Capítulo Quatro

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H A D E S 

O carro estava silencioso. Até demais.

Eu tinha um dos braços apoiados no batente da janela aberta do Camaro. A outra mão guiava o volante lentamente pelas ruas escuras. Normalmente, eu gostava de bem mais velocidade do que aquilo, mas queria pegar leve com a garota ao meu lado. Com certeza o episódio com Hive já fora assustador o suficiente. Ela não precisava de mais adrenalina naquela noite.

Olhei de soslaio para a figura de Raven. Ela estava tensa. Eu podia ler sua postura facilmente. As pernas grudadas uma na outra, os braços ao redor do próprio corpo. Estava praticamente colada na porta do passageiro, mantendo a maior distância possível de mim. O cheiro do seu perfume havia impregnado o interior do veículo assim que ela entrou ali. Doce e suave. Adjetivos avessos à personalidade dela, pelo o que eu conhecia. Não a culpava por sua hostilidade direcionada a mim, contudo. Eu bem sabia que ela tinha muitos motivos para desconfiar de mim e do Pandemônio.

E pensar nela me distraiu do ódio que me consumiria se eu focasse no retorno de Hive. Eu, definitivamente, preferia admirar a beleza quase sobrenatural de Raven. Seus cabelos eram tão escuros quanto a noite densa, contrastando com o tom prateado de seus olhos. Ela era linda.

Precisava admitir que havia a subestimado. Quando ouvi sobre ela, a garota que fugira da máfia do Texas, pensei que desapareceria. Foi, no mínimo, surpreendente vê-la em meu bar.

Mas, naquela noite, ela não era minha maior preocupação, Hive era. Eu não podia acreditar que o desgraçado estava de volta. Depois de todo o caos que ele deixara, simplesmente retornou como se nada tivesse acontecido. E assim que o vi, todos os últimos acontecimentos voltaram com tudo na minha cabeça. O sentimento de raiva me possuiu. Me contive para não quebrar sua cara insolente e ingrata em mil pedaços.

O maldito Hive novamente em Carmine.

Trinquei o maxilar, pensando em como poderia lidar com aquele problema de maneiras que me poupassem estresse e esforço — o que parecia impossível.

Apertei o volante forte em minhas mãos, até ver os nós dos dedos empalidecerem.

Era mais do que vingança. Hive precisava ser punido e era meu dever assegurar isso. Eu havia passado muito tempo tentando ensiná-lo o caminho correto, a tomar as decisões certas. Não obtive sucesso antes e agora era tarde demais para isso.

— Quem era aquele cara? — A voz de Raven quebrou o silêncio, virando o rosto para mim. Os grandes olhos cinzentos me encaravam incisivos.

Havia algo escondido ali. Eu podia ser um bastardo egoísta na grande maioria das vezes, mas sentia algo quando a olhava. Sabia, conhecendo Joel McKinley, que Raven não tivera um passado fácil. Conseguia enxergar isso através de seu comportamento irreverente, escondido por baixo da armadura de sua rebeldia.

— Nick Wrath — respondi, voltando a olhar para a pista —, meu irmão.

Pelo menos era o que dizia nosso sangue — ou parte dele. Eu não considerava realmente que tinha um irmão. Nicholas parou bem cedo de agir como tal. Então, traiu a mim e aos nossos amigos. Escolheu ser Hive em vez de Nick. Era um covarde, afinal.

— Que relação amigável a de vocês. — Ironia escorreu de seu tom de voz. — Aquela conversa foi mesmo muito fraternal.

Eu não pude evitar rir. Raven brava era atraente, mas Raven sarcástica era inexplicável.

Ela me olhou com o cenho franzido por um par de segundos antes de desviar o olhar para a frente.

— Normalmente as coisas entre nós são mais feias do que aquilo — expliquei, mas ela não insistiu no assunto, apenas murmurou uma resposta monossilábica que esbanjava desinteresse.

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