Capítulo 8 - Úrsula

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Úrsula -

Eu sabia que ia ser fácil entrar em casa e tirar as minhas coisas. Não levei muito, apenas uma mala. Não é que tivesse muito mais para levar.

Nem a minha mae, nem a minha irmã estavam em casa, como eu tinha imaginado. A minha irmã devia estar numa festa qualquer a beber até a inconsciência e a minha mãe devia estar a trabalhar. O que é que ela fazia? Ela ajudava a limpar os mares do lixo dos Humanos.

Agarrei a mala com as minhas coisas e sai da casa que me acolheu durante toda a minha vida. Pode não ter sido uma vida feliz, mas mesmo assim e o único sítio a que já tinha chamado de casa.

Vaguei durante algumas horas por superfícies que ainda não tinha visitado, longe da minha casa e da minha cidade.

A minha cidade era chamada de Aquantis. Será que ainda posso chamar-lhe de minha agora que a abandonei?

A cidade era uma das mais próspera de todo o Reino da Atlântida, reinado por Poseidon. Este não era o único reino subaquático mas era o mais conhecido no muito marinho.

Deixei o meu corpo cansado cair suavemente com um 'Thump!' na superfície rochosa do fundo do mar. Eu estava escondida atrás de uma cratera vulcânica. Talvez não o melhor sítio para se descansar devido a atividade cada vez mais constante dos vulcões aquáticos.

Ao longe consegui ouvir ouvir o som de caudas a virem na minha direção e preparei-me para lutar. O som de electricidade a circular chegou até mim, deixando-me os cabelos em pé.

Por detrás da cratera onde estava, quatro enguias esverdeados apareceram. Elas olharam para mim e deixaram escapar um silvo ameaçador. Uma delas saiu do grupo e veio a nadar até mim. A eletricidade a sua volta aumentou de tal forma que me fez a mão ficar meia dormente. Quando se aproximou, a enguia atirou-se a mim. Com uma das minhas ventosas eu prendi a enguia no sítio. Apesar da eletricidade passar pelo meu corpo, eu não me deixei afetar pela dor.

- Olá amiguinho! - eu disse no meu tom demoníaco. O sorriso de um demónio na minha cara. - Não te devias ter metido comigo.

Senti o poder obscuro que estava guardado dentro de mim movimentar-se nas minhas entranhas. Com uma das mãos toquei a cabeça da pequena enguia e uma espécie de fumo negro envolveu a enguia. Ela foi aumentando a força do seu aperto em torno da enguia e está deixou escapar um grito de dor.

A enguia começou a desvanecer-se na minha ventosa e eu larguei. Uma fina camada de cinzas tocou a superfície arenosa do chão e eu voltei-me para as três enguias que ainda restavam.

- Quem é que quer lutar comigo agora? - eu podia sentir os meus olhos a brilhar e o demónio a apoderar-se de mim, apenas por alguns momentos.

As três enguias olharam para mim, e baixaram as suas cabeças num sinal de rendição e submissão a mim. Pelas leis do mar, elas agora tinham que fazer o que eu disser.

Eu andei até às três pequenas enguias e observei-as enquanto elas se encolhiam de medo. Talvez elas me ajudem. Sim, elas vão ajudar, quer elas gostem ou não.

~*~

Eu não conhecia a pessoa que me tinha tornado. Nesta altura eu ainda não reparava nas alterações não só na minha personalidade mas também na minha aparecia. Apesar de aparência não ser um atributo que possuo mais. Não da mesma forma que antes. A beleza que atraia muitos abandonou o meu corpo naquele dia fatídico. A minha aparência agora não era mais do que uma forma de assustar. A única sereia feia. A rapariga que já não era sereia mas uma mistura estranha entre polvo e humana.

Eu não era única ou rara ou especial. Eu era uma abominação. Eu ainda sou. Apesar deste tempo todo não há nada que possa mudar isso. Eu sou uma abominação. Um erro da natureza. Uma consequência de um feitiço. De uma maldição.

Eu sou, e sempre serei, a filha de uma violação.

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⏰ Last updated: Mar 01, 2015 ⏰

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Once Upon a... Villain (Slow Updates)Where stories live. Discover now