III

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" Tem um lugar no seu coração, onde
Ninguém esteve, me leve até lá. "

~ Fade and Kenrick ~

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O silêncio manteve, até que Alberto fizesse uma curva virando a esquina corner.
- Marquei com alguns amigos da faculdade na cafeteria, algum problema para você? - o som do motor do carro foi desligado, suas palavras saindo como afirmação. Não tive nem mesmo tempo de discordar. Desci do carro de braços cruzados, sentindo o ar gelado passar por debaixo do meu casaco, o que trouxe como resposta uma onda de arrepios seguido por um frio na barriga. Alberto se adiantou, dando passos largos, chegando na porta em formato de espelho. Girei a maçaneta fria da porta, fazendo o sino antigo acima tocar em boas-vindas. A cafeteria era um dos comércios mais antigos da cidade. A decoração era formada por um acústico toque dos anos 8'0. Um candelabro brilhava em altas luzes pendurado no teto de cor creme pálido. Uma fileira de mesas e cadeiras de tons ofuscados vermelhos. Duas garotas estavam no centro do balcão de atendimento, e outras garçonetes atendiam com grande rapidez as pessoas que chegavam. Me acomodei em uma mesa ao lado da janela de vidro quadrada espessa a qual a vista dava direto para o lago. A paisagem me prendia a atenção. Alguns cisnes nadavam tranquilamente ao redor do lago, um casal de idosos conversavam tranquilamente em um dos bancos que rodeava o lago. O senhor repousou delicadamente a cabeça no ombro da companheira, como se o tempo parasse e só existia o sentimento ao qual os envolvia.

- Em que posso ajuda-la? - a voz doce me fez voltar a atenção para o lugar. Passei os olhos pelo cardápio, voltando o olhar para a moça loira que sorria simpática.

- Um café com muito açúcar, por gentileza - dei um meio sorriso para a garota, a qual retribuiu com um largo sorriso caminhando em direção ao balcão.
Observei as pessoas ao redor, alguns casais riam de suas próprias piadas contadas, outros porém estavam solitários, e a cada gole de café pareciam se aprofundar cada vez mais na solidão. Meus olhos rodearam o local inteiro, até enfim repousarem no grupo de universitários. Todos pareciam alegres, como se o dia compessasse a vida toda.
Estreitei meus olhos, fazendo uma rápida análise do que meus olhos viam. Um garoto de cabelo platinado se destacava entre o grupo. Suas mexas douradas brilhavam de forma intensa na luz do candelabro, e sua pele pálida realçada sua beleza exposta. Encarei por mais alguns segundos, esquecendo de analisar o restante do grupo. Minhas bochechas se ruborizaram ao notar que o mesmo garoto me encarava de forma incrédula. Desviei o olhar, ainda sentindo os pares de olhos sobre mim. Bati os dedos na mesa impaciente, eu podia sentir a vergonha me rasgando lentamente.

- Aqui está! - uma outra garota serviu o café, agradeci com um aceno, tomando o primeiro gole quente. Minha garganta sentia aguçamente o sabor adocicado do líquido.

- Café amargo ou adocicado? Tanto café ainda vai matar você - me engasguei com a voz repentina. Alberto passou as mãos pelo cabelo já desgrenhado.

- Café me ajuda a desestressar - tomei mais um gole do café . Alberto revirou os olhos. Eu sabia que no caso do meu irmão era algo totalmente diferente. Se eu me desistressava com um expresso ou um chá, ele optava por uma tequila ou um sexo dentro de um carro.

- Chegou uma coleção nova do livro que você maratona... - seu rosto meneou para o lado, fazendo um esforço para recordar o que provavelmente seria o nome do livro. Seus olhos de cor avelã passaram pelas estantes expostas no meio da cafeteria.

- Gentil da sua parte me avisar - deixei um meio sorriso escapar, Alberto e eu sempre fomos próximos desde a infância, agora com a faculdade ele sentia que estava se distanciando, acho que se sentia culpado ou coisa assim. Alberto bagunçou seu cabelo de tom marrom claro pousando o olhar sobre o grupo no fundo da cafeteria. Acompanhei seu olhar, notando que o loiro ao qual eu estava observando antes, pertencia aquele grupo. - Esses são seus amigos universitários? - estreitei os olhos observando o restante dos integrantes, havia uma garota com um óculos escuro em formato de coração com alguns colares pendendo em seu pescoço. Voltei minha atenção para o loiro. Seu maxilar parecia contraído, e seu olhar vago, até seus olhos encontrarem os meus, e um sorriso bobo dançar em seus lábios vermelhos.

O garoto que eu gostavaOnde histórias criam vida. Descubra agora