Capítulo Um

33.2K 2.6K 3.4K
                                    

R A V E N

Eu estava distraída no meu primeiro turno no Pandemônio.

A cidade no interior do Arizona que havia se tornado meu novo lar era exatamente o que eu esperava: um lugarzinho no meio do deserto, cheio de pessoas perdidas. Havia algo sombrio em Carmine e, ao mesmo tempo em que isso despertava minha curiosidade, me deixava aterrorizada. Nos meus primeiros dias, tentei desesperadamente procurar um emprego razoável, mas não encontrei nada. Nada além do Pandemônio, que parecia ser o bar mais conhecido das redondezas.

O lugar era meio pitoresco, bastante parecido com o que se espera de um característico bar do sul. E eu havia sido contratada fácil demais. Apenas falei com a bartender, uma garota alta e franzina chamada Fiona, e ela me admitiu no mesmo instante, pedindo para eu aparecer para o trabalho na noite seguinte. Não reclamei. Eu precisava muito de dinheiro. O salário era inesperadamente alto para o cargo de garçonete. No momento, pensei ter tirado a sorte grande, mas, no dia seguinte, quando Fiona me instruiu sobre minhas funções, soube que tinha algo errado com o lugar.

— Não seja intrometida — avisou ela, enquanto secava alguns copos com um pano branco. — Faça seu trabalho e apenas isso. Não faça perguntas e fique longe do porão.

— Por quê? O que há no porão? — Deixei escapar a pergunta, estreitando meus olhos em sua direção. Ela rapidamente parou o que estava fazendo e me fitou de trás do balcão de madeira do bar.

Fiona era jovem, talvez pouco mais velha do que eu. Tinha cabelos castanhos num corte pixie e olhos verdes bem redondos. Seu nariz era pontudo e suas sobrancelhas, bem finas. Usava uma maquiagem pesada, com muita sombra nos olhos e roupas completamente pretas. Várias tatuagens enfeitavam seus braços finos.

— Não vai durar neste emprego se não souber manter seus comentários para você mesma. A outra garçonete não durou.

Muitas coisas passaram pela minha cabeça quando ela disse aquilo. Seu tom era muito sério, bem como a feição em seu rosto pálido. Eu não era boa em ficar longe de problemas, mas, desde que fui embora de Dallas, estava determinada a tentar. O Pandemônio parecia ser uma grande, grande encrenca. E se eu não precisasse tanto daquele maldito dinheiro, eu teria ido embora naquele mesmo instante.

— O que houve com a outra garçonete? — perguntei, cruzando os braços. Eu precisava saber disso. Fiona gargalhou, voltando a secar o copo.

— Bem, ela se apaixonou pelo chefe.

Franzi o cenho. Parecia um motivo meio fútil. Eu não deixaria nada ficar entre mim e meus objetivos. Principalmente, algo tão tolo quanto aquilo.

— Garanto que não terei o mesmo problema — rebati, me endireitando. Fiona deu de ombros, meio desinteressada.

— Se você diz.

Suspirei, deixando a conversa morrer para lá, e levei minhas coisas para o vestiário dos funcionários, que ficava no corredor atrás de portas duplas de madeira, no canto direito do salão principal. Eu era a única garçonete de um bar bem grande como aquele. Havia muito trabalho a fazer. Estava determinada a enterrar minha curiosidade, como Fiona ordenara, apesar dessas regras me incomodarem. Tudo aquilo me lembrava da minha antiga casa, para a qual eu nunca desejava voltar.

Após guardar minha mochila no armário de metal designado a mim, voltei ao salão para ajudar Fiona com os preparativos para o início do turno da noite. As caixas de som na parede foram ligadas, e logo a melodia de um rock clássico começou a tocar. Descobri bem rápido que o movimento ali era alto. Provavelmente, isso se dava porque o Pandemônio ficava perto do campus da Universidade de Carmine. Próximo do alojamento estudantil e das casas de irmandades, era o local perfeito para os universitários encherem a cara.

Beautiful Monsters (COMPLETO NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora