Capítulo 4 - Cordas de Violão

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Natalie, POV. 

Meu apego com filmes nunca foi tão grande, eu nunca fui uma fã assídua de cinema e menos ainda de algo romântico como o que passava na TV. Mas quando você sente que está no maior nível de tédio, as coisas podem mudar e você aceita o que for como entretenimento. Eu acho graça do que penso e chacoalho a cabeça em um riso baixo, me deitando por completo no colchão macio abaixo de mim. Tenho a impressão de que algo estava errado, tudo porque eu estava com um ar de seriedade enquanto trabalhava meu raciocínio. Seriedade demais? Isso, em hipótese alguma, combina comigo. 

— Qual seu problema hoje, senhorita Natalie? — Me faço a pergunta. 

Vendo que o filme estava piorando minha falta de divertimento, reviro os olhos e o desligo. Sinto um alívio imenso e sem lógica por não ter continuado. "Isso estava um saco"  penso. 
Coloco-me de barriga para cima, suspirando forte uma vez e fazendo tranças imaginárias no meu cabelo, tentando pensar no que eu poderia fazer. Tenho a ideia passageira de chamar alguém e desisto da possibilidade ao ver a hora marcada no relógio de cabeceira, estava lamentavelmente tarde e isso me fez sentir desapontamento. Me levanto e dou de ombros para onde eu repousava, indo de encontro à cozinha. Fico trêmula ao sentir o impacto do chão gélido com os meus pés descalços, o que não me incomoda. Havia chovido e a temperatura caído, o que me deixa contente depois de passar dias com o calor se sobressaindo. 

Espreguiço meu corpo devagar quando chego perto da geladeira, abrindo-a e alcançando uma garrafa de água. Desde que me conheço, o frio me causa uma sede que não consigo controlar. Bebo goles do líquido e quando me sinto saciada, guardo o recipiente de volta. Um maço de cigarros se faz notório e o pego, preparando o antigo isqueiro para acendê-lo em sua ponta. Mas algo me impede de realizar o ato. "Música. Cordas de violão..." Fico pensativa. 

Procuro onde meus olhos podem me guiar, eu não havia ligado nenhum disco. Largo o velho cigarro em mãos e prossigo logo à minha frente, ouvindo o som afável com mais nitidez no processo. Fiz mais uma caminhada, dessa vez até a janela que dava para varanda. O som vinha de fora. 

                                                                      ***** 

Dando fim ao receio, giro a maçaneta da porta agora destrancada e olho pelos cantos. Eu vestia uma espécie de blusa longa com aspecto social, seus botões estavam fechados e vi que era branca. Fico reconfortada ao ver que estava com algo decente pelo menos para saber o que aquilo significava, quem era o dono daquela melodia. 

Fico paralisada ao ver o mesmo cara que havia falado comigo mais cedo. O "vizinho" estava sentado na grade de ferro em uma postura reta, nem ao menos precisando se segurar. Observo que dessa vez está de camisa e a calça jeans escura anterior que eu tinha reparado quando ele se manifestou. Ele parecia concentrado demais para me ver parada ali, atenta ao que ele fazia. Em seu colo tinha um violão preto, o instrumento era lindo e estranhamente conciliava bem nele por suas roupas em cor igual. Nem percebo que eu estava intacta e sem reações, apreciando o barulho que ele fazia e o admirando, de certa forma. 
Não querendo interromper, me viro para sair dali. Mas sou impedida por sua voz grave falando.

— Eu tô mesmo precisando de uma plateia — Fala tranquilamente e o som do violão é pausado por ele — Você gostaria de ser? Porque sim, eu vi você aí o tempo todo — Termina. 

Acho aquilo engraçado, o rapaz tinha praticamente lido minha mente ao dizer isso. O que ele tinha de tão especial? Eu não sei, mas ele plantava em mim um turbilhão de sensações diferentes e era algo que me deixava incerta. Com um ar sarcástico, me viro de volta para ele. A luz fraca e acesa da varanda de madeira iluminava seus olhos esmeralda e cintilava seu rosto. Sacana. 

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