No dia seguinte a garota passara toda a manhã adormecida sobre a cama do hospital, a cada duas horas um homem de olheiras grandes e cansado entrava no quarto, e com ajuda de Agnes introduzia mais medicamentos no soro.
Dereck veio no período da tarde, com a esposa, ele encostou na cama e passou a mão nos cabelos da filha carinhosamente, e encostada na porta a esposa observava friamente a filha.
⎯ Quer que eu traga alguma coisa? ⎯ pergunta atenciosamente o pai.
⎯ Não, está tudo bem. ⎯ Sussurra mansamente, deixando ser rendida pelo singelo ato paternal.
⎯ Devia ter nos falado sobre as marcas, ou sobre o que sentia. ⎯ continua o homem preocupado, mas a menina apenas suspira em resposta. Tudo que ela menos queria era um sermão, e seu pai entendia isso.
Jane revirava os olhos, quase bocejando em desdém. Os pais ficaram por alguns minutos e depois sumiram do quarto. Kiara dormiu por mais duas horas, e acordou com um cheiro estranho de flores. Ela pestaneja, com a visão embaçada, seus olhos se recusam a abrir e ela insisti.
Ela localiza um jarro de vidro, e dentro contém um boque de flores, são brancas com pigmentações rosas. As flores chamam atenção da garota, elas são como pequenas estrelas presas num buque.
⎯ O nome é Astrantia, vem do grego que quer dizer “Estrela celestial”, são muito comuns no continente Europeu. ⎯ Ele está perto da janela um de seus dedos saem da persiana.
Kiara Anderson poderia ter a mais grave amnesia, e nunca esqueceria da voz dele. Jason efetua passos até ela, que tira os olhos das flores para observa-lo.
⎯ Jason. ⎯ O tom de surpresa, é irrelevante ao do contentamento. Obvio, que seria Jason Resten!
Quem mais traria ou falaria sobre flores europeias em formato celestial?
⎯ Sei que não é muito afim de flores ou essas coisas muito piegas, mas também sei que é uma amante da natureza.
⎯ Elas são distintas e... maravilhosas. ⎯ ela sussurra, ainda sem conseguir falar normalmente. Suas cordas vocais estão inflamadas, e o som áspero prevalece na sua voz.
⎯ Sim, elas são. ⎯ Jason sorri meio sem jeito, um sorrisinho que ela não costuma ver.
Ele encosta na cama cabisbaixo, mexendo nos próprios dedos, acanhado.
⎯ Faz bastante tempo que está aqui?⎯ Kiara pergunta, retirando-o do alheamento.
⎯ Uns 10 minutos. ⎯ Ele responde afável, anestesiando os toques repetitivos dos dedos.
⎯ Que deprimente. ⎯ Kiara sussurra, com um sorriso extrovertido.
Seus olhos cinzas estão semicerrados, por conta dos poucos exercícios feitos com ele durante a semana inteira que se fez. Eles doem muito para serem abertos, em parte por conta da claridade.
⎯ Muito deprimente. ⎯ Ele diz retribuindo o sorriso. O castanho parece distante, com os olhos presos nas maquinas. Elas o deixam desconfortável. ⎯ Mas, como se sente?
⎯ Como se não tivesse dormido o suficiente, e esse lugar é sufocante, sinto que vou morrer a qualquer segundo.⎯ Ela diz, mesmo com um sorriso as palavras saem agonizantes.
⎯ E as dores?
⎯ Morfina, eles me dão morfina.⎯ Ela suspira, tentando alcançar um lampejo de brilho no olhar dele. Ela precisa dele. ⎯ A única dor é olhar para essas paredes idiotas, e ouvi esse funeral apitando nas maquinas.
Jason assente, não consegue imaginar como é ficar por mais de uma semana num lugar como aquele. Seus olhos encontram o porta-retrato na prateleira de vidro, a sua irmã está na foto ao lado de Kiara, elas aparentam empolgação.
Lembra de ignorar a garota flamejante nos corredores da escola, de ignora-la em todos os lugares. Há cinco anos ele ficara tão assustado com o abandono de sua mãe, e a morte de sua vó, que não conseguiria ser deixado por mais ninguém, e depois de ver a sua melhor amiga quase morta na sua frente, acreditou que talvez estivesse fadado ao abandono, e o seu único instinto foi ignora a sua vizinha.
Agora não consegue olhar para ela, sem que perceba que fora ele quem a tinha a abandonado.
Jason aperta a mão esquerda da garota, e olha finalmente nos olhos enevoados profundos dela.
Não vou abandonar você desta vez, vou ficar até o seu último suspiro, mesmo que o cinza dos seus olhos se transforme na escuridão.
Ele inclina sobre a garota, a respiração dele paira na face dela, fazendo-a vibra como na última vez. Kiara fecha os olhos e Jason pressiona seus lábios aos dela delicadamente, selando a sua promessa.
O beep das maquinas tocam incontrolavelmente, anunciando o aumento de batidas cardíacas da paciente, e Jason afasta vagamente.
Ela pode ver agora os brilhos dos olhos castanhos, e de modo estranho aquilo a conforta.⎯ Que bela música de funeral. ⎯ Ele diz, as comissuras da boca dele se esticam num sorriso mordaz, e as covinhas de suas bochechas aparecem.
Kiara rir empenhando-se ao máximo pelas dores faciais, e, portanto, um sorriso majestoso e veraz intensifica no seu rosto.
⎯ Eu odeio a sua cafonice, Jason.
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Sem Cores, Sem Dores
Roman pour AdolescentsKiara Anderson desde criança sofreu com sérios problemas de saúde, por conta de um câncer. No quase fim da adolescência, depois de varias tentativas de suicídio sem nunca conseguir chegar ao final, a mesma decide arrumar todos os preparativos do pró...