De um sussurro para um grito

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Suas pálpebras estavam pesadas, ardendo com suas tentativas de abrí-las. A luz forte vinda da janela forçou Lisa a fechá-las, estremecendo quando a ação enviou uma dor atrás de seus olhos. Seu corpo inteiro parecia morto e seus músculos doíam quando levantava o braço para se proteger da luz invasiva do sol. Ela engoliu em seco, memórias da noite anterior voltando em flashes.

O teatro lotado.

Jennie me encarando.

A rua com luz neon rosa e as mulheres atrás do vidro.

Jennie correndo atrás de mim.

O café e o pequeno sofá vermelho.

Jennie.

Seus lábios.

Seus olhos.

A centímetros de mim.

Mas tudo isso foi rodeado por uma neblina grossa que borrava certos detalhes e a fez questionar a validade de algumas memórias. Uma coisa que lembrava era a sensação de calor e eletricidade, e depois de um ar gelado e luzes da rua. Essa memória a confundia pois não vinha com imagens, somente uma intensa, porém distante sensação. Quanto mais pensava sobre, mais forte ficava a dor atrás de seus olhos.

Que merda eu fumei ontem à noite?

Pegando um travesseiro, ela rolou em protesto, mas foi de encontro com algo sólido e caloroso. Ela cegamente levantou a mão e a passou pela pele macia, ouvindo um leve suspiro vindo de cima dela. Lisa abriu os olhos e fixou o olhar em coxas suaves e longas pernas cruzadas nos tornozelos. Retirando sua mão, voltou os olhos para o pequeno short de pijama que aflorava sua imaginação, e em seguida para um par de olhos castanhos.

Eu poderia me acostumar com isso.

"Bom dia, colega de quarto." Jennie disse de seu lugar na cama de Lisa, suas costas descansando contra a cabeceira. Ela segurava uma xícara em suas mãos enquanto sorria para a loira.

"Tinha esquecido que você acorda cedo." Lisa reclamou, se espreguiçando e deitando de volta na cama. "Espera aí, você estava me observando dormir?"

"Claro que não." Ela disse, antes de deixar o olhar cair e tossir levemente. "Hum, se por observar, você quer dizer mexer em você a cada minuto para ter certeza que ainda está viva, então sim." Ela completou nervosamente, levando a xícara para os lábios. "Café?"

"Não obrigada, o cheiro não faz bem para o meu estômago." Lisa respondeu, deixando de lado a resposta estranha da garota. Se virou e colocou o travesseiro embaixo do queixo antes de olhar de volta para a morena e continuar. "Na verdade, me lembra do meu pai." Murmurou, a voz abafada pelo travesseiro. A garota olhou confusa para ela, mas suas sobrancelhas suavizaram após um momento.

Não era tão importante e o cheiro não era repulsivo. Era apenas uma associação que lembrava seu pai. De quando ficava até tarde em seu escritório com a porta fechada, revisando papéis, xícara após xícara. Ela se lembrava de abrir a grande porta de madeira quando era pequena e pedir para ele ler para ela, ou colocá-la na cama. Mas sempre ia de encontro com a mesma rejeição, o mesmo 'em um minuto' ou 'pede para sua mãe'. No fim das contas era sempre Bambam, seu irmão mais velho, que a dava um beijo de boa noite, porque nem mesmo sua própria mãe podia tirar um minuto de sua vida para dá-la atenção.

Então, para Lisa, era o cheiro de café e do doce perfume de sua mãe que trazia lembranças de sua infância.

Agora esse último era repulsivo para ela.

"É o mesmo comigo e uísque." Jennie disse, trazendo Lisa de volta de seu devaneio. Ela a olhou com simpatia e bebeu outro gole antes de colocar a xícara no criado mudo e longe de Lisa. Os olhos de Jennie ficaram distantes, seus dedos brincando com a barra de seu short. A loira a observou por um momento, tentando ler a expressão em seu rosto; podia praticamente ver as engrenagens rodando.

Como se nunca tivéssemos dito adeus Onde histórias criam vida. Descubra agora