Avisos!
❱ Flashbacks e memórias serão destacados em itálico
❱ Pensamentos dos personagens, em itálico e entre aspas
O indicador descia pelas laterais, escondendo-se por detrás da próxima página e chamando o polegar para enganchar ao final da folha. A leitura de bolso lhe acompanhou pelos gramados até o momento em que as palavras começaram a se embaralhar e a dor nos globos oculares havia se tornado notavelmente irritante. Deixou o livro cair sobre o peito, encostando a nuca no tronco de árvore da qual havia usado como repouso desde o começo do intervalo. Instantaneamente, a imagem de Peter lhe surgiu na cabeça. O que não era de se estranhar, pois antes sua vida só se resumia a uma rotina que girava entorno de seu umbigo, e agora, com o garoto, muita coisa havia mudado. Já fazia alguns dias que ele estava acomodado na residência, parecendo distante de sua realidade no bordel, sequer tratando do assunto. Quando Tony puxava conversa sobre lá, mudava de tópico, ou ás vezes, só ficava mudo.
Não poderia ousar imaginar as coisas pelo qual o jovem passou e realmente não queria pressioná-lo, apesar de sua intuição lhe apertar para insistir nesse assunto e não se contentar com meras três palavras em resposta. Havia também um lado sombrio dessa curiosidade, onde apagava o seu abajur para dormir e acabava imaginando em segundos alternados de outros pensamentos, como era o jovem naquele antro. Aquelas ideias criavam uma espécie de não comportamento, que por si só já era um comportamento e céus... Parecia tudo muito estranho, tudo deveras atraente no sentido mais amplo da palavra.
Ora, sempre fora um pragmático, apesar de mesclar com suas filosofias, e agora vinha com essa coisa de intuição? E ainda, essa perspicácia lhe revirava o estômago, como se algo lhe pedisse para voltar correndo para casa.
─ O que foi, Red Bear? ─ perguntou aleatório ao imaginário cachorro babão a sua frente. ─ Some daqui! Anda-te! ─ e bracejou o ar raivoso, logo olhando ao redor para ver se alguém o olhava assustado.
Permitiu-se fechar os olhos, dando alguns instantes de descanso à vista fadigada, apenas migalhas, de fato, pois um alguém havia acabado de sentar-se ao seu lado. E percebendo que não se tratava de nenhum ser de sua imaginação, se recompôs.
─ Você está acabado. ─ a vigília só veio no momento em que a voz se fez presente, Tony abrindo os olhos para responder ao sujeito já muito conhecido. O professor e a coisa mais próxima que poderia chamar de amigo, Bruce Banner.
─ Ainda bem que é notável, não? ─ retrucou, sarcasticamente.
─ Está com algum parente em casa? ─ questionou, Bruce, olhando para o mesmo ponto aleatório de Tony, que naquele momento já começava a trabalhar numa história convincente.
─ Não. ─ mas achou que a resposta rápida poderia ser uma saída mais eficaz do que continuar a enrolar uma história. Pois então, surgiu-lhe a dúvida na cabeça. ─ Por que a pergunta?
─ De manhã vi um garoto pegar o jornal na sua porta. Segunda, terça, quarta... ─ Bruce continuou com os olhos estreitos, visualizando qualquer reação diferente de soslaio.
─ Ele não é um garoto. Tem vinte anos. ─ eis que percebeu a armadilha de sua própria distração. Fechou os olhos descrente da própria burrice, suspirando internamente.
─ Incrível como não consegue me enganar. E dessa vez eu nem precisei ser incisivo. ─ agora, já tendo agarrado sua resposta, ajeitou-se perante o amigo no que parecia ser o princípio de mais diálogos. Stark volveu o rosto para a torre do relógio da universidade, porém, não seria ela a lhe salvar.
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Pseudo Afrodite
RomanceNa Londres do século 19, Antony Stark, um professor universitário pouco ortodoxo e também um homem aflito em sua solidão, usa sua compulsão notívaga para conhecer os diferentes bordéis de East End e estudar a dupla moral sexual da sociedade vitorian...