Capítulo 4

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Ane se levantou e começou a retirar os pratos, a jovem logo voltou dentro de sua cabine e tentou não derramar lágrimas, mas as palavras de Casper haviam perfurado sua alma e como ela sempre soube, palavras machucam mais do que uma ferida carnal, porque uma espada pode lhe perfurar e depois você se cura, mas as palavras sempre estarão no fundo de sua mente, fazendo com que você sempre se lembre antes de dormir.

Anelise havia separado um longo vestido para Marina, mas a jovem não estava com o espirito de realmente fazer aquilo e enquanto a mulher a arrumava elas trocavam olhares pelo reflexo do espelho que havia em sua cabine.

-Olha sei que as palavras de Casper foram duras e lhe magoaram, mas...

-Não surtiu efeito algum em mim!

-Me deixe terminar menina! 

-Desculpe...

-Como estava dizendo, foram palavras duras, mas que lhe ajudarão a decidir se quer mesmo ser uma pirata, porque foi como ele disse! Em uma luta contra a marinha você sempre será mais uma pirata que eles tem a missão de matar e você terá a difícil e terrível decisão a tomar! Terá que escolher entre a sua vida e entre a vida deles e quando fizer essa escolha eu espero que consiga mostrar a Casper que ele estava errado sobre você e que você merece estar nesse navio como primeiro imediato!

Nada mais foi dito, Marina estava pronta e dessa vez estava determinada a ir nessa missão de queixo erguido, daria motivos para que Casper engolisse as próprias palavras, mostraria a todos que tinha o direito de estar ali naquele navio, navio ao qual pertenceu ao seu pai e que um dia seria dela.

Quando o navio atracou ela foi a primeira a sair do mesmo, havia se perfumado e fez seu caminho, a estalagem cheirava a porcos, mas quando entrou se surpreendeu em como era bonita e organizada, haviam mulheres no colo de alguns homens e lá estava o primeiro imediato com uma ruiva nos braços, os olhos dos dois se encontraram e Marina pode perceber o desejo em seu olhar, com a cabeça erguida ela caminhou até o balcão e ali se sentou esperando para que a atendessem.

-Boa noite bela dama, o que desejas nessa noite?

Uma criança muito sorridente a atendia com os olhos brilhando, Marina lhe lançou um grande sorriso e abaixou a cabeça quando o primeiro imediato tomou sua fala e dispensou a criança.

-Ela deseja a bebida mais forte da casa Camille, agora vá fazer seu trabalho!

Marina viu a pequena menina ruiva sair com a cabeça baixa e mordeu seus lábios encarando o homem, ele era pouco mais alto que ela e seu cabelo era queimado de sol, os olhos eram azuis e a pele também queimada de sol, o que fez Marina suspirar e encarar a própria mão.

-E o que faz o senhor achar que uma dama como tomaria uma bebida tão forte?

-Bom, primeiro que se não quisesse beber algo forte teria ficado em sua casa e segundo, pelo que vejo é de outra região e talvez próxima ao rei da Espanha!

-E o senhor deduziu tudo isso apenas por que estou neste ambiente?

-Não por estar aqui, mas sim por sua vestimenta! Muito prazer sou Amanediel

-Oh sim, é um vestido muito peculiar...

O homem sorriu e abriu a boca para responder, mas Camille voltava com os copos de bebidas, quando se aproximou dos dois a badeja virou e as bebidas caíram todas na roupa do primeiro imediato, Amanediel levou seu braço pronto para esbofetar a pequena, mas Marina logo segurou seu braço e encarou furiosa.

-Foi apenas um acidente senhor! Não deve bater nesta criança!

-A família dela serve a mim, então eu decido se posso ou não bater nesta porca!

Marina logo se levantou e puxou a criança pelo braço, o homem deu uma risada alta e se aproximou dela que logo saiu da estalagem correndo, a menina atrás corria rindo alto e agradecendo por ela ter a defendido do homem mau, o plano estava dando certo, porque logo atrás o homem vinha correndo atrás deles, ela iria virar a esquina e os piratas já estariam ali para a ajudar, mas quando virou na viela deserta, sua decepção foi grande, os piratas ainda não haviam voltado, ela havia se adiantado.

-A senhorita nos trouxe para um lugar facilitador, sabe uma dama não pode andar nessas ruas sozinha!

-Não estou sozinha, não está vendo que Camille está junto a mim?

-É mesmo? Mas se algo acontecer com a senhorita ela não poderá falar nada, já que serve a mim também e logo ela estará na idade de servir os homens como a senhorita irá me servir nesta viela!

Marina colocou a menina atrás de seu corpo e quando o homem se aproximou ela lhe deu um empurrão, não podia mostrar que sabia lutar ainda, precisava esperar ou estragaria o plano, mas o homem logo lhe esbofetou a face a fazendo desequilibrar, ainda desnorteada se viu sendo jogada no chão, o carpete do vestido foi rasgado brutalmente, Camille chorava escondida atrás de algumas madeiras e quando deu por si, Marina já estava com a faca do próprio imediato em mãos e ela estava enfincada em seu peito, quando os piratas adentraram a viela tiraram o homem sem vida de cima dela e enquanto a ajudavam a levantar ela sentiu seus olhos encherem de lágrimas.

-Marina como você está?

Mestre a chacoalhava, mas o choque ainda estava grande, não por ter matado alguém, mas por ter entendido o que aquele porco faria, ela havia livrado o mundo de um homem cruel que achava que as mulheres deveriam o servir mesmo sem sua vontade, quando voltou a si percebeu que todos a encaravam.

-Marina??

-Estou bem Mestre! Camille venha aqui pequena, agora está tudo bem!

A menina saiu de trás das madeiras abraçou as pernas de Marina que a pegou no colo, Mestre não se importou e deu ordens para que voltassem ao navio, no caminho Marina contava tudo o que havia acontecido e deixou claro que a menina ficaria com ela no navio e que quando retornasse para casa deixaria Camille com sua mãe e seu pai, os irmãos iriam a receber de braços abertos e sua mãe ficaria feliz.

Adentraram o navio e Marina colocou a pequena na cama, deitou ao lado dela e fechou seus olhos, queria poder dormir em paz, mas aquele homem perverso adentrou seus sonhos e a fez ter péssimas imagens enquanto dormia.

Depois da Tempestade Livro 2 O Pirata Onde histórias criam vida. Descubra agora