Cap.1 - Peccato

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Ainda não acredito que aceitei a vaga de recepcionista em uma casa de Swing. Levando em consideração que o salário é ótimo, e que irei somente anotar e conferir a lista de sócios está tudo bem.
Nunca frequentei um local assim, sei o que acontece, mas participar como convidada, nunca. Sexo em grupo com pessoas desconhecidas e sem compromisso ainda soa um pouco estranho para mim. Claro, deve ser maravilhoso, mas prefiro só observar a me envolver.

Confiro se o uniforme está dentro da bolsa mais uma vez, esperava algo mais chamativo, como chicote, meio arrastão, sabe, mas não, é um vestido tubinho preto acima do joelho com um broche de maçã. Discreto e elegante.

Faltando alguns minutos para que eu saia, o telefone do apartamento toca.

— Alô.

— Oi mãe. Estou bem, nos falamos ontem, lembra? Não, não é reclamação. Sim. Também sinto sua falta, e não irei voltar para Phoenix. Minha vida agora é em Nova York, já faz oito anos que moro aqui mãe. Porque ainda não acostumou? Papai ainda não me perdoou. O que? Magoei o melhor amigo dele, qual é? É, sei que foi por isso que ele nunca mais falou comigo. Não quero saber nada, tudo isso ficou para trás, por favor, aceite.

Mudamos de assunto sutilmente, mas não demoro em me despedir. Ela sempre dá um jeito de tocar nesse assunto, se soubesse o verdadeiro motivo que me levou fazer o que fiz. Mudar de cidade sendo expulsa de casa, sozinha e sendo apontada como a vadia que abandonou o bom moço no altar.
Chega não quero mais pensar nisso, ficou para trás.

Desço de escada ao invés de pegar o elevador, digamos que não é muito seguro e não posso correr risco de ficar presa. Vou em direção à estação de trem.

Subo na condução e sento, pego o livro de BDSM que emprestei na biblioteca e começo ler, não é como se eu fosse praticar, ser uma dominadora, apesar de a ideia ser interessante, mas tenho que entender pelo menos um pouco de como funciona. E sinceramente, algumas coisas chamou minha atenção.

Adam foi o único namorado com quem estive depois do Dylan. Em três anos que estava morando sozinha, sofri um acidente de bicicleta, na verdade não foi bem um acidente. A roda da frente enroscou na tampa do bueiro em frente ao corpo de bombeiros, me jogando no chão.

E para minha sorte, um deles correu até mim para me socorrer. Negro, alto, musculoso, olhos esverdeados, e cabelo raspado. Fiquei de boca aberta com aquele deus grego correndo na minha direção.

Ajudou-me levantar me levando até a enfermaria, fez um curativo no meu joelho e nas mãos. Nenhum homem havia me interessado depois de Dylan, mas esse tinha algo de especial.

Trocamos número de telefone e mantemos contato até nosso primeiro encontro. Cavalheiro, gentil, e com muitas qualidades.
Namoramos por quatro anos, sentia um louco desejo de fazer sexo com ele, mas todas as vezes que fizemos era como se meu coração se partisse em mil pedaços, sempre relembrando aquele maldito dia.

Então, decidi que libertá-lo era a melhor opção, não queria que ele ficasse preso a alguém como eu. Quebrada por dentro, incapaz de fazê-lo feliz como merecia.
Isso já faz dois anos, quer dizer, há dois anos não tenho um encontro, nem ao menos um beijo, sinto falto do carinho, da atenção.

Mas enquanto esse fantasma do passado continuar assombrando meu presente, o melhor é continuar sozinha.

Ouço o anúncio da estação que devo descer, não tenho coragem de erguer a cabeça, tenho certeza que as pessoas estão me encarando e se perguntando.

“Quem lê livro de BDSM dentro do trem?”

As portas se abrem e salto rapidamente. Madame Soraya pediu que não atrasasse, pois queria passar algumas recomendações de comportamento e sobre os principais clientes. A casa não é muito longe da estação, então, decido ir andando.

DYLAN - Meu agente ( SÉRIE MEU - VOL2)  DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora