6- Estava gostando

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O melhor amigo... Talvez eu estivesse no caminho certo sendo a amiga de Rose, ou talvez eu estivesse fantasiando de mais...

Ela se abria comigo como se fôssemos amigas de longa data, e eu conseguia conversar com ela com uma facilidade que eu não conseguia entender. Logo eu, que sempre tive dificuldade em dialogar com as pessoas.

Era bom ter alguém para conversar, para me fazer companhia. Era bom tê-la como amiga. Por mais que no fundo eu sentisse algo mais forte do que apenas amizade. Eu não seria capaz de estragar aquela relação. Eu me sentia tão bem ao lado dela que não conseguia me imaginar sozinha de novo.

Nós conversamos tanto naquela noite, ela me falava sobre a sua família, sobre a sua infância e ela tinha tantas histórias que eu ficava realmente surpresa com o quanto ela já havia vivido.

Eu me sentia meio morta quando parava para pensar sobre isso. Como se não estivesse aproveitando a minha juventude, enquanto ela me contava suas histórias eu pensava "o que eu fiz durante todos esses anos?" E a resposta era simples: Nada

Ela me ajudou a cozinhar, enquanto conversavamos, abri uma garrafa de vinho.

Eu percebi que o líquido em minha taça ia diminuindo, mas o de Rose não. Ela nem tocava na bebida. Eu cheguei a oferecer outra coisa para ela, disse que poderíamos pegar algo no bar lá em baixo e que depois eu pagaria mas ela recusou a oferta. Disse que amava tomar vinho... Mas continuou sem beber.

Eu achei melhor não incistir, não queria passar a impressão errada. Se ela não queria beber era melhor assim.

Fizemos um frango assado e o cheiro estava maravilhoso. Eu nunca fui boa cozinheira, mas naquela noite eu segui passo a passo da receita para tentar impressionar Rose, eu sabia que conseguiria.

Quando nos sentamos na mesa para o jantar eu não fazia outra coisa se não olhar para ela.

Ela não parecia estar com fome, em seu prato quase não tinha comida, eu não questionei. Comecei a comer em meio a nossa conversa, ela falava bastante, mas não tocava na comida. Estava como o vinho, na mesa como um tipo de enfeite.

-A comida vai esfriar... - brinquei vendo que eu já estava na metade do prato e seus talheres estavam limpos ainda.

Ela olhou para a mesa e respirou fundo como se não quisesse comer.

-Eu juro que não vou te envenenar. - Dei risada enquanto olhava sua cara preocupada - Eu juro que não cozinho tão ruim assim...

-Não acho que cozinhe mal - Ela estendeu a mão segurando a minha por cima da mesa

-Posso te contar um segredo? - Sussurrei para ela

-Claro - Ela se inclinou ficando mais próxima de mim

-Eu cozinho mal... Mas dessa vez eu dei uma caprichada...

-Alguma razão especial?

-Bom... Eu tenho uma convidada especial hoje.

Ela sorriu para mim pouco antes de pegar os talheres e começar a comer.

Eu não entendi o motivo para ela estar tão relutante em jantar comigo, eu via em seus olhos que ela queria ficar comigo mas ao mesmo tempo a sentia meio distante.

Ainda estávamos comendo quando percebi a mudança em Rose. Ela estava bem mais pálida que o normal, eu via suas mãos tremendo, ela ficou em silêncio olhando para baixo e aquilo estava começando a me preocupar.

-Rose, você está bem? - Eu segurei em sua mão demonstrando preocupação e aquilo só piorou tudo, ela estava tão gelada, parecia que estava morta

-Estou... - Ela respondeu depois de um tempo em silêncio forçando um sorriso nada convincente - Onde fica o banheiro? - Ela perguntou já se levantando

-Ali - Apontei para a porta no corredor que daria para o quarto

Ela me lançou outro sorriso antes de entrar, como se me dissesse que estava tudo bem.

Eu esperei por um tempo sentada na mesa, mas aquela demora estava me deixando realmente preocupada.

Levantei então, seguindo para o banheiro, parei na porta e eu podia ouvi-la vomitando.

-Rose... - Chamei encostada na porta tentada a entrar

Ela não respondia, eu só podia ouvi-la passando mal.

Eu confesso que me senti culpada, por de certo modo força-la a comer. Era óbvio que ela não queria... Ela o fez para me agradar, mas eu realmente não esperava que ela passasse mal daquela forma.

Ouvi outro barulho alto vindo dela e aquilo só me deixou mais preocupada.

Eu não aguentava mais esperar, quando dei por mim já estava com as mãos na maçaneta abrindo a porta do banheiro.

Eu não saberia explicar a cena que vi, Rose estava ajoelhada no chão e assim que me viu foi como se voasse em cima do vaso apertando o botão da descarga.

No vaso, seu vômito era escuro, eu logo pensei que ela estivesse doente e vomitando sangue.

Acho que seria impossível eu ficar mais preocupada...

-Você quer que eu te leve no hospital? Eu posso pedir o carro do vizinho emprestado e...

-Eu estou bem, só enjoada... - Disse ela tentando limpar a boca e foi com esse movimento que pude ver que ela estava machucada.

-O que houve? - Abaixei rapidamente me juntando a ela no chão

-Eu escorreguei, não é nada de mais - Disse cobrindo o machucado em seu pulso com a mão.

A ferida estava aberta, mas o sangue não escorria como deveria, na verdade ele parecia grosso, como se tivesse coagulado.

-Posso fazer um curativo...

-Não se preocupe. - Disse ela se levantando e arrumando suas roupas

-Eu te dei um tipo de intoxicação alimentar... Acho que o mínimo que eu posso fazer é pegar um curativo pra você... - Abaixei a cabeça, aquela situação realmente havia me deixado mal

-Não é culpa sua, eu já estava passando mal, desde que acordei, eu deveria ter avisado... - Disse estendendo a mão para me ajudar a levantar - E não se preocupe, foi um cortezinho bem superficial. Eu vou sobreviver - Brincou enquanto me acompanhava para fora do banheiro

-Ainda posso te levar pro hospital se quiser

-Eu não vou estregar o resto da sua noite. Por mais que eu ache que eu já tenha estragado... - Ela desviou o olhar rapidamente

-De modo algum, foi uma noite incrível. Só fiquei preocupada com você

-Você precisa se preocupar menos - Ela deu um passo na minha direção - E viver mais... - Sua aproximação foi quase em câmera lenta, e o meu coração batia tão rápido que eu achava que ela poderia escutar, seus lábios se encontrar com os meus num beijo rápido e gentil.

Quando ela se afastou eu pude ver um sorriso no canto de seus lábios.

-Espero que isso compense por eu ter arruinado o jantar - Ela sorrio antes de ir em direção a porta

Aquela mulher ia embora e levava o pouco de sanidade que ainda tinha em mim, ela abriu a porta e me olhou por cima do ombro

-Boa noite, Amy...

E então a porta ia se fechando e eu ali parada no meio da sala sem conseguir respirar direito.

Eu não estava entendendo nada do que havia acontecido. Mas sabia que havia gostado...

The BiteOnde histórias criam vida. Descubra agora