Londres, 1878
Outono
Após saltar da carruagem de aluguel, Emmeline Bechard passou pelo portão de ferro negro e cruzou o pátio que havia na frente do solar onde morava; notou que ocorria algo no mínimo curioso: as duas partes da grande porta principal estavam totalmente abertas. Este fato era bastante incomum, pois Martha, a governanta, nunca abria as duas bandas de uma única vez.
— Martha? — Emmeline chamou assim que subiu os degraus e atravessou o umbral da porta.
Retirou o chapéu, o xale e as luvas e os colocou sobre o aparador.
O vestíbulo estava vazio.
— Maman?
Não havia sinal da tagarelice que a mãe e a ajudante de costura faziam no ateliê. Também não ouviu o estalido suave da máquina de costura: um luxo que adquiriam no final do ano passado.
O silêncio atípico tomava conta da casa inteira. Emmeline olhou ao redor e somente seus passos ressoavam no piso de madeira. Seguiu para a sala de estar e também não havia ninguém ali.
— Maman? — Chamou novamente apurando os ouvidos.
Caminhou com cautela até parar na entrada do cômodo que utilizavam como ateliê. Seu coração quase parou de bater e arregalou os olhos diante da cena que havia diante de si. O recinto encontrava-se tomado pelo mais completo caos. Ouviu um som abafado e alarmado vindo de algum lugar atrás da comprida mesa de madeira.
Vencendo o susto, reprimiu o grito que veio até a sua garganta e entrou correndo na sala. Encontrou sua própria mãe deitada de lado com as mãos atadas atrás das costas. Trazia uma tira de pano amarrada na boca e seu olhar era de puro pavor.
— Mon Dieu! — Emmeline exclamou aturdida.
Abaixou-se e com as mãos trêmulas desatou o nó que unia os braços da mãe, em seguida a ajudou a sentar-se.
— O que houve? — Perguntou ainda sob o efeito do espanto enquanto livrava a mãe da mordaça que a impedia de falar.
— Foi tudo tão rápido! — Mariette exclamou com a voz alarmada e ofegante. — Eles entraram aqui e, de repente, reviraram tudo! Pareciam dois selvagens!
— Eles? Eles quem, maman? — Emmeline perguntou e olhou ao redor assustada.
Não havia uma só coisa no lugar. Os tecidos, os aviamentos, as revistas de moda, tudo estava todos revirado e espalhado pelo chão. As cadeiras e banquetas, de pernas para o ar e o biombo pendia retorcido. Até a máquina de costura havia sido jogada ao chão.
— Eu não sei!
Quando Mariette conseguiu levantar-se, Emmeline abraçou-a fortemente.
— Graças a Deus a senhora está bem! — Disse com a voz abafada.
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O Marquês dos Campos de Lavanda (DEGUSTAÇÃO)
Fiction HistoriqueEm O Segredo da Condessa - primeiro livro da Duologia Segredos -- tivemos a honra de acompanhar a história da inexperiente e doce Lady Tatiana, onde após experimentar a dor da traição, trava uma batalha em sua consciência entre fazer o que é certo e...