— Quer mais um travesseiro? — pergunto à minha mãe assim que ela se deita na cama.
— Não, filha, estou bem. — Sorri, mas o cansaço não permite que o faça por muito tempo. — É sempre assim no dia da medicação, mas passa.
Balanço a cabeça concordando, enternecida por ela estar tentando me consolar, quando é ela quem está passando por isso tudo. Sempre a admirei por sua força, seu destemor e a capacidade de realizar qualquer coisa que se propunha a fazer.
Mamãe não tem um gênio fácil de lidar, mas nunca negou amor e afeto aos seus filhos, mesmo sendo brava e exigente como era. Dani e eu tínhamos muito mais medo dela do que do papai, que sempre foi mais maleável, mas moderno e liberal.
O relacionamento dos meus pais, enquanto casal, não era um mar de rosas, mas eles eram amigos, companheiros. Ele sempre a apoiou em tudo, e ela acima de tudo o admirava. Não tinham grandes arroubos de paixão, pelo menos não na nossa frente, mas se respeitavam, conversam, riam e, principalmente, nos amavam muito. Dani, como filho e mais velho, sempre foi agarrado a minha mãe mais do que a nosso pai. Os dois se dão bem, são muito parecidos em alguns aspectos, mas quem sempre teve mais afinidade com papai fui eu.
Acho que nossas almas são parecidas. Ambos somos apaixonados pelas formas, perfeccionistas, românticos e, arrisco dizer, sonhadores. Eu sou assim, gostaria de ser prática como mamãe, mas há muito que parei de tentar ser quem não sou. Demorei, mas consegui aceitar meu jeito e me respeitar acima de tudo.
É dolorido tentar ser quem não é para se encaixar ou seguir uma tendência. Eu sou forte, mesmo sendo doce; sou feminista, mesmo sendo feminina e vaidosa; sou empoderada, mesmo sonhando em casar e ter uma família.
Eu me importo com a opinião alheia, sim, porque ninguém é uma ilha e não teria sentido na vida se todos fôssemos autossuficientes e não dependêssemos de ninguém. Não tenho preconceitos, sou feliz com a felicidade dos outros e não me importo que a recíproca não seja verdadeira. Cada um escolhe o caminho que quer percorrer. Eu escolhi ser assim, exatamente como sou.
Chegar até essa conclusão não foi fácil, principalmente quando se percebe que o homem por quem você é apaixonada prefere as mulheres que têm atitude, que são furacão e não calmaria. Eu quis fazer tipo e percebi que estava indo na contramão de tudo o que uma "mulher de atitude" prega, que estava tentando ser outra pessoa para agradar a um homem.
Foi aí que aquela máxima tão clichê, mas que é tão difícil de ser vivida, fez sentido para mim: quem me amar, precisa me conhecer e me aceitar como sou.
Demorei a perceber a importância disso, precisei praticamente ter isso esfregado na cara. Então arrumei minhas malas, disse ao meu pai que não iria para Barcelona, mas sim para Madri, e segui com minha vida.
Alexios foi o estopim que eu precisava para explodir naquela época, depois de ter aparecido no meu apartamento bêbado a ponto de não se aguentar de pé. Ele pediu para dormir no meu sofá, tivemos uma dura discussão quando tentei lhe passar sermão e, no meio da noite, acordei com ele na minha cama.
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Alexios - Os Karamanlis #3 (DEGUSTAÇÃO)
Romance⚠️ Já se encontra completo na Amazon Os Karamanlis #3 Com um passado nebuloso, marcado por traumas, rejeições e violência, há anos Alexios Karamanlis busca entender a si mesmo e, para isso, começa uma caçada sem fim pelo destino de sua mãe biológica...