Capítulo 12

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Avril supervisionava praticamente todas as pesquisas que se davam no Complexo, mas ninguém tinha acesso as menores informações que fossem sobre seus próprios projetos. Quem já estava habituado a trabalhar com a mulher sequer se importava mais, porém, quem não tivera tanto contato com a heroína como agora, não conseguia ignorar a sensação de que ela não queria outras mãos em seu trabalho, que o crédito tinha que ser todo seu.

Aquela interpretação não era por completo errada: Avril não era exatamente a melhor pessoa para se trabalhar em conjunto em todos os ambientes, e pessoas em seu laboratório costumavam lhe dar nos nervos. Só que o principal motivo para preferir voo solo era poder fazer as coisas em seu próprio tempo, sem ninguém pressionando para que fizesse as coisas na velocidade da luz, como todo bom gênio. A verdade é que às vezes eles gostavam de fazer as coisas em um ritmo menos acelerado, ou apenas enrolavam o máximo possível, se perdiam em devaneios de ideias utópicas e que não eram possíveis de executar com a tecnologia atual.

Por isso a ordem era de sempre manter distância de seu laboratório.

E por isso ela já estava pronta para ordenar que quem chegara gritando saísse logo, se não tivesse reconhecido a voz de Steve antes de se virar.

– O que aconteceu agora? – indagou ela, reposicionando o óculos no nariz. Sua desconfiança era clara. Quando era algo realmente importante – fim do mundo importante –, o sistema de emergência da Complexo era ativado, o que era humanamente impossível de se ignorar, graças as luzes piscantes e sons agudos. Tudo dentro de seu laboratório e no corredor que ela conseguia ver um pouco pela porta aberta que Steve segurava estava em perfeita paz, não podia ser algo tão ruim assim.

- Missão de emergência – ofegou ele apenas, se orgulhando pelo sucesso em sua tarefa de não rir, mesmo assistindo o olhar de Avril se tornar mais intenso, suas sobrancelhas quase se unindo na testa. Era difícil demais enrolar a mulher, mas não deixava de ser uma boa atividade para entretenimento.

- Quão emergencial?

- Não muito, a emergência é que eu não vou acompanhar – contou o soldado de uma vez, rindo baixo quando, já de costas e seguindo seu rumo, Avril conseguiu reagir com a informação, gritando para que ele voltasse e se explicasse. Steve quase se sentiu mal ao se voltar para o laboratório, encontrando Avril já a poucos passos a sua frente, os olhos arregalados em apreensão. Ou ela estava fazendo com que ele se arrependesse, nunca saberia – Não precisa ficar assim também. Não nascemos grudados.

- Quando você diz que não está indo, você quer dizer que vai estar me enviando sozinha? – perguntou ela, sua voz em um ritmo mais acelerado que o normal, também um pouco mais esganiçada – Queria registrar que deixei passar suas piadinhas, o que significa que estou falando muito sério aqui. Não me zoa.

Steve contrariou um pouco o pedido da mulher, mas sua risada não tinha nada de debochada, pelo contrário. O som era profundo, transmitia nada além de compaixão.

- Romanoff vai com você, mas a missão é sua – frisou ele, deixando uma mão no ombro desprotegido pela alça da camiseta regata que Avril usava, aproveitando para respirar fundo quando ela fechou os olhos com o aperto suave que recebia – Dê o seu melhor, tudo bem?

Mesmo contrariada, Avril acabou apenas por assentir e se direcionou ao quarto compartilhado para seus preparativos. Sua postura mais calma e centrada foi o suficiente para Steve acreditar que tinha tomado a decisão correta ao passar o comando da missão para a mulher, por não ter desperdiçado a oportunidade.

Steve só esperava que a reunião na capital não fosse tão entediante como imaginava que seria, embora pudesse lhe ser um bom castigo por ter jogado a responsabilidade de comandar para Avril sem aviso prévio.

The Real Side II: Dark TimesOnde histórias criam vida. Descubra agora