[VI] - Sinfonia Nº 9

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James despertava de uma noite tranquila e bem dormida, apesar do ocorrido no dia anterior. No horizonte conseguia ver o sol que estava a nascer. Levantou-se, foi até o riacho lavou o rosto e bebeu um pouco da água que corria sem parar. O ferimento feito pelo pequeno demônio, ainda queimava como o fogo do inferno. Mas, James precisava explorar a ilha, buscar por alimentos e descobrir o que mais rondava por ali.

Pegou sua lança e seguiu pelo mesmo caminho do dia anterior, passando, por bananeiras e coqueiros. Separava no chão algumas frutas amontoadas, para que na volta às levasse até seu pequeno abrigo. Na trilha desviou por um caminho secundário a fim de evitar o lugar, onde havia visto a garotinha e a rosa. Seguiu por mais 400 ou 500 metros em meio a vegetação nativa da ilha sem muita dificuldade. Encontrou um pequeno lago com água cristalina. Onde pode ver peixes que pareciam bem saborosos. Preparou então a lança para tentar capturar um peixe, quando veio em sua mente a imagem da mesma lança perfurando a carne fétida e podre, de um ser demoníaco que havia tentado o matar. Desistiu.

Seguiu, andava sempre atento, prestava atenção em cada passo. Não queria encontrar mais nada igual ao que havia encontrado. Caminhou por mais alguns poucos minutos e viu em meio às arvores, o que parecia ser um homem desacordado. Sua roupa era militar, James então se aproximou lentamente, com receio do que iria acontecer. Indeciso, tomou coragem para se revelar.

- Olá... Acorde. – Falou com a voz embargada pelo medo.

O homem não respondeu, James tentou mais uma vez, nada. Aproximou-se ainda mais e agora estava perto o suficiente para ver que havia um ferimento de bala na cabeça do soldado. James se assustou nada naquela ilha fazia sentido, talvez fosse tudo fruto de sua imaginação. Um sonho... Estava em coma... Talvez estivesse morto. Pensava em tudo que ocorria de estranho quando pode escutar um grito horripilante a cima de um penhasco não muito longe de onde ele estava. Apressou-se, pegou do soldado. Uma faca de caça em sua cintura, uma mochila e a arma que ele carregava. Com pressa, começou a sair, quando novamente voltou, pedindo perdão, tirou do cadáver, suas botas e seu casaco.

Voltava a passos largos pelo caminho em que havia quebrado galhos, passou pelo lago com os peixes e após se certificar que era seguro. Se pós a fazer uma nova lança. Com a faca afiou a ponta de um galho longo e firme e ao concluir. Posicionou-se lentamente próximo ao lago para testar sua nova arma. Torcendo para que não houvesse esquecido como se fazia. Um belo peixe flutuava tranquilo quando James estocou a lança e a água cristalina se manchou com a cor do sangue. Ele havia conseguido, comemorava, quando pode perceber uma musica. Em algum lugar em cima daquele penhasco, tocava uma bela melodia. James tinha conhecimento suficiente para saber que era a parte final da Nona Sinfonia de Beethoven.

Talvez ainda houvesse esperança. Olhava por entre as copas das arvores, tentando encontrar alguma forma de subir a parede de pedra. A musica seguia tocando, quando James sentiu as primeiras gotas de chuva em sua pele. Olhou para o céu e pode perceber que uma tempestade viria. Rapidamente, pegou o peixe, enrolou em uma folha de bananeira e apressadamente retornou para a praia, colhendo as frutas deixadas no caminho e colocando dentro da mochila. No resto do caminho em que devia percorrer, colheu mais alguns pedaços de lenha. Pois tudo indicava que hoje a noite seria longa e fria.

Quando chegou até a pequena caverna, a chuva já estava ganhando força. Rapidamente acendeu a fogueira com um pouco de carvão que havia restado e tirou suas roupas para que secassem próximas ao calor.

Sentou novamente próximo a fogueira, o som dos trovões e a luz dos relâmpagos, trazia um sentimento ruim. Começou então a verificar o que havia conseguido. Além da faca e do Revolver Colt Python, após retirar todas as frutas, encontrou na mochila: uma caixa de munição, algumas barras de ração militar, um binóculo, um cantil e mais alguns itens pessoais do soldado morto. Seu estomago clamou por comida, pegou alguns galhos e com a faca fez um espeto e dois ganchos, serviriam para assar o pescado. Limpou o peixe enquanto comia um mamão não tão maduro.

Tudo corria bem, James nunca havia comido algo tão bom, talvez pelo fato de que a mais de dois dias não comia nada além de frutas. Aquele peixe, mesmo que sem tempero, estava saboroso. Ficou satisfeito, havia sobrado ainda, um pouco mais da metade do pescado, enrolou a sobra novamente na folha verde de bananeira. Aproveitou que a tempestade diminuía foi até o riacho e tomou alguns goles da água e encheu o cantil após lavar. Lavou mais uma vez os machucados em seu corpo, a dor já começava a deixa-lo em paz. Voltou para o abrigo, abasteceu com lenha a fogueira, fez da mochila um travesseiro e adormeceu.

James estava no seu camarote no luxuoso Wolf, uma tempestade assolava a embarcação e na escotilha ele via os raios rasgando o céu negro. Estava bêbado, mal parava em pé, quando ouviu Stefanie bater na porta. Levantou-se com dificuldade, ao abrir a viu dilacerada, arranhões por toda parte, faltavam tufos dos seus belos cabelos.

- Por que você me abandonou James? – Ela perguntou chorando, enquanto sangue escorria de suas têmporas.

- O que você esta dizendo Stefanie... Eu... Eu não te abandonei... – Rebateu assustado - O que aconteceu com você?

- Você disse que ia me proteger James! Você prometeu! – Ela olhava para ele com o rosto surrado. – Eu te amo James, me aju...

Ela começa a gritar sendo arrastada pelo chão do veleiro. James embriagado tenta segurar em suas mãos, mas não alcança, corre com dificuldade tentando alcança-la. Algo está a puxando para a cozinha. A porta da cozinha se fecha com um estrondo assustador, aprisionando a mulher que ele amava...

O estrondo de um trovão ecoa pela ilha e James acorda assustado. A tempestade agora estava mais forte. A fogueira quase apagada exalava uma luz fraca produzida pelas brasas, James colocou mais lenha e o vento que entrava pela abertura da pequena caverna tratou de atiçar o fogo. Agora James não mais voltaria a dormir. Passou o resto da madrugada, planejando como explorar a ilha quando o sol finalmente nascesse.

Chaos - A Ilha Maldita.Onde histórias criam vida. Descubra agora