Capítulo Seis

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R A V E N

A noite no Pandemônio não estava movimentada daquela vez. Eu estava atrás do balcão do bar e Fiona havia saído para atender um telefonema. Eu tamborilava os dedos de uma mão sobre a superfície de madeira e a outra rabiscava esboços aleatórios no sketchbook. Vez ou outra, meus olhos passeavam pelo salão, apenas para se depararem com este quase completamente vazio. Era compreensível, visto que a grande parte dos frequentadores do bar provavelmente ainda estava sofrendo demais com a ressaca do fim de semana para querer se embebedar de novo.

Enquanto minha mente flutuava no ritmo da música que tocava baixinho, eu desenhava displicentemente. Gostava de esboçar estranhos. Era algo sobre captar sua essência e, ao mesmo tempo, brincar com as hipóteses sobre suas personalidades. Naquele momento, eu tinha na ponta do lápis os rostos dos clientes do Pandemônio e me indagava sobre suas vidas. O que poderia fazer uma mulher bem vestida de meia-idade beber sozinha quatro rodadas de picklebacks em plena segunda-feira à noite? Quem, em sã consciência, aguentaria tomar tantos drinks de uísque seguidos de picles em menos de meia-hora?

Quando a porta se abriu, levantei o rosto, esperando a chegada de mais clientes que pudessem me distrair. No entanto, paralisei completamente quando me deparei com Nick entrando no bar. Ele varreu o salão com seu olhar antes que este me encontrasse, então marchou com seus coturnos em minha direção, sentando-se num dos banquinhos à minha frente.

Nick vestia apenas uma jaqueta de couro marrom sobre seu torso nu e, apesar das auto represálias, não pude deixar de encará-lo. O cós de suas calças era perigosamente baixo, de modo que eu podia ver a barra da cueca vermelha em seu quadril. Ele cruzou as mãos sobre o balcão de madeira.

— Me vê uma cerveja — pediu, rude. Notando minha hesitação, ele enfiou uma mão no bolso da calça, tirou de lá um bolo de notas e jogou sobre o balcão.

Estalei a língua.

— Poupe seu dinheiro, custa só três dólares — falei, fazendo questão de não tocar na grana.

Me virei, indo até o refrigerador, e apanhei uma garrafa de cerveja. Com um abridor, arranquei o lacre de metal e a deslizei na direção de Nick. Arranjei algo para fazer, organizando os copos e taças nas prateleiras sob o balcão. De soslaio, entretanto, eu conseguia ver a feição pensativa dele. Não pude me conter e ficar em silêncio por muito mais tempo. Me aproximei.

— Eu não me lembrei de você naquela noite. Você está diferente demais e, honestamente, por que diabos achou que seria uma boa ideia seguir com sua moto uma garota sozinha no meio da noite?

Nicholas permaneceu me encarando. Seus olhos escuros eram a única semelhança com o irmão. Ambos eram muito bonitos, cada um à sua maneira. A pele de Nick era bronzeada, queimada pelo sol de todos os lugares quentes que ele atravessara sobre sua moto. Hades era pálido como um vampiro, e parecia ser mais alto também.

— Aquilo foi estúpido. Não quis te assustar.

— Bem, você assustou. Muito.

— Eu não iria te atacar. Te encontrar andando pelo campus foi uma grande coincidência. Quis apenas conversar.

Ele baixou os olhos, fugindo do meu escrutínio.

— Deveria ter parado, descido da moto e me chamado. Deveria ter dito quem era.

— Mas então vi que você estava com ele e logo não havia mais o que ser dito.

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