4 de maio de 2016

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Três segundos.

Três semanas.

Três anos.

Foi o tempo que levou.

Para eu me apaixonar por ela.

Para admitir a mim mesma.

E então para admitir a ela.

Três longos anos e eu sabia após apenas três segundos.

Mas quando você tem dezenove anos, três segundos podem mudar a sua vida.

E Lisa certamente mudou a minha.

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O agudo som dos trens foi de encontro com seus ouvidos enquanto se aconchegava no calor de sua jaqueta. Podia sentir o metal gelado das moedas em seu bolso, pegando algumas e colocando no balcão. Cumprimentou o atendente com um sorriso, ele a entregando um copo para viagem.

"Merci." Ela murmurou, pegando-o de bom grado. Indo para sua esquerda, lentamente colocou um pacote de açúcar nele, seus olhos nos trens e na plataforma lotada ao seu redor. A conversa dos outros viajantes ecoava pelo espaço, crianças de todas as idades correndo pelo lugar enquanto seus pais liam jornais e checavam sua bagagem. Paris estava a quase nove mil quilômetros de distância de Seoul, mas era aqui que Jennie mais se sentia em casa; no meio do barulho e da estranheza de uma cidade nova. Na simplicidade de não saber onde estaria amanhã ou de quem conheceria. Ou apenas na maneira que fechava os olhos e era como se o tempo tivesse parado, enquanto o resto do mundo acelerava.

Isso parece como lar para mim.

New York nunca pareceu certo, mesmo se tivesse sido sua casa por um tempo. Era apenas um lugar entre tantos outros. E mesmo se não tivesse morado na Coreia por alguns anos, sua mente sempre ia para lá quando pensava na ideia convencional de lar. Cresceu lá e foi onde sua paixão em ir embora começou; debaixo dos cobertores da cama de solteiro com uma lanterna e um livro antigo que havia pegado da biblioteca naquela semana. Quando seus olhos estavam nas palavras do conto de fadas do dia ou numa linda escapada que parecia se alongar para sempre, seus ouvidos não escutavam nada além daquela cama. Não escutavam os gritos ou o vidro sendo quebrado. Estava sozinha em seu mundo e nada podia machucá-la.

Pelo menos não no sentido físico.

Jennie tirou esses pensamentos da mente e levou o café fresco aos lábios, dando um gole generoso. O aroma forte a inundou, esvaziando seus pensamentos e relaxando seus ombros tensos consideravelmente. Foi na direção do banco mais próximo, a madeira quente contra sua palma e sua mochila pesando em seu ombro. Observou a multidão por um momento, dando mais um gole e prestando atenção na hora.

Quatorze minutos.

Abrindo um dos pequenos compartimentos de sua mochila, Jennie pegou o desgastado guia de viagens, indo para a página marcada e continuou a ler sobre as ruas pavimentadas e os canais estreitos de Veneza; os lugares para ir e a cultura. As imagens que apareceram em sua mente só fizeram com que quisesse embarcar no trem ainda mais, a garota ansiosa para começar algo que havia sonhado desde quando era uma criança com uma lanterna. E desde que recebeu a ligação.

Aquela que mudou tudo.

A morena mordeu a parte de dentro de sua bochecha gentilmente enquanto olhava de volta para dentro da mochila aberta, seus olhos indo para seu diário descansando ali. Esticou uma mão, seus dedos passando pela lombada que deixava as páginas juntas, as que estavam cheias de seus pensamentos e medos, seu coração parecendo mais pesado com o simples toque. Sempre levava o diário com ela, ou um parecido. Quando tudo parecia demais, sempre foi fácil apenas começar uma página nova e escrever as palavras agoniantes para que não a pressionassem mais; a sufocando. Mas ao invés disso, estavam seguras por trás da capa de couro onde ninguém conseguia vê-las.

Como se nunca tivéssemos dito adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora