Obediência

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Gine Green. Ele não poderia perguntar a ninguém quem era ela. Não ali. Ela dissera que ele descobriria quem ela era apenas pelo nome, mas ele não conseguia imaginar como. Nunca havia ouvido falar numa família Green. Sadala tinha poucos sobrenomes: Sayan; Sadala; Vegeta, da família real; Tsufur, dos estrangeiros subjugados anos antes... ela poderia não ser oriunda daquele país, mas não tinha nenhum sotaque.

Não podia passar tanto tempo pensando naquilo, afinal. Tinha tarefas a cumprir e o seu dia de folga estava um pouco distante. Mas era perturbador saber que ali, no meio do nada, haviam internado uma mulher que não tinha nenhum problema psiquiátrico por algum motivo que ele desconhecia.

Naquela noite, ele percebeu que Toma e Pambukim se atrasaram para o jantar, e estranhou. De repente, os dois entraram no refeitório, calados. Pambukim tinha o rosto arranhado. As marcas de unha faziam quatro vergões paralelos e sangrentos na sua bochecha gorda. Bardock perguntou:

- O que foi isso?

- A louca do quarto 25. Fez isso em mim quando eu tirei as correias dela para dar a sopa.

- Como é? – Bardock teve um choque e entendeu que ela o manipulara para não tomar o remédio e atacar o seu colega.

- Sei lá. Talvez o Rophynol não seja mais suficiente. Chamei o doutor Paragas, e eu e Toma acabamos levando-a para a sala de choque a mando dele.

- Choque? Precisou chegar a esse ponto... sabe se ela é perigosa ou violenta?

- Sei lá... o doutor disse que, por uma questão de segurança, a partir de agora eu e Toma daremos a refeição juntos... você não vai ter esse problema, não precisa soltá-la da contenção, por isso ela não te ataca.

Bardock sentiu-se um tanto perturbado com as informações que Pambukim e Toma deram a ele sobre a sessão de choques a qual ela havia sido submetida. Ele se sentiu mal, imaginou por que ela atacara Pambukim e a resposta sempre era a mesma: ela só poderia realmente ter algum distúrbio sério e, pior, o havia manipulado. Mas ele não conseguia entender por quê.

Naquela noite, ele não conseguiu dormir bem. Na escuridão dos seus aposentos ele mirava o teto sob a luz azulada da lua e só conseguia ver aqueles olhos negros desafiantes e destemidos, tão diferentes do olhar vazio com o qual ela contemplava o teto nos primeiros dias. Que mulher era aquela? Por que estava ali?

Quem poderia ser Gine Green?

Ele não queria sentir-se obcecado por ela, mas parecia inevitável depois daquele dia. Ele precisava entendê-la, ou seria ele quem acabaria enlouquecendo. Depois de muito revirar-se na cama, acabou adormecendo um sono intranquilo, como desde o tempo da guerra ele não tinha.

No dia seguinte, ele deixou a paciente do quarto 25 por último. Entrou e ela, como sempre, olhava para o teto. Ele não conseguiu dizer seu habitual bom dia, ainda mais quando percebeu as marcas dos terminais do aparelho de choque elétrico em suas têmporas e testa. Ele começou a preparar a prescrição e observou que a dose prescrita era maior que anterior. Quando deu um suspiro resignado, ouviu o riso dela atrás de si.

Virou-se, sério e disse:

- Qual a graça? Gostou de tomar um choque elétrico? Por isso que me manipulou para não te aplicar o Rophynol?

Ela o olhava com uma expressão que ele ainda não vira naquele rosto. Era um misto de sorriso zombeteiro e deboche, mas com aquele mesmo olhar profundo que o perturbara no dia anterior.

- Foi doloroso. Mas já tive experiências piores... acredite.

- O que pode ser pior que um choque direto no cérebro?

Ira do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora