Capítulo Cinco

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R A V E N 

Um mês antes

Eu estava cansada.

Mais do que isso, estava exausta.

Minha última refeição fora no dia anterior, hambúrguer e fritas. O sul do país nunca esteve tão quente e com aquele sol escaldante sobre mim ficava difícil percorrer longas distâncias. Ainda assim, eu tentava caminhar, porque não poderia gastar todo o dinheiro que havia roubado de Joel em transporte, ou depois não conseguiria me manter em Carmine. E eu não queria chegar implorando ajuda para Stephen, meu orgulho era maior do que isso. Queria ter dinheiro o suficiente para me sustentar na universidade até arrumar um emprego — o que eu esperava que não demorasse.

Assim que desci do quarto ônibus, me vi em alguma cidade aleatória do centro-oeste do Novo México, sem dinheiro para um quinto ônibus que me levaria até o Arizona. Estava andando por estradas de terra desérticas desde então, tentando chegar à interestadual. Com sorte, lá eu conseguiria carona com alguma alma bondosa. Ou então, poderia me oferecer para lavar pratos em qualquer restaurante de beira de estrada, apenas em troca de uma refeição ou de alguma grana extra.

Apesar de cansada, não me arrependia de ter fugido de casa. Não importava o tipo de vida de merda que me esperasse fora de Dallas, qualquer coisa seria melhor do que o lugar onde eu havia crescido. Mesmo que para isso eu precisasse andar pelo deserto do Novo México esperando a desidratação ou a insolação — o que viesse primeiro.

Em frente, a menos de um quilômetro de distância, vi o que parecia ser um posto de gasolina. Consegui sorrir. Segurei com mais firmeza a alça da mochila de couro em minhas costas e comecei a caminhar com mais determinação. Assim que me aproximei, entretanto, percebi que aquele lugar já estava abandonado há muito tempo. A fachada estava caindo aos pedaços. As janelas da loja de conveniências estavam quebradas e, através do vidro sujo e estilhaçado, eu podia ver as dezenas de prateleiras completamente vazias lá dentro.

Dei um longo suspiro, levando a mão à nuca.

Me perguntei se Joel já havia enviado seus homens atrás de mim. Eu daria tudo para ver sua cara ao perceber que eu tinha sumido. Provavelmente, ele não se importaria com o que acontecesse comigo, mas Connor sim. Ele sabia que eu era valiosa, que poderia acabar com seu império.

Arrastei os coturnos em meus pés até o meio fio e me sentei na beira da estrada completamente desértica, sob a sombra que a cobertura do posto de gasolina fornecia. Estava ofegante, com os músculos doendo, precisava descansar por um momento.

Retirei de dentro da bolsa o toco quebradiço do que restara de um lápis de carvão e o meu inseparável caderno de desenhos. Abri numa página em branco aleatória e comecei a desenhar.

Havia um deserto de terra vermelha, exatamente como aquele ao meu redor, com montanhas pontiagudas no horizonte e um céu muito azul e nada esperançoso. Na verdade, tudo o que eu queria naquele momento era um belo manto de nuvens cinzentas sobre a minha cabeça. No centro do desenho estava uma garota, dava pra ver suas pernas finas pelos shorts jeans gastos que ela usava. Pernas ossudas e tornozelos finos que terminavam num par de botas de couro. Cabelos desgrenhados e cheios de nós e olhos fundos e vazios. Ri ao observá-la.

Ela era realmente uma desgraçada sem sorte.

Foi logo em seguida que ouvi o primeiro som após horas de um silêncio perturbador. Era o barulho do motor de uma motocicleta. Levantei o rosto, colocando uma mão reta acima dos olhos, na linha das sobrancelhas, para que eu pudesse enxergar sem os fortes raios solares atrapalhando. A moto logo entrou em meu campo de visão. Era uma daquelas grandes, pretas e reluzentes, com detalhes em metal.

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