Regras do amor

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Finalmente voltei, acho que vocês vão gostar, pelo menos por enquanto né...

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As Dez Simples Regras
1. Sem encarar;
2. Sem flertes ou menções sexuais;
(Parte não escrita: Sem dizer coisas que fazem com que queiramos arrancar as roupas uma da outra)
3. Sem tocar;
4. Sem ficar com outras pessoas;
5. Sem usar roupas reveladoras;
(Parte não escrita: Lisa não pode usar roupas decotadas)
6. Sem dividir uma cama;
7. Sem confissões relacionadas uma a outra;
8. Sem andar, correr ou dançar na chuva;
9. Sem dizer o quão terrível isso é;
10. Sem promessas de para sempre.

Lisa afundou os dedos do pé na areia e deixou a água gelada passar por sua pele quente. O sol da tarde estava começando a se espalhar em um brilho laranja pelo horizonte. Inspirou profundamente o ar fresco, um grande contraste com o da capital. O céu era mais um azul claro do que um branco nebuloso, e o ar era menos úmido, a brisa balançando seu cabelo contra seu rosto. Ela conseguia sentir a areia branca embaixo de seus pés, as ondas lentamente aparecendo.

Era lindo.

Não estava dizendo que Hanoi não tinha uma beleza própria. Mas tinha algo de tirar o fôlego sobre a praia de Hoi An, com sua costa cheia de areia que fazia fronteira com o mar do sul da China e na direção do Oceano Pacífico, ou pelo menos foi o que Jennie havia lhe contado. Lisa ainda acha que deve ter coisas para se ver em Hanoi, comidas para provar e culturas para experenciar. Ela até sugeriu ambas tirarem um dia para ir à Baía de Ha Long, mas a morena apenas balançou a cabeça e continuou a fazer as malas. Lisa arrumou suas coisas sem protestar, confiando na garota; e não é como se tivesse outra escolha.

E quando eu já tive escolha em relação a você?

Lisa olhou para onde Jennie estava, os braços abertos e sua blusa fina branca balançando livremente. A garota estava observando o sol se pôr por trás da água na frente das duas, o céu ficava mais escuro com cada segundo que passava. Ela tinha aquele sorriso no rosto que ainda deixava a loira sem fôlego, querendo apenas ficar ali com os pés na areia a olhando até toda a luz sumir.

"Esse lugar é incrível." Jennie suspirou, mantendo o olhar na água. A luz laranja dançava pela superfície e refletia naqueles olhos castanhos perfeitos. Iluminava todo o seu rosto. Era nesses momentos que a morena era ainda mais linda para Lisa. Nos momentos que se perdia no mundo e suas paredes estavam no chão.

"Sim, é lindo." Lisa concordou, capturando a atenção dela e deixando um sorriso aparecer em seus lábios. "A vista também não é tão ruim."

Seu sorriso apenas aumentou quando a garota revirou os olhos em resposta e andou mais para adiante da praia. Lisa riu e virou de volta para a água, olhando para a água que se estendia por toda a extensão do resort e batia direto na areia. Casais e famílias passeavam por ali, crianças gritando enquanto corriam pelo pavimento molhado, antes de pular na água

Jennie estava ficando cada vez menor na medida que andava, mas Lisa não a seguiu, sabendo que em algum momento a praia iria acabar e ela teria que voltar. Então foi para uma das diversas espreguiçadeiras do hotel, sentando-se e encostando as costas. A madeira estava levemente molhada embaixo de seu short e blusa.

Jennie parou a mais ou menos trinta metros da loira, a praia completamente deserta a não ser pelas duas. Estava encarando a água novamente, seus braços cruzados sobre o peito. A morena arrumou o cabelo atrás da orelha antes de se virar para onde a mais alta estava deitada, seus olhos se encontraram apesar da distância.

Elas ficaram assim até Jennie se virar e ir na direção do pequeno caminho pavimentado para o quarto delas. Lisa balançou a cabeça e riu antes de se levantar, lembrando-se que a única chave do cômodo estava em seu bolso. Apressou o passo nas escadas e sorriu para um garotinho que passava. Ele retribuiu timidamente antes de pular na piscina e nadar para seu pai que estava do outro lado.

Lisa passou pela entrada que levava ao hall principal, parecido com um de uma cabana com seu teto alto e sua arquitetura balinesa. Todas as vigas e caibros eram de madeira ou de bambu.

Como Jennie disse, era incrível.

Lisa atravessou as escadas, estátuas de granito estavam posicionadas em todos os cantos do lugar. O teto se estendia por pelo menos três metros, fazendo com que parecesse mais um museu do que um resort. Ela ouviu risadas quando passou por um casal tomando coquetéis no pequeno bar do outro lado da porta principal, os dois brincando com o barman que sorria alegremente para eles. Era apenas uma curta caminhada de lá até o apartamento de um quarto que dividiam.

Lisa ficou completamente chocada quando entraram no lugar logo após o almoço, sem esperar algo extravagante depois do quarto em Hanoi. Mas Jennie simplesmente deu de ombros e entregou sua bolsa ao garoto que estava esperando na entrada do hotel e lhe disse que, surpreendentemente, custava o mesmo preço do lugar anterior, o que a chocou ainda mais. Agarrando-se ao corrimão, a loira subiu lentamente até o segundo andar do pequeno conjunto de unidades. Cada uma delas dividida em suítes tamanho família e de lua de mel, e separadas por longas fileiras de palmeiras e caminhos de pedra. Acontece que Nayeon, com toda a sua sabedoria em encontros, havia reservado uma suíte de casal para as duas, ao invés de duas simples, para o grande aborrecimento da morena. Naturalmente, ela discutiu com a equipe do hotel, mas sem sucesso, fazendo Lisa querer beijar Nayeon e admirá-la ainda mais.

Aquela mulher nunca vai parar de me impressionar.

Jennie estava esperando no topo das escadas quando chegou. Ainda estava com os braços cruzados e uma expressão indiferente no rosto. Lisa sorriu para ela, a entregando a chave e deixando que abrisse a porta como tanto queria. Ela a abriu e colocou a chave na pequena mesa perto da entrada. A loira se sentou na cama king size, os lençóis brancos gelados contra sua pele enquanto Jennie ia na direção do banheiro.

"Você quer companhia?" Lisa perguntou inocentemente, se apoiando nos cotovelos e tentando manter o sorriso longe de seu rosto. Jennie balançou a cabeça sem acreditar, escondendo o pequeno sorriso que ameaçava aparecer em seus lábios. Com um último olhar para a loira, ela tocou na porta antes de fechá-la atrás de si.

Vou considerar isso como um não.

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Ela conseguia sentir um misto de incenso e óleos de massagem enquanto música tradicional vietnamita tocava pelos alto-falantes em um canto. O sol da manhã atravessava pela janela que cobria toda a parede direita, fazendo com que brilhasse uma luz amarela por toda a madeira à sua esquerda. Ambas as garotas estavam sentadas pacientemente na sala de espera do spa, Lisa se apoiando contra o couro suave e cruzando as pernas nuas. Pelo canto de seu olho viu o olhar de Jennie se mover levemente, apenas para se voltar para a revista que folheava. Os lábios da loira se levantaram com o movimento sutil, afundando ainda mais no sofá e tomando um gole da limonada que foi posicionada em sua frente.

Mesmo tendo ido para outra cidade, Jennie ainda estava devagar com a inspiração. Lisa tinha que lembrar a si mesma que estava ali para trabalhar, e não para apenas ir em uma viagem bancada por Nayeon. Mas estava ficando cada vez mais difícil manter isso em sua mente, vendo que estava se encontrando de novo na rotina familiar de acordo com o tempo que passavam juntas. Teve que forçar si mesma a não abraçar a garota no meio da noite, não sentindo o calor dela por tantos anos. E teve que se forçar a não colocar sua mão na dela enquanto andava pela rua nessa manhã.

Merda de regras.

Ela talvez não estivesse preparada para quebrá-las na cara dura, mas isso não a impediu de tentar fazer com que Jennie fizesse o mesmo. Apoiando o queixo na palma de sua mão, Lisa voltou sua atenção para a garota ao seu lado. A observava atentamente enquanto a mão da morena apertava forte a página, mordendo seu lábio enquanto continuava a encarar.

Lisa sabia que o que estava fazendo era torturante, mas não via o sentido nessas regras. Não viu sentido três anos atrás e não via agora. Depois de todo esse tempo, ela nunca entendeu a constante hesitação da garota. Nunca entendeu o porquê de se permitir ser amada era algo tão difícil a se fazer. E talvez fosse culpa de Lisa por nunca questionar. Mas uma coisa era certa, não estava mais brincando os jogos de Jennie.

Cansei.

Ia demorar algumas horas para serem buscadas no lobby do hotel, então Lisa sugeriu que matassem o tempo no spa dali após encontrar um panfleto naquela manhã. Jennie a observou atentamente, mas Lisa fingiu inocência, dizendo que dependia completamente dela. A garota bufou, mas no final deu de ombros, indo na direção das escadas que levavam ao spa.

"Lisa e Jennie?"

"Sim?" Jennie respondeu, deixando a revista na mesa de centro e praticamente pulando do sofá. Uma mulher mais velha tinha acabado de aparecer no corredor à esquerda delas, vestindo um jaleco bege com o logo do resort no bolso. Ela parou e acenou para ambas a seguirem.

"Por aqui, por favor."

Lisa esperou Jennie ir primeiro, as duas garotas seguindo a mulher pelo corredor. Os painéis coloridos de pinheiros continuavam até o final do corredor, chegando num pequeno espaço com armários e bancos. Tinha uma cortina divisória saindo do teto, a mulher acenando para que entrassem ali.

"Tirem todas as roupas e as coloquem nos armários. Tem um roupão para vocês vestirem e chinelos para calçarem. Vou retornar assim que tiverem se trocado."

"Espera, tudo?" Lisa perguntou olhando para suas roupas. "Tipo nuas?"

"Sim, tudo." Ela assegurou. Lisa olhou para Jennie que parecia tão hesitante quanto ela. A mulher se curvou levemente e andou para o corredor, entrando em um dos diversos quartos. A loira observou antes de se virar para a garota ao seu lado.

"Isso não vai ter um final feliz, certo?"

"É um resort de cinco estrelas, Lisa."

"E?"

"Só se troca." Jennie suspirou, caminhando até a cortina mais afastada e tirando os sapatos. Lisa foi para um dos armários, uma pequena chave balançando na fechadura. Ao girar, ela olhou para dentro, notando um par de chinelos brancos macios junto com uma roupa de baixo de pano transparente. Puxando-os para fora, Lisa os segurou e mostrou para Jennie.

"Que merda é essa?"

Jennie olhou de onde estava sentada no pequeno banco, soltando uma risada que estava entre uma risada real e um suspiro, Lisa sem ter a capacidade de impedir o sorriso de aparecer em seu rosto.

"Parece que eles apenas fizeram buracos em uma rede de cabelo." Ela disse, esticando o elástico experimentalmente.

"A ideia foi sua." Jennie lembrou, levantando-se e colocando os sapatos no armário.

"Sim, mas eu não sabia que estaríamos usando calcinha descartável."

Jennie apenas balançou a cabeça e puxou o lençol fino, uma vez que pegou seu conjunto de roupas, o metal tilintando levemente. Lisa começou a se despir, erguendo a camiseta sobre a cabeça e jogando-a no chão de azulejo. Tirou o resto de suas roupas rapidamente e vestiu a calcinha questionável por baixo do roupão branco.

Quando voltou para o armário, Jennie já estava colocando suas roupas cuidadosamente dobradas no espaço ao lado dela. Estava com os olhos dentro do armário, tirando seus anéis e o bracelete de cristal que comprou em Viena. Lisa colocou sua blusa e seu short no armário, mas não pôde evitar que seus olhos vagassem pela curva do pescoço nu de Jennie e descendo em direção ao V de seu roupão. Sua pele parecia tão perfeita e macia, fazendo sua boca secar e enviando um calor familiar entre suas pernas. Lisa fechou o armário sem desviar o olhar, uma dor aguda subindo por sua mão e terminando na parte superior de seu ombro.

"Puta merda."

Lisa puxou a mão de volta, a pele de seus dedos sendo apertadas pela pequena porta de metal.

"Merecido." Murmurou Jennie, virando a chave e andando pelo corredor onde a mulher estava esperando. Lisa conseguia ouvir o humor em sua voz enquanto a seguia e entravam num quarto à esquerda. Havia duas mulheres dentro do pequeno quarto, ambas em pé ao lado de mesas de massagem e cada uma com um sorriso amigável no rosto. Fizeram um gesto para que se deitassem, levantando uma toalha da cama e segurando-a para que ficassem embaixo. Lisa, de costas para Jennie, tirou o roupão rapidamente e deslizou sob a toalha quente, de bruços.

A loira não sabia o que esperar. Nunca havia recebido uma massagem profissional na vida. Nunca nem deixou seus ex namorados e namoradas do ensino médio a tocarem quando ofereciam, pensando que seria uma passagem só de ida para debaixo de suas calças. Então, quando mãos quentes tocaram sua pele nua, ela derreteu. Teve que fazer o possível para não gemer, mordendo o lábio para abafar qualquer som que pudesse escapar. Era como o paraíso e Lisa não queria que essa sensação acabasse. Com cada golpe dos dedos da mulher afundava ainda mais. Todo pensamento escapou de sua cabeça, exceto os palavrões ocasionais apareciam a cada minuto.

Melhor. Ideia. De. Todas.

"Você poderia se virar para mim, por favor?" Lisa teve que piscar algumas vezes antes de registrar as palavras, a música suave e os movimentos da mulher fazendo-a se afastar. Estava segurando a toalha posicionada em sua pele para poder virar. A loira virou, olhando para Jennie pela primeira vez desde que entrou no lugar. Ela estava sendo reposicionada também, com um sorriso suave no rosto. Parecia estar se divertindo, mesmo ainda relutante. A morena se recostou com um sorriso, os olhos fixos no teto.

Dedos firmes passaram por sua nuca, massageando-a em círculos pequenos, fazendo com que seus olhos se fechassem e a levando para a escuridão. Era tão calmante. O som de água caindo foi de encontro com seus ouvidos misturado com o murmúrio suave das duas mulheres conversando. Os dedos logo se moveram para seu pescoço, chegando até em seu couro cabeludo.

Como se nunca tivéssemos dito adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora