capítulo 3

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   Quando ele saiu ,minha mãe me olhou preocupada.
  --- Filha, quero  te pedir um favor.
   Aproximei -me dela.
  - Claro mãe, diz.
   Ela pega em minhas mãos.
  -  Peço que não conte para seu pai que o doutor veio aqui.
-Está bem ,eu não falo, mas por quê?
   Ela soltou minha mãos e virou de costas para mim.
-Sabe como seu pai é,  vai que  ele fique enciumado...Aí...
   Eu a interrompo.
- Claro, tem toda razão. É melhor não arriscarmos.  Não quero que ele a proíba de fazer suas consultas.
  -Muito obrigada filha.
   Mudei de assunto:
  - Já fez o café? -Perguntei.
  -Não, ainda não.
  -Então ,vamos fazer ? Eu te ajudo. Estou com muita fome. E você sabe que eu amo cozinhar.
-vamos logo então. ---Disse ela com um sorriso grande.
  Nós entramos e fomos para cozinha. Peguei a cafeteira e coloquei água nela e fechei.  Enquanto    isso minha mãe pegava o pó. Trouxe o pó até mim e eu coloquei dentro da extremidade da cafeteira.  Em seguida, liguei o fogão e sobre ele coloquei a cafeteira.
   Depois de oito minutos ficou pronto.
  - Filha ,vai acordar seu irmão.
  -ok.
   Fui até o quarto do Rodrigo para acordá - lo. Entrei sem bater a porta . Fui a sua cama e, comecei a mexer nele. Depois de um bom tempo ele acordou.
  -Deixa eu dormir Luana. -Disse ele revirando-se na cama sonolento.
  -Acorda logo vai!O café já tá pronto. Mas... Se não quer comer o problema é seu. Eu não vou ficar insistindo como se você fosse uma criança.
   Rodrigo ,ouvindo o que eu disse, se levantou rápido.
  - Já estou indo.
  - Ótimo.-Disse e saí do quarto.

  Cheguei na cozinha e disse:
  -Mãe, Rodrigo já vem .
  -certo. -Disse ela olhando pra mim. Olhando tão fixamente que tenho certeza de que viu o machucado perto da boca . Por um momento havia me esquecido dele ...
   Minha mãe veio até mim e me olhou triste .
___Bernardo te bateu forte mesmo ontem...
___Sim... Mas o que importa? Já deveríamos estar todos acostumados com isso. É sempre assim quando ele está bêbado. Me bate sem motivo algum ,como se eu fosse á mais terrível pecadora da Bíblia.
- Aquele desgraçado não vai se safar por muito tempo,eu juro. ---Eliana olhou para um ponto distante---Um dia,ele pagará por todo mal que já causou nas pessoas desse mundo...
___Tenho fé que sim. Mas só queria que ele mudasse.
___Entenda meu bem, pessoas como Bernardo, dificilmente mudam. Então não ponha fé nisso.
   Minha voz não saiu. Então desistir de falar. E por um momento pensei em minha vida diferente,eu bem longe dali ,com minha mãe e meu irmão,eu  fazendo faculdade e...
___Luana,tem mais algum outro machucado?---Perguntou minha mãe me acordando do meu devaneio.
___Sim, mas não importa. Já cuidei deles lá na casa da Débora.
  Ela se aproximou de mim.
___Deixa eu ver.
   Eu me afastei.
___Não!Pra quê?
    Não queria entristecer mais ainda minha mãe. Se ela visse os hematomas nas costelas,coxas e braços, poderia querer confrontar papai, aí surgiria uma nova briga.
    Ela se aproximou de novo.
___Pra mim ver a situação,garota. Sou sua mãe e me preocupo.
___Vocês gostam de ficar revivendo o passado!Será que não podem esquecer isso ?
___ Não, não esqueço!---Ela foi mais rápida que eu e levantou minha blusa,vendo logo de cara o hematoma roxo.

  Nessa hora, Rodrigo entrou e ouviu essa frase.
- O que aconteceu, o papai bateu nela de novo?
-Sim , e como sempre você não viu! Pois estava dormindo. -falou Eliana.
- Ai que raiva desse homem! Afinal, porque não se mete com alguém do seu tamanho? Bate numa menina indefesa? Que maldito!
   Me afastei de mamãe bruscamente.
- Chega gente!  Vamos parar de falar nisso por favor!  O que aconteceu já aconteceu,  não tem como voltar atrás e evitar. Não quero ficar remoendo esse assunto, cada vez que me lembro me dá uma dor enorme dentro de mim. Por isso vamos esquecer está bem?
  -Não Luana,não tem como esquecer. E te peço desculpas por outra vez não poder fazer nada. -Disse Rodrigo decepcionado consigo mesmo.
-Sem problemas. Vou na padaria comprar pão. Aproveito para tentar esfriar a cabeça. Volto já, está bem?
-Ok filha.-Disse Eliana com uma cara triste, pelo fato das coisas continuarem do mesmo jeito e não poder fazer nada para evitar o sofrimento da filha.

    Eliana se sentia culpada por sua filha sofrer. Queria evitar esse sofrimento, mas como? Se Bernardo só piorava dia após dia. Quando casou-se com ele,sabia que estava vendendo sua alma ao diabo, mas pensava que as coisas não seriam tão ruins assim. Pensava que seria um pouco mais fácil.  Pelo menos um pouco. Queria fugir daquela casa,queria sair dali com seus filhos em busca da felicidade que tanto ela merecia. Mas o medo sempre a acompanhou ,não permitindo sua fuga...

  Luana foi em seu quarto pegar sua bolsa que estava com cinco reais dentro. Depois foi direto pra lá.
   Chegando na padaria , entrou e comprou   três reais de pães.  Pagou o homem e saiu.
  Estava ainda na calçada  da   padaria,    segurava na mão uma  sacola branca cheia de pães. Parou um instante para checar o troco que o homem dera apenas em moedas ,e   de repente veio um carro preto luxuoso que passou em alta velocidade  em cima de uma poça d'água, que acabou molhando Luana. O tal carro preto parou alguns metros à frente.
   Luana  ficou indignada com aquilo. Como pode uma irresponsabilidade daquelas?  Só podia ser um  motorista bêbado pra enxarcá-la daquele jeito. Realmente, muitos andam por aí sem saber dirigir.
 

 
 

 

A menina que sabia sorrir💙Onde histórias criam vida. Descubra agora