↬21 de julho de 2008.
Alika.
Eu já tinha vivido o suficiente para quebrar a perna duas vezes, levar cinco pontos cirúrgicos na testa e deslocar o pulso, e eu só tenho 8 aninhos. Por sempre tropeçar do nada em superfícies aleatórias, fora os ralados incontáveis que tinha no joelho, ou em qualquer outra parte do meu corpo. Eu não sou uma pessoa muito equilibrada, e também não tinha muita sorte. Talvez devesse mudar meu sobrenome de Ricci Romano para Desastre. Porque sinceramente? Sem condições.
Mas calma, não era sempre que eu estava estabacada no chão com o joelho sangrando, ou quebrando algo de valor na casa de algum amigo da mamãe. Era só as vezes, tipo três vezes ao dia, e tinha meses que não era nenhuma vez, o que devido as circunstâncias consideravamos um grande avanço.
Sempre escutava de algumas pessoas mais velhas coisas do tipo: "Tão linda, e delicada, mas não consegue parar em pé blá blá blá"
Sério? Era muito chato. Eu não fazia de propósito, só acontecia. Não era como se eu tivesse controle sobre isso.
Por sempre estar caindo, e me machucando sem querer quase o tempo inteiro, a maior parte das vezes com arranhões ou mesmo com alguns roxos que eu não fazia ideia de como surgiam, mamãe preocupada montou um mini kit de primeiros socorros e colocou na minha mochilinha.
Então era comum me ver com a minha mochilinha roxa, lindissíma, o meu macacão preferido com uma blusinha bonita de desenhos coloridos e um tênis estilo all star branco, que eu sempre personalizava do meu jeito, em meus pés pra cima e para baixo, com coisas que eu jamais poderia esquecer: o mini kit de primeiros socorros; meu caderno de desenho e meu estojo, com meus lápis e canetinhas coloridas; e a pasta com meus adesivos e papéis ofício coloridos, para minhas colagens, um tubo de cola e tesoura sem ponta para caso precisasse usar.
O meu mini kit de primeiros socorros, não havia medicações do tipo Dipirona e Amocilina, era apenas: soro fisiológico; álcool 70; merthiolate; algodão; sabonete neutro; ataduras; gases e band-aids coloridos, alguns com os mais variados desenhos. Mamãe ensinou direitinho, eu e o Isaac, pra usar cada um dos itens, caso a gente precisasse um dia. E desde os 4 anos e meio, eu sei como cuidar dos meus machucados e os do Isaac.
Aos 8 anos de idade, tivemos que nos mudar de casa, indo parar no outro lado do oceano. O que me deixou um pouco triste sabe? Mas mamãe foi convidada para trabalhar em um vilarejo no Condado de Cheshire - Inglaterra, chamado de Holmes Chapel, bem longe do Alaska. Iria trabalhar como professora, em uma das escolas de lá. Ela não poderia perder essa oportunidade, então não teve muito o que pensar, só pegar e se mudar de mala e cuia com nós dois.
Porém eu não gosto de mudanças, gosto de seguir rotinas e estar sempre com as mesmas coisas, sem necessidade deixar tudo pra trás. Principalmente eu, que deixei a Flora pra trás. Ela era minha melhor amiga sabe? Eu sempre cuidei dela, e agora vou estar longe, quem é que vai tirar os cupins? E se cortarem ela enquanto eu estiver fora? AH NÃO! VOLTA!
- Não fica assim... - diz o Isaac a me notar com um bico nos lábios triste.
- Mas Saac... e se... - não consigo terminar de falar pois a ideia me apavora e me deixa com medo.
- A Flora é uma árvore esperta Li, ela vai ficar bem. O tio Fernando prometeu cuidar dela, e pode ter certeza que sempre que a gente voltar aqui ela vai tá lá. - promete enxugando a lágrima que descia pelo meu rosto.
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The lost comet
FanfictionA busca incessante por rótulos nos limita, e muitas vezes nos fazem sentir como se fôssemos um pedaço de bosta. Nos frustramos o tempo inteiro, por nunca conseguir atingir o padrão perfeito. Esquecemos completamente que somos livres para ser o que...