Capítulo IX. Pandora

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E o céu ficou lívido com a violência da tempestade.

A chuva que caia lá fora era como respingos de luz em um quarto inteiramente em penumbra. Os contornos das sombras eram indistintos e entre quatro paredes, o manto da luxúria revelava faces divinas. Sem ondulações, sem perturbações.

Vento algum soprava sob o céu de Londres àquela noite. Mas debaixo dos lençóis, os corpos se remexiam para lá e para cá como belas árvores primevas, deixando vestígios de si em cada canto.

A tintura rosada dos lábios brotava como gota de aquarela, bem carnudos e desejosos. Da pele leitosa, mais beijos iam sendo depositados: busto, colo, pescoço, passando pela carótida tão lindamente saltada. E mesmo que os arrepios dessem uma ligeira pane no sistema, Peter continuou movimentando o quadril lento e tentador. Mas em momento algum Tony deu distância para a pele jovial. Ele o abraçou de maneira que a lateral de seu rosto tocasse bem o meio do peito. "Tum, tum, tum, tum...", como um verdadeiro encantamento, dizia o coração do mais moço.

As horas iam se passando e o cansaço começava a tomar conta. Fazia quanto tempo que eles estavam ali? Que rodada era aquela? Nem os astros mais sabiam dizer, enfeitiçados com tamanha paixão. Mas a lua começava a despontar novamente, ressurgindo das nuvens pesadas e banhando a janela com seus raios prateados. Estava pequena e quase desaparecendo do céu. Desaparecendo, desaparecendo...

E então, o sol.


[...]


"Como o cabelo dele pode ter um cheiro diferente do meu?", Antony se perguntava mentalmente, ainda de olhos fechados, aproveitando o gatilho fantasioso que aquele cheiro lhe causava. Rememorava o aroma do contato entre os sexos e a maneira como não parou de sentir prazer por nenhum segundo sequer. Apenas de lembrar, queria agarrá-lo para si novamente, lhe abaixar as calças e consumar novamente horas e horas de sexo. Porém, vê-lo dormindo era tão satisfatório quanto vê-lo gemendo em êxtase. "Oras, ele usa o mesmo sabão que eu.", acrescentou, novamente perdido no aroma maravilhoso do menino de ouro. Tão próprio, tão especial. Como mato e coisas quentes, como pão recém-saído do forno. O próprio se deteve numa risada audível, mas seu peito não escondeu a graça, fazendo um pequeno movimento que acordou Peter.

─ Hey...

─ Do que eu tenho cheiro? ─ questionou Tony, mais para si mesmo do que para Peter.

─ Hm... Livros. ─ disse Peter, no momento em que a palavra surgiu em seu consciente.

─ Então eu tenho cheiro de velho. ─ a conclusão não era das melhores, pensou ele. ─ É isso?

─ Eu gosto.

─ Do que?

─ De livros. ─ Peter subiu um pouco a colcha, cobrindo um pouco de sua boca e uma mão que estava fria pela brisa congelante da manhã. ─ E de velhos. Mentira, eu particularmente detestei aqueles professores de ontem.

─ Eu não os desgosto. ─ pensou e logo falou, Tony, voltando aos acontecidos da confraternização de ontem. ─ Mas não poderia recusar o convite. De qualquer forma, nunca mais serei convidado. ─ ele deu de ombros, não mais se importando com aquilo da mesma maneira que ontem.

─ Me desculpa, senhor Stark. Eu que causei tudo. ─ o pequeno achava que devia essas desculpas para o mais velho. Sabia que aquilo era importante para ele. ─ Mas eu estava tão irritado, tão frustrado...

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