Capítulo Dois

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Graças aos céus mudei de ideia na última hora e resolvi vir com meus chinelos. Se tivesse vindo de All star, seria uma catástrofe total tentar andar na areia.

Abro minha mochila e puxo a toalha que está no fundo. Estendo-a na areia e me sento.

Apesar da praia sempre estar cheia nos finais de semana, hoje ela estava tranquila.

Começo a observar a maneira como as ondam se encontram e só paro quando vejo um garoto me observando.

Ele parecia familiar.

— Ei! Acho que te conheço. Você estuda no meu colégio. — digo surpresa. Não tinha ideia de qual era o nome daquele garoto, mas eu o conhecia.

— Eu sabia que te conhecia de algum lugar quando te vi cantando. — ele diz rindo.

Olho para ele sem entender.

— Como assim cantando? — pergunto.

— Há pouco tempo atrás, no carro. Eu era o motoqueiro ao seu lado.

Fito seus olhos por alguns segundos e o reconheço.

— Meu Deus! Que vergonha. — cubro meu rosto com as mãos.

— Tudo bem. Foi engraçado ver sua empolgação. — ele ri.

Sorrio para ele.

— Meu nome é Liam. — ele estende a mão.

— Chloe. — aperto sua mão. — Quer se sentar?

— Claro. — ele diz e se senta na toalha comigo.

Fico reparando em suas botas de couro.

— Muita coragem vir com elas para praia. — franzo a testa sem perceber.

— Já estou arrependido. — ele ri. — Você é bem expressiva, sabia?

— Me dizem isso com frequência. — respondo.

— Bem, o que te trouxe ao litoral?

Dou um suspiro.

— Vim tentar esquecer uns problemas. — me surpreendo com a franqueza que acabei respondendo sua pergunta. — E você?

— Vim para aproveitar o dia. — ele dá de ombros.

— É impressionante. Estudamos no mesmo lugar, e nunca nos falamos. E por um motivo aleatório nos encontramos no mesmo lugar. — digo tentando manter o assunto.

Mas por que diabos eu estava tentando manter o assunto com uma pessoa que mal conheço?

— E olha que nos encontramos no trânsito também. — ele diz.

— Muita coincidência.

— Não acredito em coincidências. — ele diz com simplicidade.

— Sério? Por que não? — me viro curiosa para ele.

— Não sei. Apenas acho que as coisas acontecem por algum motivo. — ele diz dando de ombros.

— Então você acha que nos encontramos por algum motivo? — pergunto.

— Sim. Não sei qual. Mas acredito que haja um motivo. — Liam responde sorrindo.

— Sinto muito discordar, mas não acredito nisso. — digo enfaticamente.

— Gosto de pessoas que pensam diferentes. — ele sorri. — E por que você não acredita?

— Apenas não acredito nisso. Nem em destino. Nem em amor à primeira vista. É bobeira.

Ele sorri.

— E por que não?

— Porque é ridículo. — dou de ombros.

Ele solta uma risada gostosa.

— Bem difícil você.

— Bastante. — sorrio. — Erick vive dizendo que...

Minha voz morre aos poucos.

— Tem algo errado? — Liam pergunta preocupado.

— Nada. É só que eu não devia ter falado isso.

— Provavelmente porque ele foi o motivo de você estar aqui, não é? — ele pergunta astutamente.

— Você é bom. Devia ser investigador. — dou uma risada.

— Eu não vou embora tão cedo hoje. Se quiser conversar sobre isso, talvez você melhore um pouco. — ele diz amigavelmente.

— Seria meio falta de senso encher sua cabeça com meus problemas, visto que acabamos de nos conhecer.

— Eu não me importo. — ele diz sorrindo.

Por algum motivo, sua presença me tranquiliza e me deixa a vontade.

— Acho que não é uma boa ideia.

Ele me olha com gentileza.

— Você está certa. — ele sorri. — Eu sou um estranho.

Sorrio.

— Não é isso. Quer dizer, é como se algo dentro de mim pedisse para que eu te conte, mas não é uma história legal. — digo em voz baixa.

Liam me olha assustado.

— É algo grave? — seus olhos me analisam.

Suspiro.

— Eu tinha um namorado. Terminei com ele ontem. E bem, digamos que a situação não era uma das melhores.

Respiro fundo mais uma vez, e despejo tudo que estava sentindo.

Conto desde as crises de ciúmes infundadas, até as ameaças.

Quando termino meu relato, entrelaço minhas mãos, uma na outra, constatando que estavam geladas.

Liam me olha aturdido, como se não acreditasse nas coisas que eu tinha acabado de contar.

— Você nunca contou isso para ninguém? — ele pergunta baixinho.

Balanço a cabeça, negando.

— Chloe, você precisa falar com alguém. Esse cara fodendo com seu psicológico. Algo precisa ser feito.

— Eu voltei a fazer terapia. Há muito tempo não fazia, porque estava tudo bem. Só que de um segundo para o outro, tudo desandou. — sinto minha respiração ficar pesada.

— Ei! Você está se sentindo bem? — ele segura meu queixo, me fazendo olhá-lo.

Sinto um calor percorrer meu corpo, e me assusto com isso.

— Sim. Estou bem. — digo limpando uma lágrima solitária no canto do meu olho.

— Fique aqui! Vou buscar algo para você. Não sai daqui, okay?

Balanço a cabeça afirmando.

Ele saiu andando levantando areia com suas botas.

Aproveito que Liam saiu, e deixo que as lágrimas rolem.

Mas naquele momento, encarando o mar, eu me sentia em paz.

Apenas um dia no litoral - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora