Pereba.

O silêncio que reinou no trajeto entre a casa de Caim e de Aline não se manifestou no percurso dali até a casa do tio do Pereba. Aline se ocupava de interagir com todos no veículo, sobre todos os assuntos que lhe vinham à mente. Quase não há barreiras entre o cérebro e a língua dessa mulher que fala o que quer, o que sente e o que der na telha. A afinadíssima vocalista da Mistery Machine Band é toda som:

- Aí, não guento mais isso. Foi esse movimento todo desde a hora do almoço... Tentei sair com o Scooby e tive que voltar para casa... agora ele tá todo jururu... tá assim todo ajorjado, mas tentou morder meio mundo na calçada e tivemos que voltar. Depois disso, se enfiou na casinha e só conseguimos tirá-lo agora, logo depois que o Pê buzinou.


Caim olhou para a rua, em direção ao cemitério, e comentou:

- Quem diria que o velho ranzinza tinha tantos fãs... era a peste em pessoa...

Iza não gostava quando Caim agia de forma tão insensível... não era raro, mas na maior parte do tempo ele era agradável e brincalhão. Levantou a cabeça, olhou para o namorado, suspirou e voltou a deitar a cabeça nos ombros de Zora.

Ao passarem na rua, bem diante do portão que conduzia as pessoas à série de capelas onde os velórios eram realizados, Zora tornou a passar as unhas do polegar e do indicador direito pelo maxilar de Maria Izabel. Zora gritou de repente:

- Diacho de cachorro, Caim, ele enlouqueceu. Segura ele que ele quer me morder...

Caim segurou a coleira e puxou o dog alemão para si, posicionando-o entre ele e Izabel. Deixando Iza posicionada entre o cachorro e Zora.

Aline ralhou com o cachorro lá do banco dianteiro e continuou falando sobre como era difícil compor suas músicas morando na mesma casa que Scooby.

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Continua no próximo capítulo:
*** SONGBOOK. #24. eNTRe VOCêS e eU. ***

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Versão em quadrinhos:

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