four - Percy

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– Percy! - Leo gritou, mesmo estando do meu lado.

Eu odeio a educação física. Simplesmente odeio, só tem suor, calor, empurrões e machucados. Talvez ninguém odeie mais do que eu. Talvez somente Frank.

– Desculpe. - Era no mínimo a segunda bola que eu perdia, já estava cansado e só queria ir embora. Odeio educação física.

O jogo era longo demais, os minutos se transformavam em horas. Logo senti a bola de vôlei diretamente no meu rosto. Ótimo.

Depois de se certificarem que eu estava vivo o professor apitou o fim do jogo, pelo menos acabou.

– Percy, já fez seu resumo do trabalho? - Annabeth disse me encarando com um leve ar de riso. Meu estado deve ser deprimente mesmo.

– Que trabalho? - Eu disse tentando parar de enxergar duas Annabeth's ao mesmo tempo.

– História. Aquele que vamos fazer hoje. Na minha casa. - Ela disse cruzando os braços. Como pude esquecer? O trabalho vale uma das notas completas, e basicamente implorei à Annabeth que fizesse comigo, ela aceitou.

– Ah, claro que eu fiz! Sobre o que é mesmo? - Soltei uma risadinha e ela me encarou indignada, adoro irritá-la.

– Guerra Civil, tudo bem, temos mais 2 minutos de aula e depois vamos pra minha casa. - Ela caminhou até Piper me deixando sozinho com minha terrível visão dupla.

O sinal tocou, mal consegui dizer tchau para meus amigos, Annabeth arrastou meu braço até a saída da escola. E eu tive que voltar, já que havia esquecido minha mochila.

Caminhamos até a casa dela, mais suor, mais calor. Assim que chegamos ela empurrou a porta e me disse para entrar. Era tão impressionante quanto eu esperava.

– Vem logo, meu pai ainda não chegou. - Ela indicou o caminho até seu quarto. O ambiente no geral era prateado com papéis de parede bege que possuíam rosas desbotadas, o quarto dela era bem diferente daquilo.

Para começar, seu quarto lembrava exatamente ela. Tinha uma das paredes pintadas de rosa escuro, e as outras de bege, nas paredes haviam pôsteres, desenhos, e até mesmo fotos. Era incrível.

Ela jogou sua mochila no chão, tirou seu tênis e desceu para a cozinha. Eu me senti desconfortável, o que fazer no quarto de uma garota?

Alguns minutos depois ela voltou com dois sanduíches idênticos e copos com suco de uva.

– Está incrível! Você quem fez? - Era simplesmente pão, queijo e presunto, mas queria puxar assunto.

– É só pão de forma, queijo e presunto, não da pra deixar isso ruim. - Tudo bem, ela não quer puxar assunto.

O trabalho em si foi finalizado rapidamente, o pai e a madrasta de Annabeth chegaram com seus irmãos mais novos. Eles eram legais, bem diferente do que eu esperava, ela parecia desconfortável mas decidi não questionar.

– Sente falta dela? - Eu disse depois de notar que uma das fotos de sua parede tinha Bianca, ela parecia feliz, usava jaqueta preta e os lábios rosados esboçavam um sorriso animado. Ela nunca mais voltaria a sorrir.

– Bianca? - Ela seguiu meu olhar. - Sim, ela era tão jovem, ela não merecia isso. Eu não chorei quando soube, achei que ela não fosse querer isso. Mas agora... é difícil me manter forte, principalmente quando nem sabemos quem fez aquilo.

– Eu entendo. Sinto saudades dela, e de tudo antes dela, sinto muito e não posso fazer nada. - Não queria ter puxado aquele assunto, o sanduíche no meu estômago concordava.

– Acha que... você sabe. - Ela disse me olhando. - Acha que mais pessoas vão morrer?

– Estou com medo, não sei o que pensar. - Eu disse, então notei um desenho atrás de Annabeth, um desenho que me assustou muito. - Ela não tem rosto.

– Bem observado. - Ela sorriu de lado e fitou um desenho simples, todo feito a lápis preto, de uma mulher que seria bonita, caso possuísse rosto. - É minha mãe.

– Sua mãe? Mas por que não tem rosto? - Eu não queria perguntar tanto, mas era inevitável.

– Ela me deixou com meu pai, logo após eu nascer. Não tenho memórias, nem fotos, meu pai queimou todas. Ele queria que eu não me machucasse. E funcionou, não me machuquei, só deixou um buraco na minha memória. - Ela encarou o piso branco sem graça, e traçou os dedos pelo tapete.

– Desculpe. - Eu disse, ela sorriu talvez achando graça.

– Não tem problema, até já acostumei e não sentir. - Ela se levantou pegando seu celular. - Piper está irritada, já que você é o primeiro amigo que trago em casa.

– Primeiro? Por que? - Me levantei guardando meus materiais.

– Não gosto muito de trazer amigos em casa, não tenho a família mais normal possível. Nunca trouxe Piper ou Hazel, você é o primeiro e último.

– Ahn, me sinto lisonjeado. Bem, tenho que ir, obrigado pela oportunidade. E, saiba que também sinto falta dela. - Eu disse inconscientemente, e logo nossos olhares se direcionaram a ela. Bianca.

Bianca estava morta, ela não voltaria a sorrir, não iria nos abraçar nunca mais, mas ela ainda estava viva dentro de nós. Ela me fez pensar, que se você se significou algo para alguém, se você amou alguém ou se alguém te amou, então você nunca morreu. Não dentro dessas pessoas.

As pessoas esquecem, elas têm disso, não tem uma caixinha de memória. Fácil. Todos esquecem, uns mais rápido do que outros, mas ainda sim esquecem. Mas nós não, seu fantasma ainda vai nos acompanhar, ainda vamos olhar para corredores vazios esperando vê-la ali, aguardando ela correr sorrindo até nós, mas ela nunca virá. Vamos sempre lembrar de uma coisa que nunca poderemos mudar, independentemente do quanto quisermos.

Até a Última MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora