Estranhos numa terra estranha

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Três semanas.

Vinte e um dias.

Quinhentas e quatro horas.

Trinta mil, duzentos, e quarenta minutos.

Precisou de apenas isto.

Precisou de apenas isto para a morena com olhos lindos roubar seu coração e cativar sua alma.

Três semanas.

Ela respirou fundo enquanto uma rajada de vento frio levou folhas marrons do outono até seus pés. A loira amarrou os cadarços de seu All Star enquanto um grupo de crianças correm por ela rindo, seus pais correndo atrás momentos depois. Ela sentou-se precariamente em um banco de madeira, passando seus dedos pelas ripas já desgastadas, cortes profundos cobrindo quase sua superfície inteira. Passou seus dedos pelas marcas como se estivesse lendo braille, as escritas a encarando de volta.

Quando Lisa contou para sua melhor amiga, Chaeyoung, quatro anos atrás que estava saindo de Bangkok, ela imaginava que estaria fazendo uma viagem para New York ou pegando um avião para a California. Nunca imaginou que estaria sentada numa estação de trem lotada a mais de nove mil quilômetros de distância de tudo que conhecia com apenas uma mochila nas costas e uma passagem de trem.

Ela respirou fundo novamente, sentido o cheiro que café fresco e cigarros, fazendo com que seu estômago já nervoso revire. Abaixou sua cabeça tentando liberar sua cabeça de todos os pensamentos que variam pegar um avião para casa em uma hora.

Porque estou aqui?

Se esticou e colocou a mão dentro do aquecido bolso de seu moletom, pegando sua desgastada passagem de trem. Passou a ponta dos dedos na escrita do pequeno pedaço de papel.

"Gare de Lyon, Paris para Veneza, Mestre." Lisa falou baixo como se não tivesse falado seu destino mil vezes nas últimas vinte e quatro horas.

Porque eu achei que isso ia ser uma boa ideia?

E sozinha?

Ela tinha apenas dezenove anos pelo amor de Deus, nem um pouco velha o suficiente para ir descobrir o mundo. Mas tinha que sair de Bangkok. E se pensasse mais sobre isso sabia que era uma aventura que tinha que enfrentar sozinha. Uma parte de si queria que seus pais não tivessem a deixado ir tão facilmente, pedir para fazer essa viagem era uma maneira de testar seu amor. Esperava que talvez eles finalmente demonstrariam preocupação com o seu bem estar. Mas isso, claramente, não era o caso, ou ela não estaria sentada sozinha em um banco de madeira em uma estação de trem lotada oito horas da noite.

Lisa olhou para o grande relógio preso em cima da plataforma, mostrando que em cinco minutos seu trem partiria. Ela aproveitou os últimos momentos de ar fresco antes de ter que embarcar no trem e permanecer lá por dez horas. Apenas rezou para tudo que é mais sagrado para que não tenha que dividir a cabine com crianças escandalosas ou um viajante animado demais querendo conversar o caminho inteiro. Colocou sua mochila nas costas novamente e foi para o final do trem, na esperança de achar uma cabine vazia longe da massa de famílias levando suas crianças infestadas de animação para uma viagem de final de semana.

Lisa passou por três vagões até encontrar um lugar vazio. Tirou sua mochila das costas e a enfiou debaixo de uma das duas camas ali presentes, antes de deitar-se nos macios lençóis suspirando de alívio. Parece que faz dias que não dorme. Desde que Chaeyoung a deixou no aeroporto não deixou sua mente livre o suficiente para poder descansar.

Pegou seu fone de ouvido de seu bolso, escutando a voz genérica de uma mulher anunciar algo em francês enquanto coloca sua playlist favorita para tocar em seu iPod. Se aconchegou na cama e fechou os olhos, deixando o som da guitarra e da voz calmante do vocalista a acalmarem. Ela sentiu o trem começar a se mexer enquanto afunda a cabeça ainda mais no travesseiro, tendo a completa intenção de dormir a viagem inteira.

Como se nunca tivéssemos dito adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora