II

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"Se foi amor, não importa quando
Ainda será outra vez."

Trecho do Livro:

~ 500 dias sem você ~

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O sino soou, avisando que o fim das aulas havia chegado. Enfiei o papel dobrado no bolso, e me pus a colocar os livros que estavam sobre a mesa dentro da minha mochila. Dei uma rápida e última olhada para o garoto que fazia o mesmo ao meu lado. Tanto eu como Raffael, decidimos não puxar ou continuar o assunto durante a aula. Talvez ele ficasse tímido demais depois do convite que fizera, ou fosse os olhares frios que Gisovelda por vezes nos lançava. Minhas hipóteses falharam ao perceber que Samantha e seu grupo se aproximava.

- Aprendeu bastante? - a voz aguda da garota  fez eco por cada canto da sala. Fechei os olhos por um momento, tentando não surtar.

- História não é meu forte - Raffael continou guardando os materiais. Segurei uma risada ao notar a expressão permanente de desgosto em Samantha.

- Estou sem carro, pode me dar uma carona até em casa? - sua voz saiu arrastada, olhei de relance ao redor, Violeta me lançou um olhar de onde estava sentada. O garoto sorriu, como se já tivesse acostumado à situações desse gênero.

- Jeff é seu vizinho, ele pode ajudá-la - todas se entreolharam com a resposta inesperada. Violeta se ajeitou na mesa, abrindo um pouco o casaco que estava vestida, deixando um pouco à mostra seus seios. Com passos lentos se aproximou do moreno, levando suas unhas imensas ao rosto do mesmo.
Estava ficando uma cena caótica, elas pareciam implorar pela atenção de Raffael.

- Mas eu moro perto da sua - o contato visual de ambos me assustava. Violeta era o tópico de garota que todos almejam para si, ou sonham uma vez em ter. Eu sempre me senti pequena ao seu lado, seu corpo era formado por músculos e suas vestimentas a fazia ter ainda mais atenção. Joguei minha mochila nas costas, sentindo a amigável e incômoda dor nas costas.

- Shopphia Callwes! - parei como estátua quando meu sobrenome foi pronunciado. Meus pai costumava me chamar pelo sobrenome quando algo saia do seu controle. Me virei na direção da voz.
- Quer uma carona? - sua voz era suave e descontraída, as engrenagens do meu cérebro trabalhavam a todo vapor, Alberto poderia me dar carona sem problema algum. Antes que eu pudesse negar e marchar para fora da sala, o moreno pareceu ler meus pensamentos, concluindo por si só antes mesmo de eu decidir algo. - Um instante, irei acompanha-la, caso negue a carona - senti meu estômago revirar ao perceber que a roda formada por garotas me olhavam incrédulas.

- Não se incomode, sei a saída - adiantei o passo indo ao encontro de Elise. Desci o mais rápido possível a rampa espessa, tomando cuidado para não perder o controle sobre meus pés. Parei diante do laboratório analisando a fumaça verde que saia pelas janelas. Elise saiu com o jaleco coberto de um produto de cor esverdeado e um óculos redondo e espesso cobrindo metade de seu rosto. Franzi a testa ao vê-la.

- O que houve? - passei a ponta dos dedos no rosto da garota que estava coberta por cinzas e cheirava a queimado.

- Aula de química! - Elise respondeu como se fosse mais que óbvio a resposta para seu estado. Me pus a andar para alcançar a mesma, que dava passos apressados. A circulação de alunos pelo corredor havia diminuído, abri meu armário guardando meus livros e minha mochila.

- Shopphia Callwes! Um instante por favor! - a voz ecoou pelo corredor quase vazio. Me virei já sabendo a quem pertencia o dono da voz. - Saiu tão apressada que mal tive tempo de dizer algo. Bom...-seus olhos azuis alternavam de mim para Elise, cutuquei de leve o ombro da chanel, o que pareceu funcionar.

- Ah tá, eu estou indo, te vejo na portaria - ela se despediu me lançando uma piscadela indiscreta. Sua bota batendo contra o chão, ecoando por cada espaço vazio. - Tô saindo! - gritou a chanel se certificando de que não havia ninguém no corredor.

- Bom... eu gostaria de saber se meu convite ainda está de pé? - o sorriso voltou em seus lábios, meu corpo enrijeceu como resposta.

- Pode ser precipitado, algo há cegas - me virei encarando o armário. Uma tosse surgiu, fazendo com que eu e Raffael mantivéssemos mais distância. Encarei o corredor vazio, fitando a chanel  que havia surgido  como um fantasma. Elise arregalou os olhos chocada, como se estivesse vendo uma cena de filme de suspense.

- Eu juro que não foi minha intenção ouvir... mas já que aconteceu, eu soube que hoje terá uma feira  de games, cá entre nós, parece interessante - a garota deu de ombros para mim fazendo contato visual com Raffael.

- O quê está fazendo?- sussurrei perto dos ouvidos de Elise. O moreno colocou as mãos no bolso, ignorando os cochichos.

- Não vou poder ir hoje, parece que surgiu um emprevisto na mercearia e precisam de mim para hora extra. Droga! - Elise piscou para mim. Voltei minha atenção para o garoto que me observava pacificamente.

- Te vejo hoje a noite? - pela primeira vez o rosto de Raffael se contorceu de tensão. Afirmei com incerteza da minha decisão. O sorriso metálico preencheu o rosto do mesmo, o qual assentiu e caminhou em ritmo acelerado em direção à saída.

- O que foi isso? - Elise soltou um gritinho de animação. - Raffael te chamou para sair? - revirei os olhos entediada.

- Por quê mentiu? - perguntei, notando alguns zeladores aparecerem já limpando os corredores. Chequei o horário em meu relógio de pulso, já estava ficando tarde.

- Não menti, precisam mesmo de mim, a novata não consegue fazer o atendimento e a faxina ao mesmo tempo - Elise deu de ombros, como se a garota que havia começado há alguns dias tivesse a obrigação de aprender tudo que ela sabia em quatro meses - Eu não preciso ficar de vela, me compreenda - entre eu e Elise, ela era a mais experiente com assunto de garotos e relacionamentos. Gostar de alguém significava correr o risco de dar o azar de cair em falso, ou talvez uma sorte de sentir o sabor do amor na vida real. Um jogo de incertezas.

- Bom trabalho hoje - eu sabia que Elise iria conseguir ajudar a iniciante. Caminhamos em direção a saída, seguindo caminhos diferentes. Avistei o carro prata parado no outro lado da rua. Alberto buzinou, ruborizei envergonhada por meu irmão ter esses momentos palhaços justo na frente da escola.

- Ficou de detenção? - seus olhos se estreitaram, buscando algum indicio de mentira. Eis algo sobre irmãos mais velhos. Se acham os maiores, isso é patético.

- Não sou como você foi no ensino médio - repeti a frase de todos os dias. Coloquei o cinto, jogando minha mochila para trás do banco. Alberto meneou a cabeça. - Preciso de carona hoje a noite - desviei a atenção para minhas mãos, evitando encarar meu irmão nos olhos.

- Para onde? - perguntou abaixando a música para que pudesse me ouvir com mais clareza. Mordi o lábio inferior, devia ter uma forma menos embaraçosa de dizer o que eu queria. Mas não havia.

- Uma feira de games hoje a noite - guspi a frase tão rápida que duvidava que ele tivesse entendido. Alberto confirmou com a cabeça, voltando a aumentar a música.

- Elise precisa de carona também? - sua voz era alta por conta do som, o semáforo fechou, fazendo com que a atenção do meu irmão caísse totalmente sobre mim. Droga.

- Não - tentei ser direta, fuzilei o semáforo fechado, mentalizando para que abrisse logo.

- Você vai sozinha? - ele abaixou a música de novo, senti minha pele queimar com o olhar incrédulo de Alberto. Como eu pensei. Irmãos mais velhos, são patéticos. - Você não gosta e nem entende games, o que te levaria a ir? - ele sabia dos meus pontos fracos. Meu irmão era gamer. O sinal abriu, me fazendo respirar aliviada por não ter toda a atenção de antes. Os olhos de Alberto focaram em mim, se desviando da estrada, uma buzina soou junto carregada de xingamentos.

- Olhos fixos na estrada. trân-si-to! - soletrei perto de seu ouvido. Respirei fundo, me ajeitando no banco.
- Talvez eu tenha me interessado por games ultimamente - soltei uma risada. Alberto franziu a testa, dando de ombros.

- Que seja - finalizou aumentando a música mais uma vez.

O garoto que eu gostavaOnde histórias criam vida. Descubra agora