Capítulo I. Carpe Noctem.

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Alguns avisinhos:

❱ NÃO terá dia certo para postagem.
❱ Será uma short-fic de quatro capítulos.
❱ Peter aqui tem vinte aninhos.
❱ Vocês vão ver muitas referências ao Sherlock de Conan Doyle aqui, rs. Por que sim.

❗ Não se esqueçam de ler as notas finais, pois faço o meu rodapé com alguns significados das palavras ou referências ❗



Londres. 1889

─ "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: 'Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira"... ─ permitiu-se parar por ali. Com os lábios entreabertos do último ponto, subiu com os olhos para contemplar os semblantes seduzidos. ─ Aforismo 56. "A Gaia Ciência", de Friedrich Nietzsche. Um nome ainda recente na filosofia, mas que com apenas um trecho fora capaz de deixar vocês pensativos. Proposta interessante a dele, não?

─ Eu não sei se estaria disposto a viver minha vida novamente. Tudo igual, da mesma maneira. Seria maçante. ─ comentou um aluno franzino, cabelos ruivos e dentes amarelados. Logo após sua fala, alguns outros colegas passaram a conversar entre si, provavelmente em concordância com a fala do ruivo.

─ Justamente. E por saber desse asco de viver tudo novamente que Nietzsche desenvolveu essa teoria. Pois se você soubesse disso, viveria sua vida mais intensamente a partir dali, não é mesmo? ─ havia uma tonalidade muito marcante em sua voz, capaz de reverberar cada onda de raciocínio naquelas mentes ainda muito juvenis. ─ Para isso, Nietzsche acreditava que deveríamos viver de maneira dionisíaca, procurando sempre afirmar a vida. Seja em prazer ou dor, sofrimento ou alegria. ─ enfim, o soar dos sinos se fazem presente, inundando a sala de aula juntamente a conversas, risadas e um pequeno tumulto em direção aos corredores da universidade. Aquela poluição sonora trazia Antony Stark de volta a realidade nua e crua.

Quando se tratava de filosofia, seu palácio mental era o lugar mais pacífico para se estar. Noite antes de ministrar suas aulas, ele volvia para aquele lugar sagrado em sua mente, explorando o tema que abordaria em sala de aula. Stark não era considerado o professor mais ortodoxo do mundo. Nas palavras de alguns professores de London College: ele gostava de colocar caraminholas na cabeça dos alunos. Entretanto, sua má reputação era muitas vezes esquecida pelo seu extraordinário intelecto. Uma genialidade com seus dois sentidos, pois também era um homem de personalidade geniosa.

Aos quase quarenta anos, fugia da palavra cônjuge. Admitia para si mesmo que era um boêmio renomado, viciado em andanças que sempre tinham um propósito no início, no meio, ou no fim do trajeto. Um verdadeiro notívago. Sempre pelos arredores de East End, leste de Londres, mas evitando ficar muito próximo do rio Tâmisa, que tinha um cheiro horrendo incapaz de descrever com palavras. Tinha um particular interesse por Whitechapel, apesar dos pesares do ano passado. Jack, o Estripador, havia levado consigo cinco pobres almas. Todas elas estripadas ou completamente mutiladas. Nunca antes Londres havia presenciado tamanho horror.

Todavia, no momento em que lua e sol trocavam de turno, a noite gritava pândega. As estalagens passavam de hotelaria para os famosos salões de ópio. A sociedade vitoriana de elite botava em prática sua dupla moral sexual, passando horas nos bordéis escancarados. E Tony adorava apreciar toda aquela hipocrisia, sentando-se sempre nos fundos dos prostíbulos e separando os conhecidos. "Mustache louro, cabelo alinhado para trás. Parlamentarista às nove da manhã e sodomita depois da meia noite.", comentava para si mesmo, bebericando seu destilado de cor âmbar. "Mais um. Olhe só. Juiz, casado e com três filhos.", apontou com os olhos no momento em que o álcool tocou seus lábios, visualizando um homem grisalhado a apertar os adereços traseiros de uma jovem moça. Riu, internamente. Não sabia se amava ou detestava aqueles falsos moralistas naquele antro de doenças venéreas, mas também preferia não admitir uma resposta. Iria acabar com toda a brincadeira dos finais de semana. Pelo menos admitia ao público que era essencialmente um vagabundo, em suas definições mais maliciosas.

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