No dia seguinte tenho meu primeiro contato com Louis. Estamos divididos em alojamentos de vinte homens. Dez camas enfileiradas de um lado da parede, e mais dez do outro lado. A minha cama é a penúltima da parede esquerda, e Louis está do meu lado, encostado na parede.
As cinco da manhã nossos dois cabos entram gritando para que levantemos nossos traseiros da cama, se não eles iriam fazer isso a chutes. Moody deu ordens para que fôssemos fazer exames na barraca médica.
Saindo rumo ao fim da fila, só de cueca e camiseta, Louis e eu entramos em formação juntos e ele estende a mão para mim.
– Louis Tomlinson.
– Harry Styles – digo.
– Pelo jeito, nós vamos ser vizinhos nos próximos meses. Por acaso você ronca?
– Não sei – respondo, já que isso nunca me passou pela cabeça –Ninguém nunca reclamou. E você?
– Dizem que, quando durmo de costas, sim, mas parece que me treinei para ficar de lado.
– Se você começar, eu te empurro – eu digo sorrindo, e ele ri um pouco. Eu logo sinto uma camaradagem entre nós.
– Isso não me incomoda – diz em voz baixa.
– Quantos irmãos você tem? – pergunto, imaginando que tenha alguns, já que lhe falaram dos seus hábitos noturnos.
– Nenhum. Só uma irmã mais velha. Você é filho único?
Eu hesito em dizer a verdade. – Minha irmã, Gemma – respondo, sem acrescentar mais nada.
– Eu sempre gostei da minha irmã – sorri ele. – É alguns anos mais velha, mas nós cuidamos um do outro. Ela me obrigou a escrever para ela quando eu estiver lá.
Eu aceno com a cabeça, examinando-o com mais atenção. É um garoto de boa aparência, com cabelo castanho todo emaranhado, uns olhos azuis muito brilhantes que parecem dados à aventura e um sorriso encantador. Não é musculoso, mas tem braços bem torneados que ficam bem com a camiseta. Imagino que nunca teve dificuldade para arranjar companhia.
– Que houve, Harry? – pergunta Louis, me encarando. – Você está vermelho feito um pimentão.
– É que é muito cedo – explico, desviando o olhar. – Eu saí da cama muito depressa, só isso. O sangue subiu.
Continuamos seguindo a fila como o cabo Wells comandava.
– Ei, o que você achou da atitude daquele tal de Malik? corajoso ele, não? – ele me perguntou.
– Burro, isso sim – retruco – não foi uma maneira eficiente de fazer amigos, nem de agradar o sargento.
– Bom, não foi, mas é preciso coragem para peitar o velho como ele fez, sabendo que provavelmente acabaria apanhando – explicou – Você já viu algum desses opositores, Styles?
Sacudo a cabeça – Não, você já?
– Já, era irmão de um colega meu. Se recusou a pegar em armas – contou Louis – dizia que era por motivos religiosos, e mandou o sargento ler a Bíblia.
Eu bufei. Não tenho nada contra quem quer que a guerra acabe logo. Isso todos querem. Mas sei que se ela persistir, é nosso dever participar.
– O que aconteceu com ele?
– O colocaram na frente da batalha como padioleiro. Eles sempre fazem isso, se você se opõe, eles te entregam à morte.
Não quero responder nada que comprometa minha possível amizade com Louis, não quero que me veja como inimigo, mas acho completamente justo mandar o sujeito para ser padioleiro.
– Sabe, eu poderia usar a história de religião – prosseguiu – Meu pai é vigário em Doncaster, queria que eu também entrasse para a igreja, talvez me livrasse disso – apontou o local.
Chegamos a barraca médica e quando adentramos, o médico pediu para que os garotos presentes retirassem as roupas para alguns exames. Ao tirar minhas roupas, olhei em volta e me deparei com vários corpos nus, não muito agradáveis de se ver.
O médico está no momento observando o interior da boca de Louis e medindo seu peito com uma fita métrica.
Meu olhar se encontra novamente com o dele, e me pergunto por que nenhum de nós o desvia.
Após os exames, tomamos um terrível café da manhã de ovo frito e Bacon gorduroso, e logo em seguida somos mandados para treinar, sem nem mesmo digerir a comida.
Simon nos avisa que iremos treinar com nossas próprias roupas, ao invés de recebermos as fardas com as cores do regimento.
– Besteira, esses merdas não podem nem bancar as fardas e fuzis – Louis sussurrou para mim
Fizemos exercícios de alongamento, e então corremos, corremos pra caralho. No meio do trajeto, Simon reclama que nossa formação está desalinhada, e empurra homem por homem para que fique do jeito que ele quer - mesmo que a desordem antes e depois não tenha diferença.
Ao final fomos dispensados para tomar banho, menos Malik. O sargento alegou que ele não se exercitou corretamente.
– Mais meia hora de exercício para Malik, creio eu – disse para o cabo Moody, que assentiu.
Mais tarde eu e Louis estávamos deitados no alojamento conversando.
– O velho quer mesmo ferrar Malik, não acha? – ele me perguntou
– Não é de se surpreender.
Eu olho e sorrio para ele. Seu modo de falar é meio chique, talvez tenha tido uma educação melhor que a minha. Mas ele parece se importar com as pessoas. Sua gentileza me impressiona.
– Escuta, o que você achou daquele médico? – ele perguntou, virando o rosto para mim.
– Do médico? Não achei nada. Por que a pergunta?
– Você apenas parecia muito interessado no que ele fazia – me respondeu com um sorriso cínico – Não está pensando em fugir de noite e entrar no corpo médico, está?
Eu corei. Ele havia me pego praticamente o comendo com os olhos. Apenas desviei o olhar do dele e olhei para o teto.
– Não, Tomlinson, planejo ficar no alojamento esta noite.
– O problema aqui é que estamos rodeados de imbecis, mas pelo menos tenho um amigo – Ele se aproxima, tanto que acho que consigo sentir seu aroma – E pare de me chamar de Tomlinson! Meu nome é Louis, eu sei que todos esses trogloditas se dirigem pelo sobrenome, mas somos diferentes, não? Não deixe que os outros te afetem.
YOU ARE READING
O pacifista [Larry Stylinson]
FanfictionHarry Styles, um jovem que foi expulso de casa aos 15 anos e se alistou no exército inglês aos 17. Sempre muito recluso, durante o período da primeira guerra mundial ele acabou se tornando amigo de Louis Tomlinson. Desculpa, se tornando amigo é um e...