Heather saiu de sua casa após, emocionalmente, despedir de seu pai morto e foi até o estacionamento onde Douglas a estaria esperando com o carro de seu pai, pronto para partir. Era por volta de cinco horas da tarde, e o céu continuava escuro pela 'escuridão', tranformando o dia, na mais sombria das noites. Ela não sabia o que estava por vim em Silent Hill, mas estava determinada a realizar sua vingança, por isso se preparou: levou o revólver com apenas duas balas restantes, já que tivera usado as outras quatro para matar o 'laminado'; não era muito, mas apenas uma bala seria o suficiente para matar Cláudia.
Assim que a viu chegar, Douglas a abordou:
- Eu encontrei um homem antes de vir para cá. Vicent. Você o conhece?
- Não exatamente - respondeu ela enquanto se aproximava. - Eu o vi numa sala, mais cedo... antes da 'escuridão' chegar.
- Ele disse que havia um jeito de pararmos Cláudia - prosseguiu. - Não sei se devo confiar no que ele diz, mas por agora, essa é nossa única pista.
- Talvez haja outro caminho...
- Ele falou para encontrarmos um homem chamado Leonard no hospital de Silent Hill, e que, ele nos ajudaria a encontra-la.
- Se ele tiver alguma informação do paradeiro dela, será de grande ajuda - concluiu ela. - De qualquer forma, não há nada a perder.
- Tem uma outra coisa - Douglas tirou uma espécie de cardeno do bolso da jaqueta. - Aqui. Pega - A entregou. - Eu encontrei junto com seu pai. Eu acredito que ele pretendia te entregar antes de... Você sabe.
Heather olhou intrigada para cardeno do qual, contia as últimas mensagens de seu pai que, ele queria que fossem reveladas.
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Enquanto viajava junto a Douglas de carro, Heather leu as anotações de pai sobre o incidente ocorrido a dezessete anos atrás em Silent Hill, e soube do seu passado apagado de sua memória.
Eles estavam a oitenta quilômetros por hora, pela a estrada Crossing Field que ia direto para Silent Hill. Douglas dirigia atento pela 'escuridão', mas não era surpresa que, não havia outros carros: a estrada estava vazia. Heather esteve o tempo todo calada, com a mente inundada de pensamentos de luto, e além disso, confusa com as revelações de seu passado.
Derrepente, uma pequena chuva começou a cair, e Douglas achou o momento perfeito para quebrar o silêncio.
- Começou a chover - Falou.
Heather ficou calada.
- Você está dormindo?
- Estou acordada - respondeu ela com a voz baixa, acobertada pelo som das gotas de chuva.
- Está com frio?
Ficou em silêncio novamente.
- Qual o problema de Silent Hill? - Douglas insistiu. - Ela costumava ser uma boa e quieta cidadezinha, mas agora...
- Você já esteve lá? - Heather se interessou pelo assunto.
- Uma vez. No caso de uma pessoa desaparecida. Eu nunca o encontrei. Digo... Há algo de estranho com aquela cidade. Pelo meu trabalho, você ouvia vários rumores desagradáveis.
- Eu nasci e fui criada lá.
- Desculpe. Eu não quis ofender.
- Não me ofendi.
O silêncio pairou por alguns segundos, até que Douglas retomou o assunto:
- De qualquer forma, eu pensei que você tivesse crescido em Portland.
A garota fechou os olhos e levou a mão ao rosto. Estava pensando em algo.
- Qual o problema? Você está se sentindo bem? - questionou o homem no volante, atencioso.
- Minha cabeça está latejando... como a pior enxaqueca de todas.
- Talvez você esteja enjoada por causa do carro.
- Não, eu estou apenas tentando me lembrar... da minha infância - disse. - Uma coisa horrível aconteceu em Silent Hill a dezessete anos atrás - Heather, angustiada, começou a contar o relato que lera no caderno: - Uma mulher chamada Dahlia... ela ofereceu sua única filha em um ritual, para tentar invocar uma espécie de 'deus' esotérico na cidade.
- Isso é loucura - Douglas ficou surpreso com a história.
- Talvez fosse, mas funcionou. Ela deu a luz à 'deus'.
- Uhn?
- A garota tinha poderes especiais - continuou.
- Poderes? Como assim? - retóricou franzindo a testa, confuso.
- Seus colegas de classe a chamavam de bruxa. Ela podia fazer coisas com seus pensamentos. Poderia matar pessoas, apenas desejando-o - Heather prosseguiu. - Mas no final, esse 'deus' foi morto por apenas um homem: meu pai, Harry Mason. Isso não era muito de um deus, já que ele foi parado por um ser humano. Mas, eu acho que Cláudia está tentando fazer a mesma coisa: renascer o 'deus' me usando como sacrifício.
- Sacrificar você...? Você teria alguma semelhança com ela?
- Após 'deus' ser derrotado, a garota reapareceu com um bebé em seus braços. Antes de morrer, ela o entregou para meu pai.
Douglas a encarou. O bebé a quem ela se referia, era ela mesma.
Heather ficou sentida ao pensar em seu pai, e lembrar de tudo que ele fez por ela. Harry era o seu herói, o seu salvador que, a amou desde o princípio, mas agora, se foi para sempre.
- Ele me amou como sua única filha, mesmo sem saber 'o que' ou 'quem' eu era - A garota murmurou para si em meio a soluços, segurando o choro. - Foi tão de repente... Eu nunca vou ter a chance para dizer... dizer o quanto feliz ele me fez.
۞ ۞ ۞
Joana levantou-se de sua cama de seu quarto. Estava dormindo, mas por alguma razão, tivera acordado no meio da noite. Poderia ter sido algum sonho ruim que a tivera feito despertar - isso explicaria o suor em seu corpo -, mas ela não se lembrava do que sonhou, mesmo assim, ela tinha a sensação de que alguma coisa iria acontecer.
Pela sede, foi até a cozinha, e sem acender as luzes, tomou um copo de água. Em seguida foi até o banheiro, e lá, se deparou com uma coisa inusitada: Ela não refletia no espelho.
Limpou os olhos sujos de remela e os arregalou para ter certeza de que aquilo era real, e não o sono lhe pregando uma peça.
Ela confirmou o improvável: não havia reflexo no espelho.
"Impossível."
(...) Nosso pesadelo domina novamente...