Amor felino.

Cris.

     Beto estava quase se convencendo de que sua jornada no amor seria igual sua carreira: solo e fracassada.

   Até que ela aconteceu.
Era uma mulher e era linda, tão alta como uma modelo e ainda usava um salto preto destacando sua postura praticamente perfeita e suas longas pernas bronzeadas.

   O rosto dela, nossa!
  Praticamente uma boneca, com os olhos pretos bem redondos, cílios bem separados, bochechas rosadas e uma franja encantadora.

— Onde fica o 33?

  Beto sentiu quando suas pernas tremeram.
Quer dizer que ele não era invisível?

— Ao lado do 34. Vai subir?

   Ele entrou no elevador assim que as portas se abriram e apertou alguns botões.
A mulher riu do comentário do músico. Ela riu e de verdade.

   Beto imaginou como seria o casório tentando desviar o olhar de seu sorriso.

— O elevador sobe?

   Ela parou bem ao lado dele e um cheiro de lavanda o invadiu. Beto nem sabia que exista perfume de lavanda, para ele aquele era um aroma específico de desinfetante.

— Na maioria das vezes sim. Porém quando ninguém está dentro dele, também faz percursos como em círculos e um triângulo retângulo.

  E Beto ainda se perguntava o porquê de não ter amigos...

— Oh, interessante.

   Ele pensou em mil coisas diferentes para dizer porque não queria que o melhor papo aleatório da sua vida medíocre acabasse.
Então notou que ela segurava um portfólio, alguns livros e desenhos.

— Você trabalha com moda?

— Sim. Loucura, eu sei.

  A frase " Quer casar comigo e passar fome juntos? " quase saiu da sua boca.

— Eu sou músico.

— É por isso que moramos aqui?

   As portas se abriram e os dois caminharam juntos pelo corredor.

— É por isso que somos vizinhos.