Eu me odeio por perder você

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Surpresa e desculpa...

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Aqui vamos nós novamente.

Três anos.

Trinta e seis meses.

Cento e cinquenta e seis semanas.

Mil e noventa e cinco dias.

Esse foi o tempo que levou para encontrá-la novamente.

Esse foi o tempo que levou para descobrir que ela não era mais a garota que a prometeu o para sempre a um mundo de distância.

Três anos.

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Ela estava deitada sem se mexer na cama, o barulho da britadeira reverberando pelas paredes por conta da construção no final da rua. A cidade estava viva, buzinas de carros e sirenes da polícia podendo ser escutadas a distância. Com um suspiro, virou a cabeça para o lado para ver a foto em sua mesa de cabeceira, a foto delas. Estava em uma moldura escura e Lisa esticou a mão para passar os dedos por ela como fazia toda manhã. Se lembrava daquele dia como se fosse ontem. Lembrava do vento frio e da praça lotada. Lembrava do casal mais velho.

Tinha se passado três anos e ainda lembrava de sua risada. E nunca iria se esquecer do olhar em seu rosto quando viu a foto; o assustado, porém amoroso olhar que recebeu quando percebeu que Lisa estava atravessando suas paredes.

Sinto falta daqueles olhos.

Lisa retraiu sua mão após um momento. O cheiro de café vinha da cozinha, fazendo com que soubesse que a outra garota já estava acordada. A fragrância ainda fazia seu estômago revirar e a lembrava de seu pai, aquele que não tinha visto desde os nove meses que tinha se mudado para New York. Ele pagava o aluguel do apartamento e a comida na geladeira, mas não aparecia no seu aniversário. Vinte e dois e ainda era ressentida por isso.

Ela rolou para fora da cama e foi para a cozinha, o piso de madeira fazia barulho com cada passo que dava. Janelas gigantes cobriam toda a parede do apartamento dela- delas, o sol da manhã iluminando o ambiente. Desligou a máquina de café quando alcançou a bancada da cozinha. Se ocupou com seu próprio café da manhã enquanto braços circularam sua cintura e Lisa relaxou contra o abraço familiar. Sentiu lábios macios se conectarem com sua nuca e uma respiração contra sua pele. Ela se aconchegou mais no corpo, aproveitando a calma que vinha com aqueles braços.

"Bom dia, colega de quarto."

Uma dor familiar surgiu em seu peito, segurando seu coração e apertando forte. Ela franziu as sobrancelhas e respirou fundo, tentando engolir as simples palavras. Esse sentimento, essa incessante dor, sempre estava lá; foi a única coisa que nunca a deixou todos esses anos.

"Acho que já te falei para não me chamar disso, Chae." Ela suspirou, posicionando sua mão gentilmente no braço da garota. Passou os dedos pela pele enquanto sentia o aperto afrouxar, fazendo com que se sinta vazia.

"Desculpa, esqueci." Chaeyoung respondeu baixinho, dando um passo para trás. "Três semanas?"

"Três semanas." Lisa respondeu com a voz cansada.

Isso virou como um pseudônimo entre as duas melhores amigas, um compromisso para que Lisa não precisasse ouviu o nome em voz alta, não que fizesse tanta diferença.

Tudo lembrava a Lisa da garota, cada igreja e estátua, cada avião ou trilho de trem. Até a luz do sol a lembrava dos dezessete dias. E Deus a livre de ver alguém com um diário e uma caneta; esses eram os piores.

Chaeyoung foi na direção da geladeira e pegou o leite, colocando um pouco em seu café antes de passá-lo para Lisa, que estava com a mão estendida aguardando. A ruiva estava usando a camiseta que ganhou da amiga de Amsterdam, o design de folha com pequenos pontos azuis de tinta de quando redecoram seu quarto alguns meses atrás.

Como se nunca tivéssemos dito adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora