Dormira por cerca de seis horas até assustar devido ao pesadelo, sentou-se na cama empertigando-se, tomando para si todo o edredom.
Respirou forte, fechando os olhos entrelaçando os braços nos joelhos. Os seus pesadelos estavam cada vez mais constantes, e piores. Pensou em chamar por Agnes, mas acabou desistindo.
Andou pela cozinha com o copo de água na mão, esfregando a têmpora esquerda calmamente. Está no meio da madrugada.
⎯ Você está bem?⎯ era a voz rouca e baixa de seu pai, ele penetrava a cozinha em passos sonolentos, com os olhos inchados.
Ela estava de costas para Dereck, espreitando pela janela de vidro, o quintal escuro. Os vislumbres dos galhos sinuosos das arvores, e a água da piscina que se remexia, levando algumas folhas caídas sobre o azul naval, dançando de um lado ao outro.
⎯ Estou bem, pai. ⎯ falou falhando em disfarçar o tormento, persistia a fitar de modo constante o quintal, incapacitando o homem de ver algum indicio dos olhos assustados dela.
⎯ Pesadelo? ⎯ Diagnosticou, detectando a perceptível respiração desregular da filha.
⎯ Sim, eles estão horríveis. ⎯ Concordou, e sua boca treme repelindo o que foi dito.
⎯ Quer conversar? ⎯ perguntou cuidadosamente, ela quase de modo remoto o respondia.
Kiara aquiesce, e a sua expressão descortina a amargura. Ele se aproximou dela que permanecia com os olhos presos no quintal, em meio ao crepúsculo.
Ficara lado a lado com a filha mais nova notando, agora, também a tristeza da noite gélida.
⎯ Você assistia muito a Netgeo Wild quando mais nova, era tão fascinada pela natureza e, isso me deixava como um bobão observando você falar sobre animais. ⎯ A sua voz é baixa, e uma sorriso áspero aparece. As linhas dolorosas juntam em sua testa. ⎯ Um dia me perguntou se podia comer uma baleia, e eu coloquei uma invisível na sua mão, e você fingiu que tinha engolido.
Kiara processa os pensamentos em busca das imagens daquele dia. O homem de cabelos escuros passa a mão nos fios flamejantes da jovem garota e sorrir. Um sorriso iluminado. Faz muitos anos que viu um sorriso como aquele na face de seu pai.
Daria o resto dos seus dias de vida para poder vê-lo de novo, de sentir a imortalidade que o sorriso de seu pai fazia instalar nela.
⎯ Ficou por meses falando que sentia a baleia nadando dentro da sua barriga, anos depois descobrimos o câncer. ⎯ Ele diz culpado, a angustia dele a destrói. Kiara Anderson encara o homem, suas orbitas se inundam marejada. Maldito, passado infernal.
⎯ Eu não sou mais a sua garotinha, papai. Como a sua Jane diz, eu sou a garota maligna.⎯ Ela segura as lagrimas, até as mesmas evaporarem por completo. Ela sorrir, está pedindo por socorro, embora o homem de cabelos negros não possa detectar.
⎯ Janecy nunca disse isso sobre você. ⎯ Ele diz, sua voz é ténue e constante. É inocente, como uma criança que acredita em conto de fadas.
⎯ Ela faz muitas coisas que você não se permiti ver. ⎯ Ela resmunga.
⎯ A história da agulha novamente, isso é muito Alice no país das maravilhas.⎯ Escarneceu ele, os olhos curtos em ceticismo.
⎯ Foi isso que ela disse Alice no país das maravilhas? ⎯ Ela bufou. É irritante a forma ingênua que seu pai a encara.
Dereck tenta ir um pouco adiante da filha, mas ela se afastar em um passo brusco. As mãos dele paradas no ar, e a expressão aflita. Kiara desdenha da benevolência do homem, da ingenuidade dele. Lança aquele seu olhar repreensor, e dá as costas ao homem.
Agnes verificava as pílulas, e as organizava nos frascos escrevendo as informações em uma planilha no celular. A jovem terminava de vestir o suéter escolar, ainda atormentada pelos pensamentos relacionados ao seu pesadelo na madrugada, e da discursão com seu pai, a quem ela decidira não dar mais ouvidos.
⎯ Ele ainda não acredita em mim. Porque ele é tão cego? ⎯ disse inconformada, jogando os cabelos bagunçados pelo suéter para trás, fazendo um coque apressadamente.
⎯ Sr. Dereck ama sua mãe, e quando amamos alguém tudo que nos faz acreditar que aquela pessoa não é gloriosa, nós descartamos. ⎯ Ela não olhou para a garota, continuará anotando na planilha. Ela falara empolada, o que fez Kiara deduzi que Agnes também amará alguém daquela forma.
⎯ Meu Pai está amando alguém que não o merece, e eu vou provar pra ele. Talvez, seja por isso que ainda estou viva.⎯ Disse o presságio, e um ar tenebroso de vingança. Ela puxa um dos rasgões da meia calça, fazendo ser cade vez maior.
⎯ Como? ⎯ Agnes despertou um interesse momentâneo, fitando a garota na cama.
⎯ Alfie Devan. ⎯ Ela falou como se estivesse recitando um poema, olhando para Agnes lançando um sorriso torto e maquiavélico para a mulher.
⎯ Prometeu que esqueceria essa história, que não iria fazer nada. ⎯ Refutou ela, apelando para o lado sensato da flamejante.
⎯ Jurei isso um dia antes de me jogar da varanda, mas bom, quem podia imaginar que essa maldita varanda é danificada, e os arbustos é Anti-morte. ⎯ Ela explicou, e concretizou em um sorriso.⎯ Devan é a minha carta secreta, e vou usa-la.
Agnes sentira o arrepio que aquelas palavras tera á causado, e a preocupação de que Kiara travasse uma nova guerra familiar, e acabasse sendo destruída pela oposição. A mulher ouviu as buzinas na rua, e sentada na poltrona se esticou até as cortinas para ver o carro.
⎯ É os olhos de anjo, e dentes de demônio. ⎯ Anunciou a garota flamejante, tirando a oportunidade de sua governanta. Ela levantou-se da cama e apanhou a mochila do chão. ⎯ Alfie Devan, é mais trunfo.
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Sem Cores, Sem Dores
Fiksi RemajaKiara Anderson desde criança sofreu com sérios problemas de saúde, por conta de um câncer. No quase fim da adolescência, depois de varias tentativas de suicídio sem nunca conseguir chegar ao final, a mesma decide arrumar todos os preparativos do pró...