Ira do Desejo

Dia dos namorados

Gine estava diante do diretor do hospital de Piccolo City, mais de um ano depois de fugir desesperadamente com Bardock, e ele disse a ela:

- Nunca li um relato tão consistente e nem tão contundente contra a internação manicomial quanto este que você escreveu, Gine – disse o diretor, um homem relativamente jovem chamado Neil Daimaoh. – certamente a sua experiência te favoreceu.

- Sim, doutor Daimaoh. – disse Gine, séria – eu já era contra esse tipo de internação antes, apenas por minha experiência clínica, mas como não era minha especialidade, nunca tinha escrito nada sobre isso. Passar por tudo aquilo consolidou as impressões que eu tinha. E se eu não tivesse ajuda para fugir de lá... – a voz dela embargou-se ligeiramente, mas ela não chorou e completou – eu hoje não estaria aqui, para relatar o que vivi.

O homem a encarou. Ele sabia sua obrigação, deveria encaminhar quantas cópias possíveis daquele relatório às autoridades competentes. Já se decidira a se engajar naquela luta. Ele então completou:

- Eu fico satisfeito em ter você no nosso corpo clínico, e lamento muito a sua perda. Foi ele quem nos alertou para tudo e mandou um relatório sobre todos aqueles abusos que você sofria. Nós acreditamos nas cartas dele porque sempre houve uma forte suspeita de que havia esse tipo de prática em Sadala. Bardock foi um herói... mesmo agindo pelos próprios meios e da sua própria forma. – ele disse.

Ela sorriu. Quando fugira, achara o dinheiro que Bardock deixara: quase um ano e meio de salários dele estavam num envelope no porta-luvas do carro, e com o dinheiro, ela começara nova vida em Namek, tentando não pensar nele. Ela havia esperado por ele no dia dos namorados, alimentando alguma espécie de pensamento mágico, mas ele não aparecera.

E ela compreendera, então, que estava sozinha.

Meses depois, explodiu uma grande crise política em Sadala: o seu ex-noivo, agora rei do país vizinho, havia sido assassinado dentro de um bordel que ele frequentava anonimamente na capital de Sadala. Havia sido um escândalo mas ninguém descobrira efetivamente qual dos grupos políticos havia assassinado o jovem rei: republicanos acusavam os comunistas; comunistas, por sua vez, acusavam os anarquistas, que simplesmente diziam que se eles tivessem cometido tal ato heróico jamais esconderiam da sociedade como faziam os verdadeiros criminosos, que deviam ser os comunistas ou os republicanos.

Depois do assassinato, veio a revolução democrática, depois de um breve período de incertezas: uma junta de governo havia sido estabelecida para garantir que a rainha – grávida do herdeiro de Sadala – pudesse ser coroada como governante, mas o clamor popular foi mais forte. Depois da guerra civil, Sadala havia vivido um difícil período de reconstrução e ditadura, mas o exército estava dividido em relação àquele movimento: a rainha era jovem, inexperiente e certamente seria manipulada pelos velhos anciãos conselheiros da junta de governo, que certamente não estavam preocupados com o povo.

E, justamente por isso, quando explodiu a revolta na capital, os cinco conselheiros foram mortos, embora a rainha tivesse sido poupada e enviada para o reino de Icejin, pedindo asilo ao Imperador Freeza. Uma coalizão popular, então, convocara eleições para uma assembleia constituinte, e elegera um governo provisório. Sadala finalmente caminhava para ser uma democracia.

Nesse meio tempo, Gine tentara entrar em contato com sua família apenas para descobrir que, logo depois que ela fora levada para o manicômio, um incêndio, provavelmente criminoso, havia destruído a propriedade da família e seus pais e irmãos estavam todos mortos. Ela tinha certeza que aquilo tinha sido obra do homem que quase destruíra sua vida e sua sanidade. Por Deus, que sorte ela tivera ao conhecer Bardock...

Quando lera sobre o assassinato do jovem rei, Gine chegara a pensar que aquilo poderia ter sido obra de Bardock. Mas o rei havia sido morto a mil quilômetros do lugar onde ela o vira pela última vez. Ela precisava entender que ele não voltaria, se não teria voltado no dia prometido. Se havia aprendido uma coisa sobre seu amado, era que ele nunca descumpria uma promessa.