Gaiola é o troco - Mc Du Black
Minha cabeça rodava, antes mesmo de eu conseguir abrir os olhos, meu corpo doía e a sensação de ter sido atropelada por um caminhão era insistente sobre as minhas costas - dessa vez a ressaca tinha vindo com força -, mas conseguia ouvir as risadas das meninas da cozinha. Abri meus olhos lentamente tentando me acostumar com a claridade que entrava pela janela da sala da May. Eu havia dormido no sofá maravilhoso dela, depois da nossa festinha de ontem, mas não conseguia me lembrar de exatamente de como eu cheguei aqui, eu estava com uma camisola da May, que parecia mais uma camiseta, que chegava até metade das minhas coxas e meias. Me levantei e fui encontrar com Sarah e May no balcão da cozinha.
"Eu to fazendo panquecas" May me olhou com uma cara de animada, que eu sinceramente não sabia como ela conseguia, porque se bem me lembro ela deu PT antes de mim.
"Uma verdadeira gringa" minha voz ainda estava embargada e meio rouca, olhei pro relógio em cima da geladeira e não passava das 10:30 da manhã.
Sarah me passou um copo de água "Acho que você esta precisando disso, sua cara esta péssima"
"Tirando a dor de cabeça insuportável, eu to bem" fiz uma pausa tentando ter flashs da noite passada, mas a amnésia alcoolica tinha batido, o que era bem raro pra mim. "que horas a gente chegou? Não lembro de nada depois da May ter dado um berro no meu ouvido, sobre eu ter falado com o Ollie." Fiquei olhando pra Sarah na esperança que ela tivesse as respostas, não me recordo de ver ela bebendo durante toda a noite, então acho que o modo amiga protetora dela estava ligado, já que as chances de eu e a May termos extrapolado os limites ontem fossem enormes.
"AAAAAAAAAAAAAH VOCÊ FALOU COM O OLLIE?" antes que Sarah pudesse responder o berro da May atravessou a cozinha fazendo com que nós duas levássemos um susto.
"Porra Mayara, eu to com dor de cabeça, e eu te disse ontem, você não lembra?" o grito realmente tinha feito minha cabeça dar uma pontada, fazia muito tempo que eu não sabia o que era uma ressaca dessas
"Amiga, sinceramente eu não lembro de muita coisa não. O que eu lembro é de vocês chegando e só isso" Mayara colocou uma panqueca no prato na minha frente, e me olhou esperando que eu contasse tudo de novo.
Contei pra ela como eu tinha o conhecido, e o quanto achei ele arrogante e prepotente, e que meu encanto por ele tinha acabado, apesar de achar ele mais bonito pessoalmente do que eu todas as fotos que eu já tinha visto dele.
Enquanto eu terminava de contar, alguém bateu na porta. A May foi abrir, Sarah e eu ficamos nos olhando enquanto os sussurros iam aumentando conforme as pessoas atravessavam o corredor, vindo em nossa direção na cozinha.
Felix, Jackie, Ham e Ollie apareceram logo atrás da May. Ollie ficou me encarando e eu retribui o olhar porque eu não era obrigada a perder essa guerra, se ele queria me chamar estranha, eu com certeza não daria a ele o gostinho de ele saber que isso me incomodava. Ficamos nos encarando durante um tempo, enquanto todo mundo começava uma conversa do quanto a festa tinha sido muito boa.
"... não é Nara?!" a voz do Jackie fez com que eu voltasse pro assunto mesmo sem saber por que nome tinha sido citado em uma conversa, e eu nem tinha intimidade com ele, mal sabia que ele sabia meu nome.
"O Jackie ta lembrando de você e da May, colocando "Gaiola é o troco" pra tocar no meio da festa, e dançando funk em cima do balcão" Sarah provavelmente percebeu que o meu olhar perdido e disse sobre o que o Jackie tinha falado antes.
Eu abaixei minha cabeça no mármore gelado do balcão da May, morta de vergonha, eu sabia que alguma coisa tinha saído de controle ontem, mas não imaginava que essa coisa era a minha dignidade. Eu sempre ouvi funk no Brasil, mas dificilmente dançava, por motivos de: eu danço muito mal. E agora eu sabia que tinha feito um show de funk, em cima de um balcão, na casa de um M-boy.
"Ai meu deus, que chacota" eu disse com a cabeça ainda baixa. Todo mundo na mesa começou a rir do meu desconforto, não de maneira grosseira, mas como se entendessem que eu não lembrava que tinha feito aquilo, e que se estivesse sóbria provavelmente não faria. Levantei minha cabeça, enquanto todos mudavam de assuntos falando sobre mais coisas que haviam acontecido.
"Você arrasou" Jackie mexeu os lábios olhando pra mim do outro lado da mesa, com um olhar quente, de quem realmente estava sendo sincero.
Ficamos mais um tempo na cozinha, conversando coisas aleatórias, e as vezes eu conseguia perceber o olhar de Ollie sobre mim, o que de certa forma me deixava desconfortável, mas por alguma razão eu gostava de que ele estivesse me olhando.
Escutei meu celular apitando uma mensagem, na sala, e decidi ir ver o que era, porque hoje à noite teria um grande evento de uma revista de moda, e Vivian disse que era pra eu ficar a postos, caso ela precisasse de mim.
Antes que chegasse na sala, senti um braço me puxando, quando me virei vi os olhos de Ollie me encarando de perto, ele me puxou pra mais perto com os braços envolvendo a minha cintura, fazendo com que eu não conseguisse me mover, e nem sequer respirar.
"Então, seu nome é Nara, achei que ia ter que te chamar de estranha pra sempre." Meu olhar correu direto pra sua boca, e o quanto eu queria beijá-lo mas fomos interrompidos pelo toque do meu celular. Me libertei do transe em que estava.
"Eu preciso atender" falei enquanto o empurrava e tentava encontrar forças na minha perna pra chegar até o sofá e pegar o celular dentro da bolsa que não parava de tocar.
YOU ARE READING
Nothing Changes.
Romance" Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à...