O primeiro

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Sempre rodiada por suas três amigas.

Estampando um belo sorriso.

Aparentemente feliz, ela sabia que para as pessoas se você aparenta estar bem, você realmente é.

O simples fato de que as pessoas só ligam para a aparência dela e não se importam com o que ela realmente sentia, desvelava que ninguem se importava com o que realmente estava acontecendo.

Aquela semana seria especial por ser a última, mas Sabrina não sabia disso.

O problema foi que ela acreditou, simplesmente achou que suportaria tudo aquilo. 

Que limparia suas lágrimas e que com um sorriso tudo ficaria bem.

Por mais que não aceitemos isso acontece, nós temos a noção e o que nós fazemos?! absolutamente nada.

Na cabeça de Sabrina aquela seria mais uma semana qualquer e que assim como as outras seria triste e corrida.

Era uma rotina.

Acordando cedo para ver se sua mãe estava bem, uma vez que, Sabrina havia deixado de interferir nas brigas, depois ir até a sala e observar o seu pai jogado no chão e logo acorda-lo  para o café da manhã.

E ele, provavelmente, iria acordar sem lembrar de nada e recitar o mesmo discurso de arrependimento que a sua mãe sempre caia e então o perdoava.

Era sempre assim.

Um ótimo início de semana.

E depois de um dia tão repetitivo ela não se importou, ou apenas fingiu como sempre fazia.

Seu pai brigava apenas com sua mãe, ele nunca tinha levantado sequer o tom de voz com ela quando não estava bêbado.

Ela não se cortava, não podia. As pessoas fixadas em imagem julgariam e diriam que ela só queria atenção ou até mesmo culpariam uma doença psicológica. 

Ela simplesmente não precisava disso e realmente não queria isso. 

Sabrina fazia o melhor para aliviar sua alma e diminuir o fardo que carregava.

Dor física para ela não significava nada, então ela buscava a dor psicológica, a que martiriza.

Era simples e com um pouco de esforço seria controlável.

Mas na quarta-feira daquela semana tudo iria simplesmente por água abaixo, era semana de provas, então chegaria mais cedo. Sua mãe estaria na academia fingindo status, provavelmente não teria ninguém em casa.

Sabrina entrou e tudo parecia tão normal, foi direto para o seu quarto, a única parte da casa que realmente importava. Como sempre estava um calor miséravel, e então ela foi até o quarto da sua mãe pegar o ventilador.

Ia andando pelo corredor e ao chegar perto da porta, começou a escutar um barulho esquisito, ela tinha 15 anos, não era boba, psabia o que era aquele barulho então parou ali perto da porta, não podia entrar seus pais estavam ali.

Ela soube.

Sua mãe não estava ali.

Sabrina tinha que entrar.

Ela não o queria, mas tinha que fazer. Abriu a porta de vez, lágrimas já rolavam em seu rosto e então ela gritou, gritou o mais alto que podia.

Mesmo que seu pai fosse um monstro ela não acreditou que ele poderia fazer aquilo, não ali dentro da própria casa.

Ele a ameaçou, mas mesmo que não tivesse feito isso ela não contaria para sua mãe.

A mãe dela não era uma pessoa ruim.

Sabrina não lhe entregaria mais um motivo para sofrer.

Sabrina acreditava que se fosse para que sua mãe pedisse um divórcio, ela teria feito no momento em que levou o primeiro tapa.

Já era sexta e mesmo que ela não quisesse, a dor e culpa que sentia a machucavam mesmo que não fossem dela.

Tudo parecia sufocar.

Na noite de sexta-feira ela e seus pais foram no jantar de noivado da prima. Aconteceria na praia.

Sabrina odiava praia.

A animação era evidente.

Todos estampavam sorrisos falsos, esnobando-se por ações que ela tinha certeza que eles não tinham feito. 

Tudo ali enojava.

Ninguém ali parecia notar que Sabrina tinha saído da mesa, ninguém perderia seu tempo com a considerada estranha da família.

Mas Sabrina havia saído e ela até agradeceu que ninguém tivesse visto.

Sabrina

Não aguentava mais ficar naquela mesa, não aguentava mais respirar hipocrisia, não aguentava mais olhar para meu pai que fingia que nada tinha acontecido, não aguentava.

Simplesmente não suportava mais.

Levantei daquela mesa e juro que pensei que minha mãe ao menos me perguntaria aonde eu estava indo, mas ela não o fez. Ela nunca olhava para mim.

Poderia dizer que não,mas aquilo doeu. 

Toda rejeição doi.

Fui andar na areia da praia, bem perto do mar. Eu odiava praia e sensação de areia em todo meu corpo, mas amava ficar sozinha. Qualquer lugar era bem melhor do que  estar naquela mesa. 

Olhei para eles, e o que vi ? Uma família aparentemente perfeita, achava que todos eles eram hipócritas, tenho a certeza de que perto deles eu era ainda pior.

O vento estava ficando frio, porém estranhamente o meu corpo estava aquecido. A dúvida sobre eu dever entrar era atorduante. 

Aparentava ser o melhor e então entrei. O choque térmico do meu calor corporal com o gélido do mar. Tudo era malditamente atraente, tudo parecia um convite.

Ondas aos poucos engoliam minhas pernas. 

Eu não sei nadar, mas o que eu perderia? Absolutamente nada.

A água estava tão boa e por um segundo eu não desejei aquilo, tinha ciência do que estava fazendo. 

Não ia voltar atrás, eu não podia.

Parecia tão certo e eu sabia que a cada passo ficava mais fundo. Correnteza me arrastava com força, mas eu não ia parar.

Escutei o grito estérico de uma pessoa na praia e dessa vez não me importei, eu sempre me importava. Meus pés quase não tocavam mais a areia do mar e eu não sentia dor, eu sentia alívio.

Um alívio que veio tão rápido quanto foi embora de mim.

Não havia controle e pensando bem era exatamente o que eu procurava.

Uma dor sufocante tomou conta do meu corpo e eu tentei, mas não consegui respirar. Eu soube que não ia mais viver e estava tão bem com isso.

Era terrivelmente tranquilizante.

O mar levaria minha vida ou o que apenas restou dela.

Eu sabia.

E então eu fiquei feliz.

Tudo foi gradativamente ficando tão distante, tão calmo e apesar da dor eu finalmente me senti bem.

Cinco Formas de MorrerOnde histórias criam vida. Descubra agora